Duzentos e sessenta e nove dias depois da eliminação do Brasil na Copa de 2022 pela Croácia sob o comando de Tite, Fernando Diniz Silva inaugura, hoje, uma nova era na Seleção. Aos 49 anos, o mineiro de Patos de Minas receberá os convocados, em Belém, para o início das Eliminatórias rumo ao Mundial de 2026 no Canadá, Estados Unidos e México. A nova tentativa de conquistar o hexa começará nesta sexta-feira contra a Bolívia, no Estádio Olímpico Mangueirão. Na sequência, o elenco enfrentará o Peru no dia 12, no Estádio Nacional, em Lima, nesta Data Fifa.
Certa vez, Diniz confidenciou um sonho ao irmão, Paulo Silva. "Um dia vou treinar a Seleção". Antes da meta distante, pulsava em Brasília o desejo de trocar o par de chuteiras pela prancheta e virar técnico. O Gama foi o último time da carreira do meia. Ele era comandado à época pelo técnico Ademir Fonseca na Série B do Campeonato Brasileiro. A passagem relâmpago é lembrada pelo profissional em entrevista ao Correio Braziliense como um marco na transição da carreira.
"O Diniz sempre foi muito inteligente. Um líder por onde passou. Muito tranquilo para se relacionar. Tinha comando no grupo, no vestiário. Ele auxiliava até o treinador no dia a dia com um comportamento disciplinar exemplar", acrescenta.
Semifinalista da Libertadores pelo Fluminense e responsável interinamente por comandar a Seleção até o desembarque do italiano Carlo Ancelotti no país, após o fim da temporada do Real Madrid na Europa, Diniz era curioso no Gama. "Ele perguntava muito sobre o trabalho. Havia um questionamento positivo da parte dele. Queria entender o que estávamos fazendo, por que estávamos fazendo. Interagia com todos na comissão técnica. É uma característica dele. Poucos jogadores agiam assim naquela época no Gama", elogia Fonseca.
O treinador usou Diniz nas funções de segundo volante e terceiro homem do meio de campo. "O Fernando Diniz ficou uns 40 dias no Gama. Demorou a se condicionar. Depois, ele foi expulso, pegou uma suspensão do STJD e decidiu encerrar a carreira. Eu cheguei no fim do Campeonato do Distrito Federal. Ele foi contratado para a Série B. Foi apresentado com uma porção de jogadores levados à época por um empresário chamado Maurílio", lembra.
Diniz disputou apenas uma partida com a camisa alviverde. Estreou na derrota por 2 x 0 para o Grêmio Barueri pela Série B do Brasileiro e levou cartão vermelho depois da partida. Ofendeu o árbitro Renato Cardoso da Conceição. Pegou seis jogos de gancho no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), desfalcou o time comandado por Flávio Barros e pediu demissão.
O então jogador apresentou dois argumentos para a saída do Gama: "Eu ia ficar muito tempo sem jogar e isso onera o clube. E estou longe da minha família, preciso resolver problemas particulares", disse Diniz ao Correio em 2008. Ele estava de saco cheio das injustiças da arbitragem. Sempre questionou muito os juízes", reforça Fonseca.
Presidente do Gama à época, Carlos Macedo confirma o episódio em entrevista ao Correio. "Ele tinha um contrato conosco, fez um jogo lá em Barueri (Barueri 2 x 0 Gama) e depois foi punido. Na partida contra o Corinthians (em Taguatinga) ele ficou sabendo da punição. Inclusive assistimos ao jogo eu, ele e o Andrés Sánchez (ex-presidente do Corinthians) lá no Serejão (Gama 1 x 3 Corinthians). Nós conversamos, ele comentou sobre a punição e falou queaproveitaria para encerrar a carreira. Eu falei: 'Pô, tudo bem, fica bom para a você assim?' Ele falou que não jogaria e fizemos um acerto: pagamos um mês de salário para ele e o liberamos na apresentação do elenco na segunda-feira". Diniz arrumou as malas, seguiu rumo ao aeroporto e praticamente encerrou a carreira de jogador.
Fã do Dinizismo
Quinze anos depois, Ademir Fonseca troca o papel de treinador de Diniz pelo de torcedor. "Todos nós brasileiros estamos torcendo para que ele represente bem o nosso país. Ele pertence a uma geração mais nova. Está havendo muita valorização dos estrangeiros e desvalorização dos profissionais do mercado nacional. Ele representa a nossa categoria. Eu sempre acho que temos espaço para estrangeiros e brasileiros", opina o fã do dinizismo. Ambos duelaram várias vezes em competições do interior de São Paulo, quando o técnico do Fluminense e da Seleção passou por Votoraty, Paulista e Audax.
Nascido no Distrito Federal, o atacante Tiago Bezerra foi um dos companheiros de time do Fernando Diniz na passagem pelo Gama. Em entrevista ao Correio Braziliense, ele lembra do agora técnico da Seleção. "Estive com ele, mas foi bem pouco tempo. Algumas semanas de treino, quando ele chegou. Ele foi para o primeiro jogo só, contra o Grêmio Barueri, No fim do jogo houve uma discussão, ele foi expulso, pegou um gancho naquela época e aí ele decidiu parar", conta o jogador do Al-Orobah da Arábia Saudita. "Tenho poucas lembranças, mas ele já tinha esse estilo de treinar. Gostava de ajudar. Dava conselhos e tinha essa personalidade forte", testemunha Bezerra.
Fernando Diniz foi colega de técnicos radicados no Distrito Federal. O carioca Marcos Soares é um deles. Ambos se cruzavam no CBF Academy — o curso de treinadores da entidade. "Encontrei algumas vezes o Fernando, e ele sempre foi muito educado, esclarecido, com um conhecimento vasto, bacana, sempre calmo. A escolha dele não poderia ser melhor. Estamos muito bem representados. Ele tem feito coisas diferentes, conseguido resultados e encantado com o futebol apresentado pelos times dele", elogia o profissional com passagem por Brasiliense, Ceilandense, Sobradinho e Brasília. Atualmente, ele trabalha na Seleção sub-19 da Arábia Saudita.
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