Embora o roteiro de uma Copa do Mundo sugira a participação das principais potências da bola, na nona versão do torneio feminino, existem seleções que passam longe de ter uma jornada de primeira classe com planejamento e estrutura de alto nível. Algumas embarcaram para a Austrália e Nova Zelândia aos trancos e barrancos, em uma espécie de "desespero" para aproveitar a oportunidade da grande vitrine.
Esses são os casos de Jamaica e Nigéria. Após as eliminações nas oitavas de final, os elencos das duas equipes gritaram por socorro ao futebol feminino nos respectivos países. A falta de investimentos na modalidade por lá ficou evidente antes e durante a Copa do Mundo. As dificuldades começaram no embarque para o torneio.
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As jamaicanas tiveram de promover uma vaquinha para arcar com os custos da viagem de quase 15 mil km entre Kingston e Sydney e seguir a melhor preparação possível para a fase de grupos e as oitavas de final.
Sandra Phillips-Bower, mãe da meio-campista Hava Solaun, abriu um canal para recebimento das doações a fim de cobrir o período na Oceania. Em entrevista ao jornal Jamaica Observer, a líder da iniciativa revelou que U$ 50 mil (cerca de R$ 238 mil) haviam sido arrecadados até o final de julho.
O maior apoio, porém, veio de Cedella Marley, filha do cantor Bob Marley. A herdeira do artista usou a relevância da fundação batizada com o nome do pai para patrocinar a seleção feminina da Jamaica. Em um ano, a instituição captou cerca de U$ 300 mil e foi descrita pela lateral-esquerda Deneisha Blackwood como "coração do time".
"O suporte dela (Cedella Marley) tem sido muito importante. Ela é o coração desse time", discursou na coletiva antes do duelo contra a Colômbia. Apesar dos obstáculos, Blackwood elogiou o feito inédito de ter disputado o mata-mata da Copa do Mundo.
"Mais do que nunca, sabemos que somos heroínas para as novas gerações. Continuaremos inspirando as gerações seguintes", ressaltou a defensora.
Além do perrengue para desembarcar na Oceania, existe preocupação com o calendário da seleção. O técnico Lorne Donaldson comentou sobre o choque de realidade. "Desde 2019, nada ocorreu na Jamaica. Embora a Fifa e o governo não se misturem, espero que nos ajudem. Que possamos nos unir e tentar encontrar uma solução", desabafou.
As principais questões na Nigéria também dizem respeito à estrutura. Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, a atacante Ifeoma Onumonu escancarou o descaso da Federação Nigeriana com a equipe feminina. Segundo ela, no centro de treinamento em Abuja, as jogadoras dividem camas.
"Nossos campos de treinamento são ruins. Às vezes, dividimos camas. Não temos acesso a uma academia. Vi o que a Inglaterra tem acesso. Em casa, nossa grama é rochosa, cheia de solavanco. Vocês ficariam surpresos em ver como é o estádio onde jogamos as Eliminatórias. Nem sabemos como a bola chega", relatou. Internamente, também há queixas de falta de pagamentos durante a preparação para a Copa. Algumas jogadoras ficaram dois anos sem receber pelos serviços prestados.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini