Série D

Ceilândia x Caxias: Adelson de Almeida e Gerson Gusmão prospectam decisão

Com experiência de sobra na quarta divisão, técnicos Adelson de Almeida e Gerson Gusmão lideram Ceilândia e Caxias no sonho de estar no jogo do acesso. Profissionais detalham fórmula e segredos para conquistar o objetivo de chegar nas quartas

Danilo Queiroz
postado em 19/08/2023 05:00
Adelson de Almeida e Gerson Gusmão guiam Ceilândia e Caxias em partida das oitavas de final da Série D do Brasileirão -  (crédito: Mateus Dutra/Ceilândia e Vitor Soccol/SER Caxias)
Adelson de Almeida e Gerson Gusmão guiam Ceilândia e Caxias em partida das oitavas de final da Série D do Brasileirão - (crédito: Mateus Dutra/Ceilândia e Vitor Soccol/SER Caxias)

Dos 53 anos de vida, o técnico Adelson de Almeida tem, pelo menos, 23 dedicados ao Ceilândia. Entre idas e vindas da longa trajetória, são mais de 300 jogos no comando do Gato Preto. Embora não encare desta forma, o de número 329, hoje, às 15h30, contra o Caxias, no Abadião, tem tudo para ser um dos mais especiais. Se vencer, o professor vai colocar o time no jogo do acesso da Série D do Campeonato Brasileiro. Talvez, um dos mais importantes dos 43 anos do clube. Um feito e tanto para alguém acostumado a enfrentar os mais diferentes desafios à frente do time responsável por representar a maior região administrativa do Distrito Federal. A torcida, inclusive, apresenta uma sinergia com o time não vista pelo treinador nos últimos anos. Com esse fator, o clube espera fazer o rival suar no "desertinho" e manter a invencibilidade de mais de um ano em casa na quarta divisão nacional.

Aos 49 anos, Gerson Gusmão tem expertise para tirar o Caxias da inércia de oito anos na Série D. O gaúcho de Novo Hamburgo foi o mentor de dois acessos consecutivos. Catapultou o Operário-PR da D para a C em 2017 como campeão; e da C para a B em 2018, novamente com troféu. Campeão de duas das quatro divisões, Gusmão tenta aplicar a fórmula do sucesso no grená há 55 dias. Ele assumiu em 25 de junho. A responsabilidade é grande pela tradição e a capacidade do clube de mudar o patamar de treinadores. O time foi escola para Celso Roth, Tite, Mano Menezes e Lisca. Humilde no discurso, o campeão piauiense pelo River neste ano fala como estudou o Ceilândia, comenta sobre o drama de jogar no calor e na seca do Planalto Central e faz questão de dizer que prefere assistir a jogos das quatro divisões nacionais do que uma partida de futebol internacional.

Entrevista - Adelson de Almeida, técnico do Ceilândia

O que a classificação significaria para você?

Para mim, sendo sincero, não muda muita coisa. Eu vivi aqui muitos altos e baixos. Ganhei títulos, bati vários recordes. Se não for agora, talvez eu tenha outra oportunidade lá na frente e o clube eu não sei. Encaro com muita naturalidade, mas vejo como de suma importância para o Ceilândia e o futebol de Brasília.

O fato de o Ceilândia não ter calendário para 2024 traz pressão?

Não. Se acontecer, não será a primeira vez. É uma pena pela estrutura que se tem hoje, a maneira de gestão do clube. Mas o formato é esse, as regras são essas. Se por um acaso acontecer, trabalhar para, futuramente, conseguir calendário.

A longevidade faz diferença?

Eu acho que é importante. Salvo engano, todas as Séries D que o Ceilândia disputou foram comigo. O fato de eu conhecer a competição, o formato e as regiões conta muito. Te dá uma certa experiência e eu tenho aproveitado muito isso.

Vocês enfrentaram um clima frio em Caxias. Agora, eles vão jogar no "desertinho". É uma vantagem?

Não vejo assim. O clima lá estava frio para os dois. Aqui, vai estar calor para os dois. O desgaste vai ter.

Mas o costume não conta?

Eu acho que a única diferença com relação ao clima é o fato da gente estar acostumado. Não vamos reclamar tanto. Mas o desgaste é para os dois. O clima quente vai ser prejudicial para os dois.

O que espera do Caxias?

A mesma dificuldade do que foi em Caxias do Sul. Uma equipe bem ajeitada, pesada, de marcação alta, que não te dá o contra-ataque limpo. Às vezes, você tem algumas roubadas de bola boas, mas não a ponto de definir uma jogada de ataque. A exemplo do que foi lá, eu espero muita dificuldade ou até mais um pouco.

O Peninha foi seu atleta. Como é enfrentá-lo?

Eu o cumprimentei lá. Ele é muito rápido. A qualidade do Peninha todo mundo conhece, principalmente aqui no futebol de Brasília. Mas a equipe do Caxias tem muitos bons jogadores.

Marcão, Peu e Emerson Martins também passaram pelo futebol daqui e te enfrentaram muito...

Mas isso aí, quando a bola rola, tudo muda. O fato de conhecer ajuda para passar algumas características da equipe, minhas. No final de tudo, o que prevalece sempre vai ser a qualidade do atleta e o desequilíbrio que eles possam ter dentro de campo.

Nesse tempo todo, lembra de ter visto a torcida tão conectada com o time como nessa Série D?

Desde o título do DF de 2010, nunca tinha visto. Acho importante, porque entenderam o que a gente está fazendo em prol do time, da cidade. Achei um barato. Se o Abadião estiver lotado, vou ficar muito feliz. A gente conta com a presença da nossa torcida em massa. Contra o Vitória, foram peça fundamental.

Entrevista - Gerson Gusmão, técnico do Caxias

O Caxias é um celeiro de técnicos: Roth, Tite, Mano, Lisca... Você é mais um da escola gaúcha na lista?

Tradicionalmente, o Caxias projeta profissionais pela maneira como o clube trabalha. Sabemos desse peso. É mais um fator que atrai para trabalhar aqui. O meu objetivo é colocar mais um clube na Série C. É contribuir pela mudança de patamar.

E você tem a fórmula. Levou o Operário-PR ao título.

Fui campeão na D, em 2017, e na C, em 2018. Dois acessos consecutivos. Ganhamos a segunda divisão do Paranaense. Deixei o clube na Série B. São situações parecidas. O Caxias pode traçar algo. Estamos merecendo faz tempo e uma hora vai acontecer.

A conquista do Piauiense é indicador do seu potencial?

Foi um projeto desafiador. Não havia calendário, pouco investimento. Não foi fácil convencer jogadores para um projeto de três meses. Acreditaram no nosso trabalho. O time não era campeão desde 2019.

Você assumiu o Caxias na 10ª rodada da fase de grupos. Não completou dois meses de trabalho. O time tem a sua digital?

O time, sim. O elenco, não. Quando cheguei, o grupo estava montado. Só pedi três reforços.

Qual é a projeção para o jogo contra o Ceilândia?

Esperamos mais um jogo duro. O Ceilândia é muito organizado, tem um bom sistema defensivo. Os números mostram solidez (seis gols sofridos). Não conseguimos fazer gol em casa, mas agora temos outra oportunidade.

O Ceilândia enfrentou o frio. Vocês temem o calor?

São as adversidades da divisão. Climas completamente diferentes. Da mesma forma que eles se adaptaram, nós teremos também. Temos muitos atletas com experiência em regiões quentes. É um empecilho, mas temos que superá-lo.

Pronto para possíveis pênaltis?

O futebol está nivelado. Essa possibilidade existe em eliminatórias. É corriqueiro. Temos de estar prontos. Temos bons goleiros para nos ajudar.

Quais técnicos o inspiram?

Fica difícil apontar. Felipão, Tite, Mano Menezes... O Fernando Diniz. Sou muito observador. Fico atento ao que acontece no futebol. Cada ano chegam profissionais novos. Gosto do Abel Ferreira no Palmeiras. Tem histórico vencedor.

Alguma referência na Europa?

Acompanho superficialmente. Procuro estar atento aos jogos das quatro divisões do Brasil.

A Série D impõe dificuldades para analisar adversários. Como estudou o Ceilândia?

Temos um analista de desempenho que filma os jogos e elabora um material diferente em comparação das transmissões.

Jogar em Brasília é novidade para você?

Não. Enfrentei o Gama quando era lateral-esquerdo. Depois, voltei como assistente técnico da Chapecoense contra o Brasiliense. 

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