Segundo a mitologia grega, a Esfinge de Tebas costumava observar viajantes e surpreendê-los com um enigma: "Decifra-me ou te devoro". Restava ao turista encontrar a resposta ou pagar a prenda com a própria vida. As semifinais da Libertadores estão definidas. Fluminense, Internacional, Boca Juniors e Palmeiras são os candidatos ao título. Cada time tem uma mente misteriosa à beira do campo com planos táticos mirabolantes em busca da classificação rumo à final única marcada para 4 de novembro, no Maracanã. Quem não desvendá-los nas semifinais marcadas para 26 e 27 de setembro e 3 e 4 de outubro ficará pelo caminho na expedição rumo à Glória Eterna.
Uma das esfinges é Fernando Diniz. Mentor da volta do Fluminense às semifinais após 15 anos, o técnico compartilhado com CBF usou quatro sistemas de jogo diferentes da fase de grupos até as quartas de final. O único candidato ao título inédito entre os classificados tem preferência pelo modelo 4-2-3-1, porém o tricolor é um camaleão.
Diniz alcança a semifinal da Libertadores pela primeira vez com uma caixinha de maldades repleta de truques. O Fluminense se exibiu, por exemplo, no sistema 4-4-2 nessa campanha, mas também entrou em campo todo trabalhado na beleza do 4-3-3 e do 4-1-3-2 na primeira vitória contra o Olimpia, no Rio, pelas quartas de final. O treinador surpreendeu ao colocar John Kennedy em campo e tornou a trupe das Laranjeiras ainda mais ofensiva.
O treinador repetiu a fórmula, ontem, no Defensores del Chaco, em Assunção, e voltou a derrotar o Olimpia: 3 x 1. Suportou a pressão inicial do time paraguaio nas bolas alçadas na área e explorou o contra-ataque. Em um deles, justamente John Kennedy, inaugurou o placar, abriu 3 x 0 no agregado e baixou a temperatura do confronto no Paraguai.
O Olimpia empatou com Facundo Zabala no segundo tempo e empolgou a torcida quando o jogo parou para os responsáveis pelo VAR avaliarem possível pênalti. Não houve. Com um jogador a mais depois da expulsão do atacante Fernando Cardozo, o Fluminense teve paciência para aguardar o contra-ataque. Cano balançou a rede duas vezes, fechou o placar por 5 x 1 no agregado e virou artilheiro isolado com nove gols.
Concorrentes
Eduardo Coudet é outra mente acelerada. O argentino sucedeu Mano Menezes no Inter. Tem apenas 10 jogos à frente do time colorado. Tempo suficiente para montar a equipe em quatro versões diferentes. Enfrentou o River Plate na ida, no 4-4-2, apostou no 4-2-3-1 na virada épica no Beira-Rio, em Porto Alegre, mas continuou inquieto.
A vitória inédita na altitude de 3.600m de La Paz, capital da Bolívia, contra o temido Bolívar, foi configurada com cautela. O time jogou no modelo 5-3-2 e contou com um lançamento de Alan Patrick para Valencia decretar a vantagem por 1 x 0. Na partida de volta, o "chacho" administrou a vantagem no 4-2-3-1 e despachou o Bolívar por 3 x 0.
Cabeça fria...
A outra semi opõe pensadores com expertise em final da Libertadores. Abel Ferreira levou o Palmeiras ao título em 2020 e em 2021. Tri do torneio, o clube paulista pode se tornar o primeiro clube brasileiro a ostentar quatro estrelas. Há um desafio e tanto pela frente. O lusitano perdeu o ídolo Dudu, mas sacou um novo formato.
Abel Ferreira usou dois sistemas táticos na fase de grupos. Começou no 4-3-3, alternou o modelo para o 4-2-3-1 e surpreendeu o Deportivo Pereira ao arquitetar o Alviverde no 3-5-2 na primeira exibição sem Dudu. Autor do livro "Cabeça fria, Coração quente", o português goleou o time colombiano na partida de ida por 4 x 0 usando um recurso do guardiolismo: dois laterais no setor direito. Marcos Rocha preso à marcação e Mayke no papel de ponta infernizaram os rivais. Com essa solução e a contusão de Dudu, abriu-se uma porta para a volta de Arthur ao time titular. Breno Lopes, Flaco López e o brasiliense Endrick são outras opções.
Jorge Almirón é outra esfinge das semifinais. Especialista em decifrar adversários como Cuca e Renato Gaúcho nas decisões de 2020 e 2021, Abel Ferreira terá de lidar com as nuances táticas do treinador responsável por uma proeza: Almirón levou o Lanús à final de 2017. Perdeu o título para o Grêmio, porém turbinou o currículo.
O mentor do Boca Juniors não se constrange ao montar o time de acordo com o adversário. O time xeneize se exibiu no 4-3-3, usou o 4-4-2, apostou no 5-4-1 na ida contra o Racing e eliminou o concorrente na decisão por pênaltis no El Cilindro organizado no 5-3-2. Há um alerta ao Palmeiras: nos últimos sete duelos de mata-mata pela Libertadores, o Boca empatou sete por 0 x 0 e um por 2 x 2. Portanto, um time especialista em amarrar partidas eliminatórias.