BRASILEIRÃO

Palmeiras e CBF se alfinetam em batalha de notas oficiais

Após auxiliar João Martins levantar narrativa de ser "ruim para o sistema" um bicampeonato do alviverde, clube e entidade entram em guerra fria. Leia as notas e as reclamações de cada parte

Uma reclamação pós-jogo provocou um climão institucional entre o Palmeiras e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Após o auxiliar técnico João Martins dizer em entrevista coletiva ser "ruim para o sistema" o alviverde ser campeão nacional dois anos seguidos, a entidade organizadora do Campeonato Brasileiro rebateu, em nota oficial, apontando uma suposta xenofobia durante a fala do profissional. O clube paulista defendeu o português e questionou erros de arbitragem.

Tudo começou no pronunciamento da comissão técnica palmeirense após o empate, por 2 x 2, contra o Athletico-PR. Escalado para falar com os jornalistas devido à suspensão do técnico Abel Ferreira, João Martins reclamou de erros da arbitragem contra a equipe paulista. O principal lance reclamando foi a não expulsão de Zé Ivaldo em pênalti em Endrick. O português deixou no ar uma possível interferência para evitar campeões consecutivos no Brasileirão.

"Ainda bem que sou eu hoje aqui (no pronunciamento). Nós entendemos que o futebol brasileiro passa uma imagem de que é o mais competitivo do mundo porque vários times ganham. Mas ganham vários porque, muitas vezes, não deixam os melhores ganhar. Foi mais uma vez o que se passou hoje. É ruim para o sistema o Palmeiras ganhar dois anos seguidos", reclamou João Martins. O auxiliar não chegou a ser sabatinado pela imprensa.

Internamente, a CBF ficou bastante incomodada com a fala do auxiliar técnico de Abel Ferreira. Após debate interno, a entidade classificou o pronunciamento como "xenofobia" - por diminuir o futebol brasileiro em comparação com o Europeu - e anunciou o envio das falas para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). A intenção seria fazer João Martins revelar provas do suposto esquema para o Palmeiras não ser campeão nacional em sequência.

"O ato lamentável foi muito além das reclamações semanais da arbitragem. O que ocorreu, de fato, foi um desfile de grosserias e uma tentativa infantil e até xenofóbica de reduzir a relevância do futebol brasileiro na Europa, mostrando inclusive desconhecimento do próprio campeonato que disputa, que já teve tricampeões, bicampeões, com vários times ganhando seguidamente", diz parte do texto da CBF. "O comportamento do jogador brasileiro, que o funcionário em questão tanto critica, não corresponde à realidade", prossegue.

Palmeiras retruca

A nota da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não foi bem vista no Palmeiras, principalmente por ser nitidamente direcionada ao clube paulista. Em entrevista coletiva quase simultânea, por exemplo, o técnico Luís Felipe Scolari também reclamou da arbitragem e apontou, sem provas, uma pré-disposição da arbitragem para aplicar cartões vermelhos ao atacante Hulk. Segundo o jornalista André Rizek, no Seleção SporTV, o alviverde se incomodou com esse detalhe.

Assim, a diretoria palmeirense ganhou armas suficientes para contra-atacar. Também em nota, o clube chamou o posicionamento da CBF de "agressivo" e enumerou uma série de erros recentes da arbitragem em jogos envolvendo o Palmeiras, como a eliminação diante do São Paulo, na Copa do Brasil de 2022. A nota oficial também questionou qual teria sido a postura xenofóbica de João Martins citada pela entidade. "Elogiar a qualidade dos jogadores brasileiros?", deixou no ar.

"Diante da nota oficial divulgada pela CBF e dos reiterados erros graves cometidos contra o Palmeiras, entendemos ser este o momento oportuno de demonstrar, em público, a nossa indignação. Não queremos ser beneficiados, mas exigimos que as regras sejam aplicadas com isonomia", reclama o clube. O alviverde citou, ainda, os desfalques recentes do clube na Data Fifa. Na última parada, o time jogou um dia após a Seleção Brasileira e ficou sem Weverton, Rony e Raphael Veiga.

Veja a entrevista de João Martins

Confira a nota oficial completa da CBF

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lamenta profundamente o que se viu ontem (02/07) por parte do auxiliar técnico do Palmeiras, João Martins, designado para a entrevista coletiva pós jogo. O ato lamentável foi muito além das reclamações semanais da arbitragem. O que ocorreu, de fato, foi um desfile de grosserias e uma tentativa infantil e até xenofóbica de reduzir a relevância do futebol brasileiro na Europa, mostrando inclusive desconhecimento do próprio campeonato que disputa, que já teve tricampeões, bicampeões, com vários times ganhando seguidamente.

O comportamento do jogador brasileiro, que o funcionário em questão tanto critica, não corresponde à realidade, na medida em que o Brasil é o país do mundo que mais tem jogadores atuando no exterior, inclusive na própria seleção portuguesa.

A atual gestão da arbitragem da CBF nunca, em nenhum momento, esteve tão transparente e se expôs tanto, dando satisfações públicas semanais, inclusive reconhecendo eventuais erros. Somos o único país do mundo a oferecer avanços tecnológicos nos estádios, com os telões mostrando os lances da partida em tempo real. Inclusive, o lance em questão, alvo de reclamação, foi acompanhado por todo o estádio, por jogadores e torcedores. A CBF, através de sua comissão de arbitragem, quer assim dar total transparência aos lances duvidosos que normalmente ocorrem durante as partidas.

Nunca a entidade investiu tanto no aprimoramento da arbitragem. Nesta segunda-feira (03/07), por exemplo, os árbitros designados para a próxima etapa da Copa do Brasil estão em treinamento no Rio de Janeiro. E também hoje à tarde, e pelos próximos 15 dias, as árbitras vão passar por cursos, treinamentos e aprimoramento técnico. Os investimentos são expressivos e com foco na constante melhoria da qualidade do quadro de arbitragem. Avanços esses que somos pioneiros no mundo.

Equívocos de arbitragem, de jogadores, técnicos, acontecem em todos os lugares, inclusive e, principalmente, na Europa. São parte do processo, do mecanismo do futebol, que não é feito por máquinas. Portanto, nada justifica o que se viu ontem e que foi amplamente divulgado pela imprensa em todo o mundo.

A CBF está encaminhando o vídeo contendo as declarações do profissional do Palmeiras ao presidente e ao procurador do STJD para que ele revele qual seria o esquema ou o sistema no futebol brasileiro que não permite que o melhor vença.

Leia a réplica do Palmeiras

Diante da agressiva nota oficial divulgada nesta segunda-feira (3) pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a Sociedade Esportiva Palmeiras propõe alguns questionamentos, sempre no sentido de defender os direitos do clube e contribuir com a melhora do produto futebol:

– Por que o comunicado da CBF é endereçado exclusivamente ao Palmeiras, sendo que profissionais de outra equipe da Série A fizeram, também ontem, comentários semelhantes aos do auxiliar técnico João Martins?

– Por que a opinião de um profissional português sobre o futebol brasileiro causou tanto desconforto à CBF se a própria entidade, como é de conhecimento público, busca um treinador estrangeiro para comandar a Seleção Brasileira?

– Qual teria sido a conduta “xenofóbica” de João Martins? Elogiar a qualidade dos jogadores brasileiros?

– Se a gestão da Comissão de Arbitragem investe tanto assim em tecnologia, por que o nosso VAR é incapaz de apontar objetivamente se uma bola ultrapassou ou não a linha de gol, como aconteceu no recente duelo entre Palmeiras e Bahia, pelo Brasileiro?

– Por que o atleta Zé Ivaldo, do Athletico-PR, não foi expulso ontem, após acertar uma cotovelada na nuca do atacante Endrick, em lance revisado pelo VAR?

– Por que no jogo entre Palmeiras e São Paulo, pela Copa do Brasil de 2022, o VAR não traçou a linha de impedimento no lance que originou o gol do nosso adversário e que nos custou a eliminação? Por que a imagem da revisão desta jogada sumiu?

– Por que a Comissão de Arbitragem da CBF, presidida por Wilson Seneme, nunca pediu desculpas ao Palmeiras pelo erro grave cometido pelo VAR na Copa do Brasil do ano passado?

– Por que o Palmeiras, na rodada seguinte após a mais recente Data Fifa, não pôde contar com nenhum de seus três atletas convocados para a Seleção Brasileira?

A Sociedade Esportiva Palmeiras, ao longo dos anos, sempre se preocupou em construir uma relação de saudável parceria com a Confederação Brasileira de Futebol. Há cerca de três semanas, a presidente Leila Pereira esteve na sede da entidade, no Rio de Janeiro (RJ), para conversar com Wilson Seneme, de quem ouviu a promessa de melhorias imediatas na arbitragem.

Na semana seguinte, o vice-presidente da Comissão de Arbitragem, Emerson Carvalho, e o gerente técnico do VAR, Periclés Bassols, chegaram a realizar uma palestra para os profissionais do clube na Academia de Futebol, também com a presença da presidente Leila Pereira.

Contudo, diante da nota oficial divulgada pela CBF e dos reiterados erros graves cometidos contra o Palmeiras, entendemos ser este o momento oportuno de demonstrar, em público, a nossa indignação. Não queremos ser beneficiados, mas exigimos que as regras sejam aplicadas com isonomia.

Confiamos na independência do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), evocado pela CBF, e temos convicção de que o órgão dará ao auxiliar João Martins o tratamento equilibrado que lhe compete.