Basquete

Basquete: Conheça a jovem atleta brasiliense Júlia Picanço

De descoberta em um posto de saúde a peça fundamental na luta do pai contra o alcoolismo. Conheça Júlia Picanço

Júlia Picanço -  (crédito: Alexandre Loureiro/COB)
Júlia Picanço - (crédito: Alexandre Loureiro/COB)
postado em 16/09/2023 06:00 / atualizado em 16/09/2023 07:15

O nascimento de grandes atletas no esporte é sempre marcado pelas histórias das mais diversas. Com Júlia Picanço não foi diferente. A jovem moradora do Sol Nascente vivia um dia normal, quando levava a sobrinha em um posto de vacinação, até ser surpreendida com a proposta de receber uma bolsa para jogar basquete. O detalhe: ela nunca havia jogado a modalidade antes. Um ano depois da resposta positiva, ela é uma das atletas representando o Distrito Federal nos Jogos da Juventude de 2023, em Ribeirão Preto.

O 1,86m de altura da garota de 15 anos chamou a atenção de uma mesária da federação no postinho, Paloma Sousa, que mandou uma foto para a técnica Eula Karyne perguntando se haveria um lugar na equipe sub-16 do Cerrado Basquete. O aval foi dado, mas nem tudo eram flores. De casa até o ginásio da Iesplan, na Asa Sul, Júlia precisava pegar mais de duas horas de ônibus para ir e mais duas para voltar. Apesar disso, a comandante não desistiu de inserir a jovem no esporte.

"Mesmo com a distância, ela ia uma vez por semana nos treinos. Vendo essa dificuldade, resolvi procurar o professor Sérgio, do núcleo de Ceilândia, e ela pôde ir jogar lá, onde começou a desenvolver as habilidades. Ela tem só um ano de basquete e a distância atrapalha, mas não desistiu. Hoje ela treina duas vezes lá e uma no Cerrado. Por mérito próprio ela conseguiu ser convocada para representar a seleção sub-16 do DF nos Jogos da Juventude", explicou Eula, também técnica da equipe do quadradinho na competição.

Potência nos rebotes, a jovem até mesmo mudou os horários na escola para poder treinar com mais tranquilidade. Antes aluna do período vespertino, as aulas agora são de manhã e a tarde fica livre para evoluir as habilidades no Centro de Iniciação Esportiva de Ceilândia Norte, sob a batuta do técnico Allan. Com tamanho empenho, a treinadora não esconde a torcida.

"É muito bom ver o impacto do esporte para ela. A Júlia é uma pessoa ótima e que incentivamos muito a continuar no basquete. O esporte ajudou ela a ter uma perspectiva nova para a vida que antes não tinha", acrescentou.

Com o carisma característico e óculos que remetem aos usados pela lenda da NBA Kareem Abdul-Jabbar, a pivô não restringe o brilho apenas para dentro das quadras. Fora delas, a entrada no esporte serviu como uma nova oportunidade na vida e até para mudança na vida da família.

“Isso impactou muito o meu pai. Ele é uma pessoa não alfabetizada e queria um futuro melhor para mim, então ele me dá tudo do bom e do melhor. Me esforço para que no futuro eu possa ser alguém de quem ele possa se orgulhar”, compartilhou Júlia ao Correio.


"O meu pai teve problemas com alcoolismo e outras questões familiares em casa. Eu começar no basquete o ajudou a buscar tratamento, a se curar. Ele me apoia muito no esporte, se orgulha do que estou fazendo, tenta ver meus jogos. A ajuda sempre vem da própria pessoa e de quem o ama, realmente, o apoiar. Graças a Deus, ele está bem, está em casa com a minha mãe", continuou em entrevista no Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

A matriarca, inclusive, é fã número um da pequena gigante e sempre acompanha a jovem na trajetória. Caminho este que teve um capítulo importante ainda em maio deste ano. Na ocasião, a atleta integrou a equipe do Distrito Federal na campanha do título da etapa Centro-Oeste do Brasileiro de Seleções Estaduais Sub-16. A vitória veio com placar elástico, 60 x 27 contra o Goiás no torneio realizado em Mozarlândia (GO).

Júlia ainda define o surgimento do basquete como uma necessidade que chegou na hora certa. "Minha história no basquete começou no momento em que eu mais precisava. Foi muito importante na minha vida, ele significou esperança. Apareceu do nada, trouxe muitas oportunidades para mim e estou tentando abraçar todas elas. Eu só tenho a agradecer por isso tudo. A mudança que o basquete teve na minha vida foi surreal”, desabafou.

Quanto aos agradecimentos, ela puxa a lista: Paloma, quem a descobriu; Eula, Sérgio e Allan, os treinadores; Marcos, técnico na seleção sub-16; as companheiras de equipe; e, em especial, a mãe e o pai.

Se o esporte é o palco dos sonhos, que o basquete faça Júlia arremessar cada vez mais alto.

*Estagiário sob a supervisão de Danilo Queiroz

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