A história mostra que futebol e música caminham juntos. Há 21 anos, na Coreia do Sul e Japão, o pagode e o samba embalavam a Seleção Brasileira masculina na conquista do pentacampeonato. Amanhã, é a vez de a treinadora Pia Sundhage ver se a orquestra composta por Debinha, Tamires, Marta e companhia está afinada na caça ao título inédito da Copa do Mundo feminina O pontapé inicial será bem cedinho, às 8h, contra o Panamá. Com as devidas adaptações à canção do Barão Vermelho, podemos dizer que o Brasil está por um triz de ver um dia nascer feliz.
E por falar em dias, amanhã completarão 1.425 desde o início da sueca Pia Sundhage à frente da Seleção. Muita coisa aconteceu após a goleada por 5 x 0 sobre a Argentina, na estreia da técnica com a prancheta verde-amarela, em 29 de agosto de 2019. Teve amistoso, Copa América e até Jogos Olímpicos. Mas a missão mais nobre do ciclo de quase quatro anos é tratada como "aqui e agora".
A jornada em Tóquio-2020 era mais uma preparação de luxo que uma obrigação. Pia ainda estava em fase de adaptação ao país e ao elenco. E como se não bastasse o choque de cultura ao trocar a Europa pelo Brasil, encarou a pandemia de covid-19 no meio do caminho. Agora, tudo está, na medida do possível, nos trilhos. A sueca chega para a Copa do Mundo com um ciclo completo e extremamente entrosada com as jogadoras, dentro e fora das quatro linhas.
Para desembarcar na Oceania com o máximo de segurança possível nas escolhas, Pia Sundhage testou 86 jogadoras até a convocação final, em 27 de junho. Mas a nota de corte da Fifa é alta. Apenas 23 nomes foram permitidos — com mais três suplentes. Onze delas estreantes. Quase 90 atletas foram utilizadas em 52 jogos. Durante o "aquecimento" para a jornada na Austrália e na Nova Zelândia, Pia teve 52 partidas para encontrar a melhor cara para o Brasil. Pode-se afirmar que fez bem com as 33 vitórias, 12 empates, oito derrotas e o aproveitamento de 69% dos pontos.
Além dos números, o desempenho também traz otimismo. A trupe de Pia Sundhage não ficou presa aos confrontos contra sul-americanas ou equipes de menor expressão no cenário. Na reta final da preparação para o Mundial, empatou com a Inglaterra, atual campeã da Eurocopa, e superou a Alemanha, vice do segundo torneio de seleções mais prestigiado do planeta bola, por 2 x 1 em Nuremberg.
A aposta em Pia evidencia um carinho sem precedentes da Cofederação Brasileira de Futebol (CBF) com a Seleção feminina. A era de "remendos" no comando técnico parece ter chegado ao fim. Indas e vindas como a do falecido Vadão ou projetos a curto prazo. Quase sem querer, a sueca dá um recado ao presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, de que competência e profissionalismo não tem a ver com a cor do passaporte. Não à toa, o italiano Carlo Ancelotti é o desejo de consumo do cartola para assumir o time masculino.
Pé-quente em estreias
Para os supersticiosos de plantão, Pia Sundhage jamais perdeu em estreias de torneios internacionais pela Seleção Brasileira. Há dois anos, aplicou sonora goleada por 5 x 0 sobre a China no início da caminhada nas Olimpíadas de Tóquio. Na campanha do octacampeonato da Copa América, no ano passado, voltou a ser pedra no sapato da Argentina com o triunfo por 4 x 0.
"A gente está se preparando há um tempo com treinos. Agora chegou o momento de jogar, de fazer acontecer. Acho que todo mundo está confiante. O elenco está muito bem preparado, tem muita qualidade, tem muito talento aqui. Estamos muito confiantes, independentemente de quem vai começar o jogo", discursou Pia Sundhage.
Existem mistérios na escalação da Seleção. Pia Sundhage fechou alguns treinamentos para a imprensa. Tudo isso na tentativa de não entregar o jogo para as adversárias. Mesmo com algumas incógnitas, a tendência é de que Marta comece a sexta Copa do Mundo da carreira na reserva. A Rainha ainda convive com desconfortos na coxa e deve ser poupada no início da partida. Sem a camisa 10, a responsabilidade recai sobre Debinha, maior artilheira da Era Pia, com 29 gols. "A ficha realmente caiu, de estar em uma Copa do Mundo. A cabeça está leve e o coração cheio de expectativa. Desde quando comecei a jogar, sempre sonhei em estar aqui. Para mim, ser campeã por natureza é representar tudo o que passei", comentou a camisa 9 nas redes sociais.