COPA FEMININA

Fim da linha para Rainha: mesmo sem título, Marta deixa rico legado

Marta se despede de Copas do Mundo com queda do Brasil contra a Jamaica. Mesmo sem título, camisa 10 deixa rico legado

Arthur Ribeiro*
postado em 03/08/2023 03:55 / atualizado em 03/08/2023 06:51
A despedida da Rainha se deu de forma amarga, no empate contra a Jamaica, por 0 x 0. -  (crédito:  AFP)
A despedida da Rainha se deu de forma amarga, no empate contra a Jamaica, por 0 x 0. - (crédito: AFP)

Seis vezes melhor do mundo, maior artilheira de Copas do Mundo, maior goleadora da Seleção, transformadora do futebol feminino no Brasil e no mundo. No currículo, faltou apenas o título mundial. Com a eliminação precoce da equipe brasileira, ainda na fase de grupos, o sonho de Marta não pode mais ser realidade como jogadora.

A despedida da Rainha se deu de forma amarga, no empate contra a Jamaica, por 0 x 0. Pela primeira vez como titular nesta edição da Copa, a camisa 10 atuou por 81 minutos, mas não conseguiu ajudar a Seleção Brasileira a conquistar a classificação para a próxima fase.

Em seis participações em Copa do Mundo, entre 2003 e 2023, Marta disputou 23 partidas, com 14 vitórias, três empates e seis derrotas. O melhor desempenho foi em 2007, quando balançou as redes sete vezes e levou o Brasil ao vice-campeonato. Com 17 gols, a Rainha é a maior artilheira de mundiais entre homens e mulheres.

Na goleada do Brasil por 4 x 0 contra o Panamá, a Rainha se emocionou no hino nacional, viu do banco de reservas a construção da goleada, foi homenageada e entrou no segundo tempo para desfilar a realeza em campo.

Marta substituiu Ary Borges, artilheira da ocasião com três gols no jogo, e foi ovacionada pela torcida. Com os cerca de 20 minutos jogados na partida, a seis vezes melhor do mundo se tornou uma de apenas três atletas a disputar seis mundiais.

Ao término da partida, Ary foi eleita a melhor jogadora em campo e pediu para receber o prêmio das mãos da camisa 10. Na comemoração de um dos gols, a jovem meio campista fez uma coreografia em homenagem à ídola. O recado era claro: ganhar por ela.

Na derrota por 2 x 1 contra a França, Marta passou 85 minutos como reserva. Do banco, gritava e gesticulava após o Brasil sair atrás no placar no primeiro tempo. No segundo, a expressão de vibração no empate de Debinha depois se transformou em aflição, parecia sentir o outro gol francês, anotado pouco depois em erro da Seleção na bola parada.

A reserva de luxo só entrou nos instantes finais, com o placar desfavorável. Em campo por apenas 14 minutos, a Rainha pouco tocou na bola — apenas duas vezes, segundo o aplicativo estatístico Sofascore. Apesar de ter a artilheira de Copas dentro de campo, o Brasil se desorganizou no desespero e viu a França segurar o jogo até o apito final. Pouco se viu de Marta naquela manhã de sábado. A baixa utilização da craque, inclusive, virou assunto entre a torcida, principalmente na cobrança com a técnica Pia Sundhage.

Com o resultado, a Rainha não conseguiu se livrar de um dos maiores carrascos do reinado. O Brasil não venceu a França em nenhum dos 12 confrontos nos últimos 20 anos, em sete ocasiões com a alagoana em ação.

Bastava uma vitória simples para o Brasil se classificar, mas o gol não veio. Pela primeira vez entre os titulares na Copa de 2023, Marta foi uma das que mais tentou e orientou as companheiras. Ainda assim, a Rainha se precipitou em dois lances no primeiro tempo e finalizou mal - em um lance travada e no outro fraco -, enquanto poderia ter tocado para Ary Borges, livre do lado oposto.

Ainda assim, o papel de liderança era nítido. Acalmava as brasileiras, cobrava do árbitro quanto à cera jamaicana desde o primeiro tempo, levou cotovelada no rosto, levantou, batalhou. Só faltou o gol. O nível altíssimo de atuação apresentado ao longo de duas décadas deixou o gostinho de que poderia ter feito mais, apesar de ter sido uma das melhores da partida.

Aos 80, o fim sacramentado. Na tentativa de dar gás novo ao time, Pia sacou Marta para dar lugar a Andressa Alves. Como o Brasil falhou na tentativa de conseguir o gol da vitória, aquela saída de campo foram os últimos momentos da camisa 10 em Copas do Mundo.

A aflição no banco se juntou a incredulidade nos acréscimos. No papel de jogadora-assistente, mandava o time ir para a área em escanteio perigoso no último minuto. Não deu certo. Fim de jogo, fim de ciclo, fim do reinado de 20 anos no torneio.

"É difícil falar em um momento desses. Não era nem nos meus piores pesadelos a forma que eu sonhava, mas é só o começo. A Marta acaba por aqui, não tem mais Copa para a Marta. Eu estou muito grata pela oportunidade que eu tive de jogar mais uma Copa e muito contente com tudo isso que vem acontecendo no futebol feminino do nosso Brasil e do mundo. Continue apoiando, porque para elas é só o começo. Para mim, é o fim da linha agora", compartilhou na entrevista oficial pós-jogo.

Depois do apito final, quase não expressava emoção, apenas encarava o campo. Mas na sequência, abraçou ainda mais o papel de veterana ostentado durante a competição e foi consolar as outras jogadoras. Recebeu homenagens e palavras de conforto e agradecimento até das adversárias jamaicanas.

No caminho para os vestiários, acenou para a torcida, agradeceu o apoio e saiu emocionada rumo ao destino de outras lendas do esporte: a história.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

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