O tapete verde do Estádio Melbourne Retangular está estendido para aquela que pode ser a última exibição da majestade do futebol feminino. Na quarta-feira (2/8), às 7h, contra a Jamaica, Marta pode encerrar a trajetória de seis Copas do Mundo pela Seleção Brasileira. Deus salve a Rainha e a equipe de Pia Sundhage, pois apenas a vitória interessa para elas avançarem às oitavas e seguirem na caça ao título inédito. Em caso de empate, a camisa 10 e maior artilheira do torneio da Fifa (entre homens e mulheres), com 17 gols, colocará um ponto final no capítulo dela dos mundiais.
O clima nos bastidores da Seleção Brasileira na Austrália é de decisão. A derrota para a França no último sábado embolou a chave e aumentou o suspense na preparação para o duelo contra as jamaicanas. Mas é aí que entra Marta. Figurinha carimbada no álbum das cinco edições anteriores (2003, 2007, 2011, 2015 e 2019), ela é uma das responsáveis por apaziguar os vestiários e não deixar a peteca, ou melhor, a bola cair.
Não há achismo ou exageros em dizer que Marta sempre foi uma das principais contribuintes para manter o Brasil entre as 16 principais seleções do planeta bola. Em 20 anos de serviços prestados ao futebol do país, a alagoana de Dois Riachos jamais deixou a equipe cair em uma fase de grupos. Nas duas vezes que isso aconteceu, Marta não era a Marta que conhecemos hoje. As despedidas precoces foram nas duas primeiras edições, em 1991 e 1995.
De lá para cá, a camisa 10 regeu o país às quartas em 2003 e 2011, ao vice-campeonato em 2007 e às oitavas em 2015 e 2019. Marta não tem entrado tanto em campo neste edição quanto nas anteriores. Mas os 40 minutos de colaboração nas quatro linhas não significam que a camisa 10 esteja menos ativa. Quem assistiu à derrota para as francesas deve ter percebido a craque inquieta no banco de reservas. É como se ela não estivesse no habitat natural no momento de maior apuro da Seleção na Oceania.
"Não é fácil chegar ao patamar de seis Copas do Mundo, ainda que sentindo que o corpo ainda não é o mesmo. Mas ele está dando conta do recado. Adoro jogar com as melhores, pois elas me fazem melhor também. É justamente esse sentimento de companheirismo. Escolhi um esporte coletivo e preciso ter isso na minha cabeça e nas minhas ações o tempo inteiro. A Marta não ganhará nada sozinha. Quero que as pessoas gostem de estar ao meu lado", ressaltou em entrevista à CBF TV.
Isso comprova a gana da Rainha em seguir no Mundial. Marta não entra, mas não se perde na vaidade. "É a equipe mais diferente que participei, em todos os sentidos. Tivemos times muito talentosos, como em 2006, 2007, mas nunca tão forte juntas, em talento e também em sensibilidade de entender que nada acontecerá se não pensarmos em equipe e fizermos as coisas juntas", destacou.
Marta adota o tradicional discurso de que a união faz a força. "Não tem vaidade ou aquela atleta que queira jogar de qualquer maneira. Se estou de titular e alguma das minhas companheiras no banco, digo para que elas também lutem pela titularidade. Eu exploro o melhor delas e elas o melhor de mim. Sempre pensei assim", emendou a atacante.
Esse pensamento leva Marta a ser mais que companheira no dia a dia de Seleção. Aos 37 anos, tornou-se referência a ponto de, mesmo quando não joga, ser representada. Foi assim em um dos três gols de Ary Borges na vitória por 4 x 0 sobre o Panamá, quando a meia de 22 anos homenageou a craque em uma dança. Capitã do time com a maior artilheira da história do país, Rafaelle não esconde o desejo de brindar Marta com o título inédito.
"Ela é muito importante para nós, não apenas dentro de campo, mas também fora dele, pois ela é uma grande referência para o futebol feminino. Seria bom terminar com a estrela (de campeãs) para ela. Mas espero que não seja última Copa do Mundo dela", disse a capitã em entrevista ao portal alemão DW.
Existe precedente para o "pacto" de Rafaelle e das demais jogadoras em ganhar o torneio por Marta. Na versão masculina do torneio, no Catar, no ano passado, a Argentina patinou com a derrota de virada para a Arábia Saudita na estreia, mas recuperou-se ao se comprometer em jogar por Lionel Messi e "presentar" o país e o astro com o troféu mais importante do planeta.
No entanto, Marta não se apega apenas ao galardão esportivo. Para ela, a maior realização extrapola as quatro linhas. "Muito mais que importante do que uma conquista profissional é o mudar o cenário daquilo que tu mais gosta de fazer. Poder contribuir pela mudança para um todo vale mais que qualquer título", revelou.
Quebra de recorde
Caso tenha a presença confirmada em campo, Marta entrará em campo com possibilidade de alcançar mais uma marca de respeito. Se marcar gol contra a Jamaica, se tornará a primeira jogadora a balançar as redes em seis edições. A brasileira pode ser pioneira graças ao adeus da lenda canadense Christine Sinclair, 40 anos, eliminada na fase de grupos sem vazar as defesas de Nigéria, Irlanda e Austrália. "É o fim da Copa do Mundo e provavelmente não irei jogar outra Copa do Mundo. Estou deixando o campo pela última vez em uma Copa do Mundo", comunicou ao canal TSN.
Ficha técnica
Jamaica x Brasil
(Fase de grupos, 3ª rodada)
Onde: Melbourne Rectangular, Melbourne (AUS)
Quando: Quarta-feira (2/7), às 7h
Transmissão: TV Globo, SporTV, CazéTV e Fifa+
Arbitragem: Esther Staubli
Prováveis escalações
Jamaica - Spencer; Cameron, Allyson Swaby, Chantelle Swaby, Blackwood, Carter, Primus, Drew Spence, J.K. Brown e Kayla McCoy. Técnico: Lorne Donaldson
Brasil - Letícia; Antônia, Kathllen, Rafaelle e Tamires; Luana, Kerolin, Ary Borges e Adriana; Debinha e Marta. Técnica: Pia Sundhage.