Futebol

Liderados por Felipão, técnicos driblam o etarismo no Brasileirão

Série A chega à 15ª rodada com sete dos 20 treinadores acima dos 60 anos. Depois da pressão por renovação, técnicos jovens perdem espaço para as vozes da experiência. Ligas europeias ditam a tendência

Certo por linhas tortas, o Campeonato Brasileiro virou palco de um debate atual: o etarismo. Há nove anos, a maior derrota da história da Seleção Brasileira para a Alemanha, por 7 x 1, condenou técnicos vitoriosos do futebol nacional ao ostracismo. A geração de treinadores como Luiz Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo passou de uma hora para outra a não ter mais idade para assumir uma prancheta. Apesar da intolerância, Felipão levou o Palmeiras ao título do Campeonato Brasileiro em 2016. Luxemburgo encerrou o jejum do Palmeiras no Paulistão em 2020. Em um contrassenso, profissionais nascidos fora do país como os portugueses Jorge Jesus (68) e Jesualdo Ferreira (77) eram recebidos com tapete vermelho no país.

A Série A tem uma mudança de perfil. Depois de uma entrega em massa das pranchetas a jovens treinadores, há um recuo em busca de experiência. Dos 20 treinadores empregados na elite antes do início da 15ª rodada, sete têm no mínimo 60 anos. Luiz Felipe Scolari é o decano da turma com 74 anos. O recordista de títulos Vanderlei Luxemburgo (71), os argentinos Ramón Díaz (63) e Jorge Sampaoli (63) e os brasileiros Mano Menezes (61), Dorival Júnior (61) e Renato Gaúcho (60) completam o bloco.  

Na maioria dos casos, a reinserção dos profissionais no mercado de trabalho é casual. O Atlético-MG era comandando por Eduardo Coudet (48). Uma estratégia mirabolante da diretoria alvinegra tirou Luiz Felipe Scolari da aposentadoria. O sucessor é 26 anos mais velho — e vencedor — do que o argentino. Felipão havia, inclusive, sido homenageado pela Confederação Sul-Americana de Futebol no início do ano pelos serviços prestados ao futebol. Trabalhava até o mês passado como coordenador no Athletico-PR quando topou voltar ao batente na Cidade do Galo.

"Eu fiquei até surpreso. Foi uma coisa nova para mim", comentou Felipão ao tomar posse no novo emprego. "Mas é para também mostrar e tentar fazer com que esse público, que essas pessoas que têm mais de 70 anos não estão acabadas como algumas pessoas pensam. Estão prontas, querem atividade, querem fazer o melhor. Podem dar experiência, conhecimento para que os mais jovens também, com a dinâmica deles, implementem e pensem um pouquinho sobre fazer isso ou aquilo melhor", discursou.

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Vanderlei Luxemburgo não havia anunciado oficialmente a aposentadoria, mas se comportava como ex-técnico. Empresário do ramo da comunicação em Tocantins, arriscou uma pré-candidatura ao senado, mas teve a indicação cancelada de maneira controversa pelo PSB-TO. Quando recebeu o convite para assumir o Corinthians, estava em Brasília tratando dos ajustes para um torneio de categorias de base em Palmas. Até convidou times do DF para a competição. Paralelamente, visitava parlamentares no Congresso Nacional. Enquanto isso, o nome dele crescia como opção para o Corinthians e o senhor de 71 voltou.

"Muita gente fala que tenho que me atualizar, e estou buscando me atualizar. Na minha saída do Real Madrid, eu tinha cinquenta e poucos anos. Hoje faria diferente. Foi uma saída tempestiva. Olho como alguém que sempre modernizou. Continuo com o mesmo pensamento e reconhecendo que muitas das coisas que existem hoje, foi o Luxemburgo que trouxe. Acho que eu já vinha como vanguarda", desabafou, na chegada para a terceira passagem pelo Corinthians.

O etarismo ainda não atingiu treinadores do bloco sexagenário do Brasileirão. Ramón Díaz, Jorge Sampaoli, Mano Menezes e Renato Gaúcho continuam em alta no mercado. Campeão da Libertadores em 1996, Díaz tem 63 anos. Chega ao Vasco para substituir Maurício Barbieri, 41. Roger Machado deu lugar a Renato Gaúcho em 2022, 12 anos mais velho do que o antecessor no cargo.

O preconceito à idade é combatido na Espanha. La Liga emprega seis treinadores com no mínimo 60 anos: o virtual técnico da Seleção Carlo Ancelotti (64), Javier Aguirre (64), Quique Setién (64), Manuel Pellegrini (69) e José Mendilibar (62). Real Madrid, Villarreal, Betis e Sevilla se classificaram para a Liga dos Campeões sob a batuta de técnicos sexagenários. O Italiano tem quatro sessentões. Entre eles, José Mourinho. O Inglês conta com dois. O Francês, um. O Alemão, sim, é mercado para técnicos sub-60.  

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