Enviado especial a Belém — Fernando Diniz vive um conto com prazo de validade. O brilho nos olhos, a fisionomia alegre e a resenha do lado de cá da bancada depois da sabatina na primeira entrevista coletiva pré-jogo como técnico da Seleção Brasileira contrasta com a figura de uma ampulheta. Tão acelerada como a estreia contra a Bolívia nesta sexta-feira, às 21h45, no Mangueirão, pela primeira rodada das Eliminatórias Sul-Aericanas para a Coap de 2026, é a queda da areia determinando o término do contrato temporário com a CBF.
Fernando Diniz evita pronunciar o nome de Carlo Ancelotti. O italiano estaria apalavrado com a entidade para assumir a Seleção depois do fim da temporada do Real Madrid, ou seja, em junho ou julho de 2024. No entanto, pela primeira vez ele falou com certa convicção sobre a interinidade no emprego. Embora líderes como Danilo, Casemiro e Neymar rejeitam tratá-lo como um gestor provisório, o treinador compartilhado pela CBF e o Fluminense foi realista depois do treino.
"Tenho que ocupar minha cabeça pelo período que temos acordado esse ano, não fico pensando depois. Quero entregar o melhor para a Seleção para quando houver uma troca de comando, tenha um time bem treinado e quem chegar consiga levar e pensar que ficou em boas mãos e tem chance de seguir um caminho vitorioso", respondeu com os pés no chão do tablado de onde ouvia e respondia questões.
Chama a atenção a maneira leve como Fernando Diniz inicia o trabalho. Entrou na sala pleno. Brincou com a imprensa, deu um abraço apertado no assessor da CBF Rodrigo Paiva seguido de um cochicho afinando o discurso e dominou o palco durante os quase 40 minutos de perguntas.
Quem está ciente do dia do futuro vive o presente como se não houvesse amanhã. "Treinar a Seleção tem logística diferente, mas é um pouco parecido quando chega no clube e tem cinco dias para estrear. É criar vínculos o mais rápido possível. Treinar bastante, no campo, com vídeo, para passar as ideias e não deixar os jogadores em desconforto, deixá-los confortáveis. Quero aumentar a naturalidade deles, que tenham mais facilidade para se encontrar dentro de campo. Vão usar o que tinham do grande trabalho do Tite, e com as novas ideias vão assimilando. Foram muito positivos esses dias, conseguimos trabalhar muito bem", afirmou Fernando Diniz.
Primeiro técnico mineiro a comandar a Seleção nas Eliminatórias desde Telê Santana na fase classificatória para 1986, Fernando Diniz tem como inspiração justamente um time do mestre. "Nunca imaginei estar na Seleção. Sempre trabalho muito focado onde estou. O lugar que estou é sempre a minha seleção. A Seleção que me cativou, que sempre falei, é a de 1982, que me deu vontade de ser jogador. Isso está sempre dentro de mim. Nesse sentido, sim, mas no sentido racional, nunca projetei estar aqui. Foi uma coisa natural", afirmou.
O discurso foi confirmado no fim da entrevista. Rodrigo Paiva chamou o ex-lateral e hoje comentarista da tevê Globo Leovegildo Júnior para subir ao palco. Enquanto o Capacete caminhava até lá, Diniz falou baixinho que estava vindo um representante da melhor Seleção que ele viu jogar. Recebeu um abraço forte e aproveitou para conversar rapidamente com uma das referência dele.
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