O talento das mulheres com a bola nos pés rompeu fronteiras, alcançou dimensão e relevância global com a maior Copa do Mundo Feminina da história. O trabalho delas para conquistar o direito de jogar profissionalmente é autoral e justifica a resistência contra anos de preconceito e opressão. Portanto, evite comparações. As oitavas de final do Mundial na Austrália e na Nova Zelândia, iniciadas na madrugada de hoje, comprovam que as análises baseadas nos feitos de jogadores, clubes e seleções masculinas são totalmente descabidas.
Não dá para exigir que o desempenho delas seja semelhante ou igual aos deles. O ponto final da discussão é colocado pela questão física, baseado em critérios como força, velocidade, resistência. O objetivo é o mesmo, mas o esporte é outro. E isso não é ruim. Pelo contrário, oferece novas emoções. Imagine se o protagonismo das seleções femininas fossem replicados no masculino. Talvez não haveria margem para a evolução e desenvolvimento de outras escolas.
Das 16 equipes envolvidas nas oitavas de final da Copa do Mundo, apenas Estados Unidos, Noruega e Japão foram campeões. Em crescimento, o continente africano emplacou África do Sul e Nigéria. Os árabes são representados por Marrocos e a América do Sul pela Colômbia. Existe outra particularidade do cenário feminino: apenas a Alemanha faturou o troféu com elas (2003 e 2007) e com eles (1954, 1974, 1990 e 2014).
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Inserido tanto no futebol feminino quanto no masculino, o presidente do Real Brasília, Luís Felipe Belmonte endossa o discurso de que é preciso ter olhar diferentes para as duas categorias. "Existe uma diferença, até pelo tempo que os personagens praticam o esporte. O patamar é outro. O dos homens gera mais receita, mas os clubes e os investidores estão se empenhando. Há boa visibilidade com a Copa do Mundo. A Fifa está buscando igualdade", analisa.
Na avaliação do dirigente, a abrangência e imprevisibilidade do futebol feminino é muito maior. "Tem um nicho muito próprio. O desenvolvimento de Japão, China e outros países asiáticos demonstra isso. Há avanço de países africanos, da América do Sul com a Colômbia. Vejo uma evolução específica de várias seleções, mais do que aquelas com tradição no masculino. Estamos caminhando para um aperfeiçoamento", comenta.
Belmonte se orgulha de ser um dos poucos cartolas do Brasil a contar com jogadoras de Copa do Mundo na própria equipe. A meio-campista Lorena Bedoya e a atacante Lady Andrade representam as Leoas do Planalto com a campanha surpreendente da Colômbia na Oceania.
Isso é possível graças a evolução das três divisões de Campeonato Brasileiro Feminino. Entusiasta, ele acredita em novos progressos. "No mundo, acho que estamos nota 8, pois vemos que os maiores públicos do futebol estão sendo as finais do feminino, como a Liga dos Campeões. Existe, inclusive, uma interação maior, desenvolvimento de outros continentes. No Brasil, acho que ainda temos uma nota 7. Ainda podemos melhorar muito. A garotada se inspira com essa visibilidade maior", ressalta.