O otimismo pela chegada de Carlo Ancelotti e o contrato com Fernando Diniz até o próximo ano mostram que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) buscou alcançar um padrão de excelência para definir o sucessor de Tite. Se o italiano é o treinador recordista de títulos da Liga dos Campeões (4), o mineiro de Pato de Minas é considerado o mais ousado e encantador dos técnicos nacionais. As expectativas são grandes, mas, diferentemente da rotina de um clube, trabalhar em Seleção demanda agilidade pelos curtos ciclos de treinamentos com pouco para conhecer jogadores e implementar ideias.
Quem vê os times ofensivos com a assinatura de Diniz talvez não lembre que o treinador exige tempo para implementar as iniciativas atrevidas em campo. Foi assim com o São Paulo entre 2019 e 2020 e com a atual versão do Fluminense. O tête-à-tête com os jogadores no cotidiano é um dos catalisadores para os trabalhos notórios do técnico. A convivência diária e a implementação das filosofias com base nas repetições são os ingredientes para que os jogadores comprem a ideia dele. Embora esteja focado em entregar o melhor no contrato até o próximo ano, Diniz reconhece o peso desses fatores.
"É uma coisa que interfere. De fato, tem menos tempo (para treinos na Seleção). Mas as coisas básicas, acho que conseguimos passar com pouco tempo, ter alicerce para, aos poucos, ter a ideia. O jogo vai ter fluência, vai se encontrando. Com pouco tempo, já dá para colocar alguma coisa do nosso trabalho. A gente não vai fazer mudanças táticas radicais com um, dois dias de treino. Mas alguma coisa a gente consegue melhorar", garantiu durante a apresentação, na última quarta-feira (5/7), na sede da CBF, no Rio de Janeiro.
O desafio é grande, mas a vontade de Fernando Diniz em mostrar serviço é ainda maior. Aproveitar o tempo para colher os frutos em campo é uma das prioridades do novo dono da prancheta verde-amarela. "Meu trabalho não se resume nesse olhar mais comum. Futebol é mais que isso. Aos poucos, os jogadores vão amadurecendo as ideias táticas que tenho na cabeça", afirmou. Ao aceitar o convite do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, Diniz saberia que seria o responsável pelas três primeiras convocações para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Em setembro, o Brasil recebe a Bolívia e visita o Peru. No mês seguinte, encara a Venezuela em casa e depois cruza a fronteira para enfrentar o Uruguai. O fim dos trabalhos na temporada será contra Colômbia (fora) e Argentina (em casa). Além das pedreiras da América do Sul, o estepe à beira do gramado pode ser o responsável por ensaiar a equipe para os sonhados e tão cobrados amistosos contra europeus. Caso Ancelotti não chegue antes, Diniz organizará a companhia para os compromissos contra a Espanha, em Madri, e provavelmente contra a Alemanha.
Além dos resultados
Ciente de que o tempo é curto e a cobrança é grande, Fernando Diniz pede uma mudança de postura quanto aos trabalhos em clubes e na Seleção. "Uma das coisas que a gente tem de discutir é em relação a resultado. A gente determina o valor do time, de pessoas, com base em uma bola que entra ou não. No processo, a vida é muito mais que isso. Não significa que não tenha apreço pela vitória. As coisas vão muito além disso. É um desejo muito infantilizado de achar herói e vilão o tempo todo. Quando temos os resultados, como foi o Carioca com o Fluminense, foi resultado de um trabalho muito bem organizado, muito bem executado, e foi um feito histórico. Mas tem trabalho por trás disso", discursou.
"Se não tivesse vencido, eu não ia me achar o pior dos treinadores, porque não venci. Uma das coisas que a gente tem de discutir é a maneira de analisar tudo por causa da bola que entra, que não entra. Para mim, isso não contribui com nada", desabafou Diniz. E como se não bastassem os encontros regrados e a pressão, Diniz precisará lidar com a dupla jornada entre a Barra da Tijuca e as Laranjeiras. Afinal, o Fluminense não pode ficar de lado.
Embora torcedores questionem a conciliação das pranchetas, tanto Diniz quanto o presidente tricolor, Mario Bittencourt, garantem que não haverá conflitos de interesse. "Vou me dedicar 100% onde estiver. Quando estiver no Fluminense, dedicação total. Vou sair daqui e estudar o Inter. Quando estiver na Seleção, vou me centrar e me dedicar totalmente à Seleção. Claro que sou ser humano e não dá para fazer corte radical. Minha dedicação vai ser máxima onde estiver naquele momento", assegura.
Ramon fica com a Seleção Olímpica
Ramon Menezes será o treinador da Seleção Brasileira nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, de 20 de outubro a 5 de novembro, e nas Olimpíadas de Paris, no próximo ano. O anúncio foi feito pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, após a apresentação de Fernando Diniz. Ramon Menezes comanda a equipe sub-20 desde o ano passado. No início de 2023, conquistou o Campeonato Sul-Americano da categoria, mas amargou a eliminação para Israel nas quartas de final do Mundial.