Futebol

Presidente da Federação Espanhola descarta pedir demissão após beijo forçado

Luis Rubiales pediu "perdão total" pelo seu comportamento na final da Copa do Mundo

O presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, amplamente criticado pelo beijo forçado que deu na jogadora Jenni Hermoso na final da Copa do Mundo, se recusou a pedir demissão nesta sexta-feira (25/8), em uma assembleia geral extraordinária da entidade.

"Não vou renunciar, não vou renunciar", repetiu Rubiales na sessão, contrariando as previsões da imprensa, de que deixaria o cargo após os múltiplos protestos nos últimos dias.

O presidente da RFEF pediu "perdão total" pelo seu comportamento na final da Copa do Mundo vencida pela Espanha e admitiu ter estado "errado" no beijo em Hermoso, que por sua vez, descreveu o momento como "espontâneo, mútuo, eufórico e consentido", embora estas declarações sejam questionadas pela imprensa.

"Esta é a chave, foi consentido", disse ele, antes de garantir que "está sendo cometido um assassinato social. Estão tentando me matar".

O dirigente de 46 anos passou a ser alvo de críticas de diversos setores da sociedade ao segurar com as duas mãos a cabeça de Jennifer Hermoso, camisa 10 da seleção feminina espanhola, e lhe surpreender com um beijo na boca durante a entrega de medalhas após a vitória da Espanha sobre a Inglaterra.

As imagens rodaram o mundo junto com as de seus gestos segurando a região genital, a poucos metros da Rainha Letizia.

Uma 'escolha' polêmica

"Será que uma escolha consentida vai me tirar daqui?", questionou Rubiales, garantindo que vai se defender.

O dirigente atacou "o falso feminismo que não busca a verdade", direcionando a fala a três ministras do governo espanhol, incluindo a número três do Executivo e vice-presidente da RFEF, Yolanda Díaz, que foi uma das primeiras a exigir sua renúncia.

"Essas pessoas que estão tentando me assassinar publicamente, vou me defender", afirmou, atacando também o presidente da La Liga, Javier Tebas, com quem teve desentendimentos durante anos.

O dirigente da RFEF surpreendeu com sua decisão de resistir quando a sua saída foi dada como certa após as críticas que se acumularam ao longo da semana em todas as esferas sociais, especialmente no futebol e na política.

Sindicatos de jogadores, treinadores, equipes e jogadores de futebol também criticaram o ocorrido. A Fifa, por sua vez, abriu um processo disciplinar contra ele, enquanto a Uefa, da qual é um dos seus vice-presidentes, permanece em silêncio.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, e o seu ministro da Cultura e Esportes, Miquel Iceta, censuraram o gesto de Rubiales, pedindo que fosse além de um simples pedido de desculpas que muitos consideraram forçado. 

"Compreendo a grande comoção que se criou, já pedi perdão pelo gesto que me parece muito infeliz, e a questão do beijo que já disse é livre, é mútua, consentida, mas devo pedir desculpas pelo contexto em que ocorreu, não estou fora do mundo e sei que errei", reiterou nesta sexta-feira.

Denúncias no TAD

A pressão sobre o presidente da RFEF já havia aumentado no início da semana, e, até o momento, três queixas foram apresentadas ao Conselho Superior do Esporte (CSD, na sigla em espanhol), que pretende enviá-las ao Tribunal Administrativo do Esporte (TAD).

Na quarta-feira (23), a própria Jenni Hermoso declarou que sua agência está em coordenação com o seu sindicato, o Futpro, para que que sejam tomadas "medidas exemplares" contra Rubiales, que esta sexta-feira disse não compreender como a jogadora havia passado "da anedota ao silêncio e à uma declaração que eu não entendo".

"Hoje posso anunciar que vamos levar ao TAD uma reclamação por uma falta gravíssima", disse nesta sexta-feira à Cadena Ser o presidente do CSD, Víctor Francos, se mostrando "surpreso" com a decisão do dirigente.

O Ministério Público enviou uma denúncia por "um suposto crime de assédio sexual" ao Supremo Tribunal, principal instância penal na Espanha, que deve estudar se irá admiti-la para processamento.

"O que vimos hoje na Assembleia da Federação é inaceitável. O Governo deve agir e tomar medidas urgentes. A impunidade para ações machistas acabou. Rubiales não pode continuar no cargo", afirmou a vice-presidente da RFEF Díaz na plataforma X (ex-Twitter). 

"Vergonha alheia", escreveu em suas redes sociais o ex-goleiro da seleção espanhola, Iker Casillas, que se retirou das últimas eleições da Federação vencidas por Rubiales em 2020.

A ganhadora de dois prêmios Bola de Ouro, Alexia Putellas, também reagiu ao caso. "Isso é inaceitável. Acabou. Estou com você, companheira Jenni Hermoso", disse em suas contas nas redes sociais. 

O atacante do Betis Borja Iglesias, por sua vez, anunciou que não vai "retornar à Seleção Nacional até que as coisas mudem e este tipo de ato não fique impune", declarou.