COPA DO MUNDO

Como a Espanha alcançou em três Copas o que o Brasil busca há nove

Título mundial das espanholas é reflexo de trabalho contínuo com as categorias de base, manutenção de trabalho técnico e investimento na liga nacional

Comemoração da espanholas no gramado do Estádio Olímpico de Sydney é reflexo de investimento, insistência e carinho da Federação com o cenário do futebol feminino do país -  (crédito: David Gray/AFP)
Comemoração da espanholas no gramado do Estádio Olímpico de Sydney é reflexo de investimento, insistência e carinho da Federação com o cenário do futebol feminino do país - (crédito: David Gray/AFP)
Victor Parrini
postado em 22/08/2023 03:55

Ganhar a Copa do Mundo nunca será um processo simples. O troféu mais desejado do planeta bola não costuma cair no colo das seleções. A Espanha é prova disso. Ao conquistar o título inédito da versão feminina do torneio da Fifa, após o 1 x 0 diante da Inglaterra, no domingo (20/8), a La Roja alcançou um padrão excelência sem precedentes. Precisou apenas de três participações para levantar o primeiro caneco. O feito desencadeou, claro, muitas comemorações e reflexões para concorrentes.

Três tentativas bastaram para a Espanha entender a dimensão e seriedade de disputar uma Copa do Mundo. Para a Seleção Brasileira, nove não foram suficientes. O auge canarinho foi o vice-campeonato em 2007, após a derrota por 2 x 0 para a Alemanha. De lá para cá, Marta e companhia romperam estiveram apenas nas quartas de final de 2011.

Os acertos da Real Federação Espanhola (RFEF) escancaram as falhas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Se olharmos bem para a campanha das europeias na nona edição da Copa do Mundo, podemos identificar um acerto para cada um dos sete jogos rumo ao título. Tudo começa com a atenção merecida às categorias de base.

A Espanha não atropelou etapas. Investiu no desenvolvimento e lapidação de talentos antes de lançá-los ao principal palco do esporte. Foi assim com o vice do Mundial sub-20 em 2018 e o título do torneio quatro anos depois. No mesmo ciclo, acumulou os canecos da competição sub-17. A atacante Salma Paruello, 19 anos, é a personificação do trabalho de base espanhol. Ela esteve em dois dos três títulos juvenis.

No domingo, ela foi eleita a melhor jogadora jovem do torneio na campanha de "tríplice coroa" com a seleção espanhola. "Todos os objetivos foram rápidos e precoces, e isso só me dá mais motivação para o futuro, porque ainda tem muita coisa à frente, muito trabalho para fazer. Tudo isso é maravilhoso, porque é um sonho muito grande e estou muito orgulhosa", disse Salma na zona mista.

O carinho com a base anda lado a lado com a paciência no projeto. As eliminações na fase de grupos de 2015 e nas oitavas de 2019 não atrapalharam os planos. A escadinha para o sucesso também passa pelo investimento em uma liga da ponta capaz de elevar o nível competitividade da atual e próximas gerações e dominar o continente. A Espanha conta com um dos melhores campeonatos do futebol feminino e com um dos times mais populares e competitivos da Europa.

O Barcelona esteve em quatro das últimas cinco finais da Liga dos Campeões. Venceu metade. E das 23 selecionadas para a caminhada vitoriosa na Oceania, 22 atuam na Espanha. Sete delas no time da Catalunha e apenas duas no exterior: a atacante Jenni Hermoso (Pachuca, do México) e a defensora Ona Battle (Manchester United) As demais estão espalhadas entre Real Madrid, Atlético de Madrid, Sevilla, Levante e Athletic Bilbao.

Outro catalisador do feito inédito foi o gerenciamento de crise e continuidade do treinador. Antes de embarcar para a Copa do Mundo, jogadoras revelaram esgotamento físico e mental com os trabalhos do técnico Jorge Vilda. Algumas bateram o pé, recusaram jogar novamente pela seleção enquanto não viesse um dono ou dona da prancheta. O presidente da Federação, Luis Rubiales, bancou a permanência dele e colheu o fruto.

Existem críticas fora das quatro linhas, mas, dentro delas, Vilda é "o cara" da Espanha. O treinador de 42 anos presta serviços ao futebol feminino da Espanha desde 2010. Em 13 anos inserido no cenário nacional do esporte, passou pelas categorias sub-16, sub-17 e sub-19 até ser promovido ao time principal da La Roja em 2019.

"Se todo o passado foi necessário para sermos campeões do mundo, consideramos válido. A nível esportivo conseguimos coisas que nunca tínhamos alcançado antes. É uma satisfação. Vocês têm que acreditar neste esporte, nas mulheres. Foi um show de alto nível e se pudermos ser um exemplo para qualquer país, ficaremos muito felizes", discursou Vilda após a partida.

A Espanha é a atual campeã do mundo, é casa do time vencedor da Liga dos Campeões do ano passado e da melhor jogadora do planeta bola. Alexia Putellas passou longe do brilhantismo de outros torneios, mas foi peça fundamental. Apesar do êxtase pelo título, lamenta a falta de acertos das federações de outros países. "Me dá raiva, porque não é coisa de um único país, é muito repetitivo. Continuem a lutar, que se façam ouvidas e expliquem que tudo tem que mudar", esbravejou.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação