Quando uma referência se vai, a dor do adeus reverbera de maneira intensa dentro de qualquer comunidade. Desde a madrugada de ontem, com a confirmação da morte da ex-central Walewska Oliveira, 43 anos, o mundo do vôlei entrou em uma espiral de inconformismo e tristeza pela partida precoce e repentina não só da campeã olímpica de Pequim-2008, mas, principalmente, da personalidade admirada dentro e fora das quadras do esporte. Unidos no mesmo sentimento, jogadores, clubes, treinadores e Seleção Brasileira intensificaram a onda de comoção provocada pela despedida.
Walewska partiu de maneira inesperada, na noite de quinta-feira, em São Paulo. Dias antes da morte, a ex-atleta esbanjava energia nas aparições públicas para divulgar o lançamento da biografia Outras Redes. O livro sobre a trajetória pessoal era o pontapé de um reinício, um ano após a aposentadoria das quadras. Os mais de 30 anos no esporte de alto rendimento, encerrados em 2022, deram à ex-central não apenas as dezenas de títulos com as camisas de vários clubes e da Seleção Brasileira. A trajetória vencedora se misturava com a personalidade admirável, responsável por provocar tamanha comoção no adeus.
A morte de Wal ocorreu horas antes da partida do Brasil contra a Turquia, no Pré-Olímpico de Vôlei. Era dia em Tóquio, no Japão, quando as jogadoras e a comissão técnica receberam com incredulidade a notícia do falecimento. Duas semanas antes, houve encontro com a equipe, em Barueri (SP). A mineira estava aposentada do time principal, por opção própria, desde 2012 e não dividiu quadra com boa parte do atual elenco. O fato, no entanto, não diminuiu a relevância dela perante ao elenco. Parceira de clube no Campinas no início da carreira, Rosamaria a definiu como o primeiro exemplo de atleta. A consideração é uníssona no grupo.
Toda a admiração provocou uma singela homenagem, mesmo com pouco tempo para isso. As jogadoras produziram uma braçadeira artesanal. A faixa branca com a letra W, o número 1 e um coração traduziam a dor brasileira em quadra. "Ela era excepcional. Todo técnico, toda comissão gostaria de ter uma atleta como ela. Madura, tranquila, mas com uma vontade de fazer e realizar as coisas incrível. A gente fica sem chão. A gente perde a noção de muita coisa. Eu perdi uma filha. Eu perdi uma filha. É muito duro. É um momento para nós muito difícil", lamentou Zé Roberto, técnico de Walewska em uma das conquistas de medalha olímpica.
"Está doendo muito. Sabíamos que tínhamos que disputar esse jogo, nos juntamos e deixamos para chorar depois da partida. Foi difícil conter as lágrimas na nossa oração de pré-jogo. Temos mais dois jogos importantes para a classificação e, hoje (ontem), deixamos a desejar em algumas situações. Agora, vamos sentir esse luto. Quando cheguei na Seleção, a Wal era uma das mais experientes. Aprendi muito com a postura dela. Foi um espelho pela educação, o charme e a resiliência. Ela representou o Brasil lindamente. O esporte perde um grande ícone, uma representante de muito amor pelo voleibol", acrescentou Thaisa.
O sentimento de comoção foi muito além do Japão e da atual geração do vôlei brasileiro. Ícones como Nalbert, Bernardinho, Fabiana, Gabi, Sheilla, Ana Moser e outros ressaltaram as qualidades de Walewska e o sofrimento com o adeus precoce da ex-atleta (leia no quadro abaixo). "O mundo do vôlei, o Brasil e a família: está todo mundo desesperado, de luto e sofrendo. Ainda bem que tive tempo de dizer para você olhando nos seus olhos o quanto eu a admirava", ressaltou a brasiliense Paula Pequeno.
Neste sábado (23/9), Walewska terá a última despedida. O velório começará às 6h, enquanto o sepultamento está marcado para 10h, no cemitério Bosque da Esperança, em Belo Horizonte, a cidade natal da ex-atleta. A dor e a comoção pela morte precoce de uma jogadora com status de referência no vôlei brasileiro, porém, permanecem e vão reverberar por muito tempo. Frutos do respeito adquirido nos tantos anos de serviços prestados à modalidade no país e, principalmente, pela marca deixada pela central na vida de quem dividiu as quadras e gerou sentimento de idolatria.
Outros depoimentos
“Tenho certeza que ela deixa um legado, uma história grandiosa; das maiores que o nosso voleibol e o nosso esporte já tiveram. Não digo só do ponto de vista de talento e resultados, mas de postura, conduta. Isso sempre foi a marca registrada dela”
Nalbert, campeão olímpico
“Walzinha, você sempre foi um exemplo para mim dentro e fora das quadras. Dor é grande demais. Agora, o luto é diferente, é pela sua partida precoce. Força para toda sua família e amigos. Descanse em paz”
Sheilla Castro, bicampeã olímpica
“Estou despedaçada. Quando comecei no vôlei, meus dois ídolos eram Gustavo e a Wal. Ela era uma heroína sem capa para mim. Mineira, atleticana e central. Está doendo muito, ainda estou tentando entender, digerir e acreditar, que você nos deixou muito cedo, com tanto para produzir e inspirar. Eu sinto imensamente por sua família, seus fãs, e por nós, que convivemos quase que uma vida inteira com você”
Fabiana, bicampeã olímpica
“Você vai muito cedo, tinha muita elegância para espalhar fora das quadras também. Se você estava em sofrimento, agora passou e você já está nos braços do Pai mas se for algo diferente disso, o universo nos mostrará e mesmo assim você estará ao lado de Deus. Tenha paz eterna! Obrigada por fazer parte de toda a nossa história”
Paula Pequeno, bicampeã olímpica
“Walewska era uma jogadora especial. Sua trajetória no esporte será para sempre lembrada e reverenciada. Neste momento tão difícil, a CBV se solidariza com a família e os amigos desta grande jogadora”
Radamés Lattari, presidente da CBV
“Uma guerreira, gentil e inteligente. Dedicada aos times, sempre com um sorriso. Grande perda para nós, muito maior para a família. Meus sinceros sentimentos, muita oração e força para acalmar a dor. Wal era luz, doçura, só trazia coisas boas. Não dá nem para dizer o quanto foi determinante por onde passou. Saudades e muita tristeza"
Ana Moser, ex-Ministra do Esporte
“Uma menina que eu vi se transformar em uma mulher incrível. Uma pessoa com uma energia lá em cima, dentro de quadra, uma guerreira, amiga. Sempre demonstrou um carinho enorme com todos, aquele abraço que acolhia a todos. Uma aspirante que se tornou uma campeã. Participei da transformação daquela largartinha numa borboleta linda, que voou pelo mundo, conquistou tantas coisas, mas nos deixou tão jovem. Difícil demais de acreditar”
Bernardinho, bicampeão olímpico
“Líder dentro e fora das quadras, a campeã olímpica Walewska mudou o patamar do Praia Clube e, juntos, trilhamos o caminho das glórias. A camisa número 1, usada por Wal, foi eternizada na nossa equipe em 2022 e será para sempre lembrada”
Praia Clube, último time da carreira
“Foi um exemplo de coragem, de resiliência. Fez parte de uma geração que me fez querer ser jogadora. Estivemos com ela há pouco tempo. Queremos continuar esse legado”
Gabi, ponteira da Seleção
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