Futebol feminino

Arthur Elias promete "identidade nova" na Seleção feminina de futebol

Com plano de implementar um futebol mais ofensivo e apresentar resultados imediatos, Arthur Elias pretende mudar a cara da Seleção feminina: "Vocês não vão me ver olhando para trás"

Apesar de não ter amistosos marcados, Arthur Elias aproveitará a data FIFA para trabalhar com o elenco -  (crédito: Thais Magalhães/CBF)
Apesar de não ter amistosos marcados, Arthur Elias aproveitará a data FIFA para trabalhar com o elenco - (crédito: Thais Magalhães/CBF)
Gabriel Botelho*
postado em 01/09/2023 19:24 / atualizado em 01/09/2023 19:24

O treinador da equipe feminina do Corinthians, Arthur Elias, de 42 anos, foi apresentado nesta sexta-feira (1/9) como novo treinador da Seleção Brasileira Feminina de futebol. Da sede da CBF, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o novo comandante, apresentado pelo presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, falou pela primeira vez à imprensa. Além de agradecer pela oportunidade e relatar o objetivo de contribuir com o cenário do futebol brasileiro, prometeu mudanças bruscas na forma de jogar da equipe.

"Gostaria de agradecer a confiança dada pelo presidente Ednaldo. É um sonho estar aqui, depois de 20 anos como treinador. Me sinto realizado por esse cargo, pelo convite, tenho certeza que vamos conseguir mudar a mentalidade dentro da Seleção Brasileira e do futebol feminino no Brasil, que é também de trazer resultado a curto prazo, já nas olimpíadas", disse ele.

"A Seleção Brasileira precisa voltar a ser protagonista mundial (...) claro que tenho uma experiência muito grande, sei muitas coisas que precisam evoluir, e tenho como missão principal trazer resultados positivos a curto prazo, o que me motiva. Essa parte da evolução (no futebol) já vem acontecendo", reiterou Arthur.

"O trabalho já é organizado, multidisciplinar, e penso que estou aqui para mudar alguma coisa, em relação à metodologia. Vocês podem esperar uma seleção jogando de forma diferente, de forma mais ofensiva. Não poderia ter momento melhor para chegar aqui, onde já temos todo um contexto de evolução (do futebol feminino no Brasil), com toda a luta das mulheres, e com o apoio da CBF e da FIFA", complementou.

O trabalho de Arthur Elias à frente da Seleção terá, além disso, segundo ele mesmo, como foco mudar certos estigmas, interpretados por ele como "limitantes" para a própria equipe. De acordo com o treinador, colocar o Brasil sempre como uma equipe menos capacitada em relação a outros times apenas por posições no ranking da FIFA e em resultados nas últimas competições, não é algo positivo.

"O Brasil tem uma camisa pesadíssima, e uma forte contribuição para o cenário do futebol feminino. Não quero saber do que passou, vocês não vão me ver olhando para trás ou lamentando algo, isso vocês não vão me ver fazer. Quero, também, mudar esse estigma do longo prazo, pois o trabalho no feminino é sempre abordado dessa forma. O longo prazo não chega nunca, e, com a qualificação e o histórico que (o Brasil) tem, é possível alcançar as metas que estamos traçando a curto prazo. O meu trabalho servirá para encorajar as atletas e fortalecer essas questões", afirmou Elias.

O novo comandante, além disso, fez questão de não dar importância para a falta de um período grande de tempo para se preparar antes do começo da próxima data FIFA, marcada já para o mês de setembro, pois, afinal, a Seleção não fará amistosos no período. Ele, além disso, fez um apelo aos presentes por uma maior valorização da evolução do futebol feminino no Brasil.

"Isso (falta de tempo), não atrapalha em nada. Mesmo com um tempo curto, o período de treinamento será bom, pois teremos muitas atletas disponíveis e uma mudança na mentalidade. Nada virá como forma de lamentação. Vamos tentar enfrentar adversários mais fortes, ter um grupo de trabalho bem estruturado e uma identidade nova, além do modelo de jogo diferente", colocou o técnico.

"Nós precisamos parar com essa mania de diferenciar jogadoras que jogam aqui, com as que jogam lá fora. Os clubes brasileiros estão com uma estrutura muito boa, e essa visão que temos níveis diferentes não existe. Também temos grandes trabalhos no Brasil, com investimentos muito fortes. Além disso, as jogadoras presentes aqui na lista, também têm muita responsabilidade", frisou ele.

Arthur Elias, ao 42 anos, terá a primeira oportunidade da carreira em uma seleção nacional. Apesar disso, trabalha com o futebol feminino há quase 20 aos, quando, em 2006, iniciou um projeto na Universidade de São Paulo (USP) voltado para a modalidade. De lá, foi para o Nacional-AC, e, posteriormente, o Centro Olímpico, onde foi campeão brasileiro, em 2013.

No ano seguinte, assumiu o Audax/Corinthians, onde permanece até hoje, mesmo com o fim da parceria entre os dois times, ao final de 2016. No Parque São Jorge, Arthur ganhou destaque nacional e internacional, com o tricampeonato da Copa Libertadores e da primeira divisão do Brasileirão Feminino. Em 2019, além disso, o treinador alcançou a marca de 34 vitórias seguidas.

Agora sob o comando da Seleção, Arthur Elias começará os trabalhos na Seleção durante a data Fifa, onde aproveitará o período para treinamentos na Granja Comary. Além dele, também migram do Corinthians à Seleção após o término da temporada o preparador físico Marcelo Rosetti, o treinador de goleiras Edson Júnior, e a nutricionista Tiame Saito, para integrar a comissão técnica.

Confira outros questionamentos feitos durante a coletiva:

P - Sobre o trabalho no Corinthians, como ficará a sua função? Veremos uma repetição do que será feito com o Diniz na equipe masculina, ou você deixará o time?

R - Em relação ao Corinthians, saio de lá após a Libertadores, esse foi o acordo. Até lá, tenho um pouco dessa divisão do trabalho, vou cumprir as duas funções de forma simultânea, mas somente até o final da temporada, agora. A partir do dia 11 eu venho aqui para o Rio de forma fixa. Mas participarei da Libertadores pelo Corinthians, da segunda partida da semifinal do Brasileirão, e de uma eventual final, caso o Corinthians avance.

P - Gostaria de perguntar sobre as duas últimas convocadas na lista, a Marta e a Cristiane. Como você enxerga a presença delas para o próximo ciclo?

R - Acredito que as duas jogadoras ainda têm muito o que acrescentar para a Seleção Brasileira, e por isso foram convocadas. A Marta, por mais que já tenha anunciado que não jogará mais Copas do Mundo, foi chamada pois, apesar da idade, é uma jogadora extremamente diferenciada, e poderá voltar melhor fisicamente em relação ao Mundial pois estava voltando de lesão. A Cristiane, agora, voltando, poderá fazer muita diferença pois é uma goleadora nata, que se destaca e pode ser fundamental para nós. Foi artilheira do Paulistão em 2022 e é uma das artilheiras do Brasileirão deste ano. A idade não importa, desde a mais nova, até a mais velha, se puderem estar contribuindo, serão convocadas.

P - Quando você ficou sabendo que seria o treinador, e o que você pode colher de frutos do trabalho da Pia?

R - Ontem eu pensei que pudesse ser (o treinador), e hoje tive a certeza. Em relação ao trabalho da Pia, quando você está de fora, tem uma impressão específica, mas quando passa para o lado de dentro, passa a ter, obviamente, mais acesso e mais facilidade. Então, quando conseguir ter mais acesso ao que era feito aqui na CBF, e falando mais um pouco com as jogadoras, vou poder ver mesmo o que poderei colher (...) Acho que eu e a Pia pensamos futebol de uma maneira muito diferente. Já falei isso publicamente, e ela também. Então, as características da equipe, a forma de jogar e o modelo de jogo em si serão estruturados de outra maneira.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

 

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