Caminho até o sucesso

Da final masculina à feminina em 13 anos: a nova Revolução Espanhola

Las Rojas chegam à final do mundial pela primeira vez e reforçam o país como grande destaque da modalidade

Da Guerra Civil de Franco em 1936 ao tiki-taka da década passada, o mundo agora vivencia uma nova revolução espanhola, mas desta vez no futebol feminino. Com a vitória por 2 x 1 sobre a Suécia, a Espanha deixou grandes seleções pelo caminho e vai disputar a final do mundial das mulheres pela primeira vez, naquela que é apenas a terceira participação do país no torneio. Aos engenheiros de obra pronta, é preciso voltar alguns passos para identificar os motivos do desempenho da Fúria.

Antes no fim da fila da categoria, Las Rojas estrearam em Copas apenas em 2015, já na sétima edição do campeonato. Na ocasião, a equipe foi eliminada na primeira fase, com apenas um ponto em três jogos. Em 2019, conseguiram a classificação para as oitavas, mas logo foram eliminadas pela Holanda, posteriormente vice-campeã do mundial.

Até chegar como uma das postulantes ao maior título de seleções na Copa da Austrália e Nova Zelândia, a Espanha primeiro se tornou uma potência no futebol de clubes. Em baixa no masculino, o Barcelona é o grande nome da modalidade entre as mulheres, com dois títulos da Champions League feminina e outros dois vices nos últimos cinco anos. No aspecto individual, o destaque segue no clube catalão, em especial com a craque Alexia Putellas, atual duas vezes melhor do mundo. E não para apenas na camisa 11. O Barcelona é o clube com mais jogadoras convocadas para o mundial, com 18 ao todo.

Grande rival culé e maior campeão europeu entre os homens, o Real Madrid teve um despertar tardio para o futebol feminino e começou a operar na modalidade apenas em 2020, após comprar o clube Tacón. A efeito de comparação, Barça e Atlético contam com uma equipe há 30 e 20 anos, respectivamente, e a Liga Feminina é disputada no país desde o final da década de 1980. Ainda assim, o clube merengue aumenta o investimento nelas a cada temporada e conta com 12 atletas no mundial deste ano.

Trabalho de base

O cuidado com a formação e a aposta na base é um fator comum entre os rivais espanhóis. Do lado branco, a jovem Linda Caicedo, craque da Colômbia na Copa de 2023, é um dos trunfos. Já pelos azul-grená, Salma Paralluelo, um dos destaques da Espanha no mundial, é um bom exemplo para explicar a evolução entre as juniores do país.

Decisiva nas quartas e semifinal do torneio, a jogadora de 19 anos é profissional desde os 15 e se dividia entre o campo e a pista de corrida na adolescência. Após uma grave lesão no joelho em julho do ano passado, decidiu focar apenas no mundo da bola e foi titular do Barcelona na campanha pelo título da Champions na última temporada. Contratada pelo clube catalão junto ao Villarreal ainda aos 18 anos, Paralluelo também foi importante para a Espanha nas conquistas dos mundiais sub-17, em 2018, e sub-20, em 2022, com direito a dois gols na final.

Para escancarar a aposta espanhola na juventude, entre as 23 convocadas, apenas quatro têm mais de 30 anos. O grupo de trintonas é composto por Irene Paredes (32), Jenni Hermoso (33), Claudia Zornoza (32) e Esther González (30), e apenas as duas primeiras foram titulares contra a Suécia. A média de idade das atletas da Fúria é de 25 anos.

Clima tenso entre o grupo

Na campanha até a final, Las Rojas golearam Costa Rica (3x0) e Zâmbia (5x0) na fase de grupos antes de serem dominadas pelo Japão em derrota por 4 x 0 para as asiáticas. Apesar do revés, a classificação para o mata-mata já estava garantida. Nas oitavas, mais um placar elástico, desta vez contra a Suíça (5x1), e vitória sofrida contra a Holanda por 2 x 1 na prorrogação antes de repetir o placar diante das suecas na semi.

 
 
 
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Além das adversárias em campo, a Espanha precisou superar um empecilho antes mesmo do início da competição. Em setembro do ano passado, um grupo de 15 jogadoras escreveu uma carta à federação de futebol do país pedindo melhorias na seleção e a demissão do técnico Jorge Vilda, no cargo há oito anos. Caso contrário, elas estavam dispostas a não jogar mais pela equipe nacional. Desta forma, peças importantes como Mapi Leon e Patri Guijarro, do Barcelona, ficaram de fora do mundial.

Apesar do desempenho na Copa, o ambiente ainda é turbulento no vestiário. Jogadoras como Alexia Putellas, Aitana Bonmatí, Jenni Hermoso e Irene Paredes não assinaram o documento repassado à federação, mas compartilharam o comunicado nas redes sociais. Segundo a imprensa espanhola, o quarteto teria pedido a demissão de Vilda ainda em agosto de 2022.

Rumo à glória

Independente de qualquer problema extracampo, dentro dele o foco é total na conquista da Copa. Se antes a busca era por evoluir e capacitar, a luta da Espanha agora é pelo título inédito. Seja qual for o resultado final, é hora de colher os frutos plantados há anos.

A partida decisiva acontece no domingo (20/8), às 7h (de Brasília), em Sydney. A partida terá transmissão da Globo, SporTV e da CazéTV. A adversária sai nesta quarta-feira (16/8), no duelo entre Austrália e Inglaterra, às 7h.