FUTEBOL

Levantamento do Correio mostra a expansão no mercado do futebol feminino

Levantamento do Correio na relação das 736 convocadas para a Copa do Mundo indica crescimento do futebol feminino entre os 211 membros da Família Fifa. Saiba quantas ligas nacionais emplacaram pelo menos uma jogadora no torneio

Dos 211 países filiados à Fifa, 45 cederam pelo menos uma jogadora para a disputa da Copa do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia. O levantamento produzido pelo Correio Braziliense na lista das 736 convocadas pelas 32 seleções mostra a expansão do futebol feminino entre os associados — mas também escancara o tamanho do desafio da entidade.

As missionárias da bola precisam empoderar outras 166 federações. Um mercado específico é o Oriente Médio. Sete meses depois da primeira versão da Copa do Mundo masculina realizada no Catar com as participações do anfitrião, da Arábia Saudita, Irã, Tunísia e Marrocos. o mundo árabe é representado por um no feminino: o debutante Marrocos.

Valdo Virgo/CB/D.A. Press - Mercado do futebol feminino no mundo

O mapa da Copa do Mundo Feminina impressiona pelas disparidades. Seleções como Itália, Estados Unidos e Vietnã, por exemplo, têm apenas uma jogadora empregada no exterior. Em contrapartida, Nigéria, Jamaica e Haiti têm jogadores vinculadas, respectivamente, a 21, 20 e 16 times diferentes. As ofertas de postos de trabalho cancelam um dado lastimável da edição anterior. A Copa da França tinha 11 jogadoras desempregadas em 2019.

Considerando as confederações, é possível observar os contrastes entre os mercados do futebol feminino. A variação vai dos 110 times europeus com uma atleta convocada ao Wellington Phoenix, da Nova Zelândia, único clube da Oceania representado no Mundial disputado na... Oceania! A América do Sul, liderada pelo Brasil, tem 23 clubes e 41 atletas recrutadas. É superado pelos Estados Unidos, com 86 jogadores de 35 franquias diferentes. A Europa fornece 53,3% de todas as mulheres inscritas.

Alguns clubes aparecem como base das seleções nacionais. É o caso do Wolfsburg. O atual vice-campeão da Champions League tem 10 atletas convocadas pela Alemanha. Real Madrid e Barcelona liberaram oito cada um para a Espanha.

Entre tantos escudos e instituições, até o quadradinho do Distrito Federal aparece no mapa-múndi da Copa do Mundo Feminina. As colombianas Lorena Bedoya e Lady Andrade representam o Real Brasília na seleção da Colômbia, uma das sensações da primeira rodada.

O intercâmbio e a variedade de mercados determinam o avanço do futebol feminino na Família Fifa. A variedade de mercados tem favocido uma das alavancas para o crescimento: o intercâmbio. O Haiti, por exemplo, tem 14 jogadoras atreladas a times do Campeonato Francês, um dos mais fortes do mundo. Uma delas é a craque Melchie Dumornay, de 19 anos, recém-contratada pelo Lyon. Outras sete trabalham nos Estados Unidos. Uma atua na liga russa e outra defende clube do próprio país. Esthericove Joseph joga no Exafoot.

"Isso tem acontecido cada vez mais. A gente já consegue ver algumas atletas indo para os Estados Unidos e a Europa, então tem se movimentado não só pela Copa do Mundo, mas pelo movimento contínuo do futebol feminino e o desenvolvimento. A competição traz um olhar especial para o desenvolvimento da modalidade. A gente percebe que placares elásticos já não são mais realidade: só Brasil, Alemanha e Japão golearam na primeira rodada", observa a técnica do Real Brasília, Camilla Orlando.

Segundo ela, o cenário doméstico da América do Sul faz parte do fenômeno de crescimento global. "As seleções estão evoluindo e o processo nos clubes, ligas e torneios também, refletindo no mercado, não só para as atletas, mas para treinadores", destaca Camilla.

A treinadora trabalhava até pouco tempo no Oriente Médio. "Eu recentemente estava na seleção dos Emirados Árabes Unidos. A gente vê a Emily (Lima) na seleção do Peru, a Tatiele (Silveira) no Colo-Colo (clube chileno). Há contratos melhores, mais bem escritos e esse mercado se aprimora, com mais empresas de gestão de carreira. A Copa do Mundo acelera toda essa visibilidade e isso é espetacular”, relata.

Linha do tempo

A historiadora Renata Lemos ajuda a montar a cronologia da evolução no feudo da Fifa. "Ao longo do século 20, o futebol feminino foi impedido em diversos países do mundo e nunca foi exatamente incentivado de forma organizacional e institucional. Isso é uma percepção recente: na década de 1970 e 1980, a Fifa começa a perceber o potencial do futebol feminino e a organizar estudos e formas de trazer rentabilidade mercadológica. É nesse momento que a gente tem a queda da proibição no Brasil e a regulamentação da modalidade, em 1983”, relembra.

Renata Lemos cobra políticas perenes e até mais agressivas no futebol nacional. "Com proposta e pressão da Fifa às confederações e federações para investir e incentivar o futebol de mulheres, várias entidades nacionais podem se movimentar para criar ligas mais fortes, organização de calendários e tornar o esporte mais atrativo. Os grandes clubes europeus começam a investir e a perceber uma possibilidade de mercado e crescimento".

Ninguém cedeu mais jogadores para a Copa do que o Campeonato Inglês: 108 atletas atuam na terra do Rei Charles II. Eram 49 na Copa da França, em 2019. Isso atesta a consolidação do novo destino. O país britânico faz parte do grupo com representantes de mais de 10 times locais no torneio ao lado da Espanha, Austrália, França e Estados Unidos.

A Super League desbancou a National Women's Soccer League (NWSL) no ranking, porém, a liga profissional dos EUA continua no holofote. “É o grande centro do futebol feminino, por isso sempre chega como favorito nas competições. É onde as atletas almejam ir. A Europa cresceu muito em seleções e clubes, e a gente ainda tem o Brasil. Apesar dos pesares internos das competições, temos uma força interessante no contexto global. Apesar disso, há um cenário maleável, com seleções favoritas tropeçando”, acrescenta Renata Lemos.

*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

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