Perder para a França após começar bem a trajetória na Copa do Mundo ao golear o Panamá estava totalmente fora dos planos da Seleção Brasileira. Além de reativar um trauma antigo contra o rival — o qual nunca venceu no futebol feminino —, o tropeço de ontem, por 2 x 1, em Brisbane, virou a situação tupiniquim na competição internacional de cabeça para baixo. Fora da zona de classificação do Grupo F, a equipe da técnica Pia Sundhage viu a partida contra a Jamaica, pela terceira e última rodada da primeira fase, se transformar em uma verdadeira final antecipada.
O jogo de quarta-feira, às 7h, no Melbourne Rectangular, obviamente, não valerá o título. Mas virou questão de sobrevivência. A frieza dos cálculos chega a impressionar quem venceu com folga na estreia: como caiu da liderança para o terceiro lugar do grupo com a derrota para a França, a Seleção Brasileira vai jogar o mata-mata do Mundial apenas se vencer Jamaica. Não há outra alternativa. Como as rivais conseguiram tirar pontos das francesas na rodada de estreia, ganharam o direito de atuar por qualquer empate para conseguir uma classificação inédita no torneio na segunda participação.
O duelo de Brasil e Jamaica com status de eliminatório será, basicamente, para definir quem se classifica na segunda colocação da chave. No cenário atual, soa inimaginável ver a França perder pontos para o eliminado Panamá. Com isso, o temido cruzamento nas oitavas de final contra a Alemanha — caso as europeias confirmem o favoritismo e terminem em primeiro lugar na chave H — surge como destino mais provável se a Seleção Brasileira superar as adversidades evidenciadas pela derrota de ontem e garantir a vaga.
Cerca de um mês antes de enfrentar a França, quando convocou as 23 jogadoras para a disputa da Copa do Mundo, no final de junho, a técnica Pia Sundhage fez uma espécie de prognóstico apocalíptico da trajetória na Seleção Brasileira na segunda fase. Ao avaliar o peso das adversárias e as nuances envolvendo cada uma das partidas, fez questão de cravar o duelo derradeiro contra as jamaicanas como primordial na caminhada tupiniquim. "O jogo mais importante é contra a Jamaica. São times muito diferentes. O tempo e os resultados contra o Panamá e a França trataram de dar lógica à análise.
Ontem, após a derrota com sabor amargo para as francesas, Sundhage voltou a ressaltar a importância de ir bem contra a Jamaica. Agora, entretanto, a análise tem viés derradeiro pela obrigatoriedade de vitória para seguir vivo. Para obter êxito na empreitada final, o Brasil vai jogar assombrando pelos fantasmas das edições de 1991, na China, e em 1995, na Suécia, quando a Seleção acabou eliminada na primeira fase da Copa do Mundo.
"Agora, temos a Jamaica pela frente, foco total. Vamos voltar às nossas bases. A gente quer realmente um time mais feliz, com mais alegria, com jogo bonito, brasileiro. É algo que nós precisamos recuperar para o próximo jogo", reiterou a técnica em entrevista pós-jogo ao SporTV. O tempo para se reerguer, entretanto, é curto. Serão dias livres para treinamentos e reuniões com a meta de traçar a estratégia ideal para avançar às oitavas de final do Mundial.
Bola aérea
Antes de jogar com a França, o Brasil sabia da principal arma adversária: a bola aérea. Ciente da força dos 1,87m da zagueira Wendie Renard, a jogadora de linha mais alta da atual edição da Copa do Mundo, a Seleção chegou a realizar uma reunião sobre os cuidados defensivos contra o recurso no dia do jogo. Porém, não conseguiu colocar os antídotos em prática. O primeiro gol francês no jogo, de Le Somme, de apenas 1,63m, também foi de cabeça. Os erros de marcação no quesito evidenciaram a urgência por uma resolução totalmente eficaz.
A Jamaica não tem nenhuma atleta com o poder aéreo tão forte quanto Renard. A zagueira Chantelle Swaby, de 1,81m, e as atacantes Khadija Shaw, de 1,82m, e Cheyna Matthews, de 1,75m, são as jamaicanas mais perigosas no quesito. "Toda vez que entramos, queremos a vitória, será do mesmo jeito com a Jamaica. Se a gente jogar o que jogou no segundo tempo, sei que sairemos com a vitória. É prestar atenção nos detalhes e ir para cima delas", garantiu Debinha, autora do gol do Brasil.
Seja nos detalhes durante o andamento das partidas ou, especificamente, na bola aérea, a Seleção Brasileira se colocou em um cenário de urgência. Todo o destino na Copa do Mundo e o sonho de voltar para casa com o título inédito estarão concentrados em apenas uma partida. Daqui em diante, será assim. E a primeira final é contra a Jamaica.