A capital federal terá o privilégio de torcer para a Seleção Brasileira de futebol feminino no último compromisso antes da Copa do Mundo, na Austrália e na Nova Zelândia, de 20 de julho a 20 agosto. Neste domingo (2/7), o Estádio Mané Garrincha será palco do amistoso que encerrará a preparação para a Copa do Mundo, contra o Chile, às 10h30.
Para alguns torcedores, essa pode ser a oportunidade mais clara de acompanhar e mandar energias positivas para a missão mais nobre do ciclo, do outro lado do mundo. A distância, porém, não será um problema. Criado para apoiar exclusivamente a Seleção, o Movimento Verde Amarelo garante presença durante toda a jornada, incluindo uma festa planejada, durante e depois da partida em Brasília.
O esquenta para a partida começa em frente ao estádio, às 8h, e se estenderá até um bar no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Enquanto a bola rolar, está prevista a exibição de um bandeirão de homenagem à atacante Marta, principal nome do futebol feminino do país. Outra presença marcante está confirmada para a partida: a ex-atacante Nildinha, figura da Seleção nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996 — a primeira do esporte como categoria.
“Com apoio necessário às próximas gerações, tudo se torna mais fácil. Estou satisfeita com os nomes chamados porque são atletas de alto nível. Em convocações, sempre temos opiniões contraditórias, mas agora é nos unir e torcer pela Seleção. Na minha época, não tínhamos apoio, mas tínhamos grandes jogadoras que jogavam pelo amor à camisa do nosso país. Agora, vamos torcer para o Brasil trazer o título”, relata a ex-jogadora.
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O Movimento Verde-Amarelo pretende levar cerca de 100 integrantes à Oceania, para acompanhar a Copa do Mundo. Além disso, o grupo promove um concurso no TikTok para escolher a nova música original de apoio à equipe de Pia Sundhage. Apesar do espaço aberto para a ampliação no repertório, a ala feminina estará em grande atividade no amistoso. A exemplo da presença na segunda data da Liga das Nações de Vôlei, sediada no Ginásio Nilson Nelson, a bateria será majoritariamente composta por mulheres.
Integrante da ala Elas no MVA, dedicada a torcedoras da Seleção, Sissy Cambuim, 40, observa um aumento na representatividade feminina no futebol. “Apesar de lenta e de não acompanhar a realidade social, é muito natural. Viemos de algumas gerações que cresceram com um conceito de se tratar de um esporte masculino, mas, no dia a dia, sempre foi um esporte muito presente na vida da maioria dos brasileiros. O futebol tem muita memória afetiva, então, ainda que não estivesse na prática profissional, está muito ligado a cada um de nós”, ressalta.
Os entraves da vida das mulheres no dia a dia e no esporte mais popular do Brasil ainda é persistente. “Tivemos barreiras concretas no futebol feminino. Tinha até lei proibindo as mulheres de jogar. Hoje, elas precisam enfrentar jornadas duplas ou triplas até conseguirem lidar exclusivamente com o futebol. Parece tão difícil naturalizar algo que faz parte da nossa natureza. É importante esse espaço para que as pessoas conheçam e vivenciem uma partida de Seleção às vésperas da Copa do Mundo, com toda a alegria que vemos em relação à masculina”, destaca.
A embaixadora local e representante da ala feminina da torcida, Mariana Neme, explica mais sobre o setor. “É um comitê exclusivo de mulheres dentro do MVA. Como mulher, a gente tem essa visão do respeito dentro do mundo do esporte, seja atleta, jornalista ou torcedora. Nosso papel é levar isso para os estádios, arenas e ginásios, para que a mulher seja bem-vinda e não tenha que provar que entende de esporte e de torcida. Mas também, se não entender tudo, qual o problema? A gente não pode ser uma voz torcendo e impulsionando um atleta?”, questiona.
“Nosso propósito é revolucionar e transformar a maneira do brasileiro torcer pelas relações e muito mais, de levar a brasilidade mundo afora. Com essa voz, a gente tende a dar mais luz ao esporte. A gente sabe dos percalços que nosso mundo patriarcal precisa rever, em crenças, e derrubar muitas questões voltadas para esse mundo que discrimina e pede muito mais prova de profissionalismo e competência das mulheres. A gente está muito aquém de ter um respeito”, argumenta a executiva.
Para o grupo, o passo inicial na luta de reconhecimento parte do incentivo das arquibancadas. “Eu sempre lembro que mulheres e homens são diferentes emocionalmente, fisicamente, estruturalmente. O futebol feminino ainda não é visto e respeitado como outros esportes, não somente o futebol masculino. Existe uma luta e vontade de ocupar esse espaço no nosso país e dar esse apoio para as atletas. Vejo um avanço grande ao estar com elas, seja com 100, 200 ou seis mil”, avalia Neme.
“Estamos indo para a Austrália, com eventos preparados, ingressos disponibilizados em cada cidade da primeira fase. Vai ser uma festa linda para as meninas, acho que vai ser a primeira vez com esse apoio em massa da torcida brasileira”, complementa com otimismo.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini
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