Ganhar a braçadeira de capitão de uma equipe de futebol inclui possuir qualidades como liderança, comprometimento e respeito entre o grupo. Porém, alcançar o status também proporciona um plus nos sonhos de qualquer atleta. Um deles é estar no centro dos holofotes ao levantar um troféu de campeão. O ápice de tudo isso é a Copa do Mundo. Na Seleção Brasileira feminina, a responsabilidade é carregada pela zagueira Rafaelle, a elegida pela técnica Pia Sundhage para postar a braçadeira tupiniquim no Mundial da Austrália e da Nova Zelândia. Neste sábado (29/7), às 7h, contra a França, fará o segundo jogo no cargo.
Em termos gerais, o Brasil sonha em ser o quinto país campeão no Mundial feminino. Se a equipe concretizar o objetivo, Rafaelle será a nona jogadora diferente a erguer a taça da competição internacional. Em oito edições, ninguém teve o sabor do bis no posto. As americanas April Heinrichs (1991), Carla Overbeck (1999), Carli Lloyd (2015) e Megan Rapinoe (2019) foram os rostos dos quatro títulos dos Estados Unidos. Bettina Wiegmann (2003) e Birgit Prinz (2007) centralizaram os holofotes nas conquistas da Alemanha. Gro Espeseth, pela Noruega, em 1995), e Homare Sawa, pelo Japão, em 2011, fecham o restrito hall.
Para ganhar a oportunidade, Rafaelle precisou percorrer um caminho de construção de confiança na Seleção. Aos 32 anos, está na segunda Copa do Mundo da carreira. O número poderia ser três, caso a zagueira não tivesse perdido a edição de 2019 por lesão. Ao todo, são mais de 80 atuações com a camisa verde amarela, ocupando o Top-5 de jogadoras mais convocadas por Pia. "Aquela era minha primeira Copa, eu apareci sem ser um destaque. Estava chegando na Seleção um pouco inexperiente. Agora, eu venho com uma bagagem grande, como uma das líderes. E posso ajudar bastante o time, tática, técnica e psicologicamente", destacou, em entrevista à Fifa.
Qualquer capitã leva consigo o peso de representar o grupo em campo. E a função não se restringe apenas nos bate-papos com comissões técnicas e arbitragem. É preciso entender as particularidades de cada jogadora. Rafaelle entende bem esse requisito. A camisa 4 da Seleção Brasileira se transformou em uma pessoa eclética para se dar bem com os variados perfis das outras 22 convocadas. Sabe dialogar no ritmo da "galera da dancinha" e entender as demandas do grupo "mais sério" do time tupiniquim.
"Não gosto de grupinho, sou a favor da união. Temos um lema aqui que é o "Sempre Juntas". A gente quer conseguir isso (título inédito) juntas. Então, não tem grupinho das antigas, das mais novas. Tento fazer com que todo mundo esteja em um só objetivo, esse é meu papel também. Mas, na hora que tem que chamar, sou brava", garante a capitã, destacando a responsabilidade de fazer o time andar na linha e evitar qualquer sinal de desrespeito diante das adversárias.
"Se a Tamires quiser dar caneta para trás, aí não… Eu falo. 'Você é mãe, respeito, mas pera aí! Vamos ter um objetivo aqui juntas e jogar para frente. Não vamos brincar aqui atrás.' Eu acho que tenho esse papel, essa responsabilidade. E, pelo meu jeito, acho que todo mundo me respeita. Então, consigo fazer com que as meninas me escutem nesses momentos que é preciso ter alguém mais firme", garantiu.
Grande fase na carreira
A conquista da braçadeira de capitã da Seleção Brasileira em uma disputa de Copa do Mundo coroa o grande momento atravessado por Rafaelle. Após boa temporada pelo Arsenal, a defensora assinou contrato com o Orlando Pride no início de julho. Na passagem pela liga norte-americana, a jogadora das brasileiras Marta, Adriana Leal e Thaís Reis. "Não sei se é minha melhor fase, mas estou em um dos meus melhores momentos. Escuto as pessoas dizendo que estão criando expectativa em mim, mas sou bem pé no chão", ressaltou.
A possibilidade de levantar a primeira taça de Copa do Mundo do futebol feminino também tem valor especial pela trajetória. Assim como Marta, Tamires e Bárbara, Rafaelle encarou os tempos de perrengue para vestir a camisa da Seleção Brasileira. Naturalmente, também fez parte do processo em direção às conquistas atuais. "Eu acompanhei a evolução. Já peguei classe econômica da China para o Brasil para disputar uma Olimpíada. Hoje, a gente tem voo fretado. Eu peguei esse lado do começo, que não era tão fácil assim. Quero passar isso para as meninas mais novas. Quero que elas entendam que têm que fazer muito mais", salientou a capitã.
Uma boa forma de perpetuar a semente plantada, sem dúvidas, é voltar para casa com o status de campeã e a missão de capitã cumprida de forma plena em todos os quesitos. Rafaelle alimenta essa expectativa, mas também tem o pé no chão. "Acho que temos um ótimo potencial. Qualquer um do Top-10 do ranking da Fifa pode ganhar. Essa Copa do Mundo vai ser definida nos detalhes. Não vai ser a parte física ou psicológica. Cada jogo vai ser uma história diferente, e acho que vai ser nos detalhes. Mas eu colocaria umas oito Seleções favoritas e a gente está entre essas", confirmou.
As capitãs campeãs
- April Heinrichs (1991 — Estados Unidos)
- Gro Espeseth (1995 — Noruega)
- Carla Overbeck (1999 — Estados Unidos)
- Bettina Wiegmann (2003 — Alemanha)
- Birgit Prinz (2007 — Alemanha)
- Homare Sawa (2011 — Japão)
- Carli Lloyd (2015 — Estados Unidos)
- Megan Rapinoe (2019 — Estados Unidos)
Saiba Mais
- Esportes Pia projeta quebra de tabu contra a França: "Este é o momento"
- Esportes Não madrugou? Saiba o que rolou na noite 9 da Copa do Mundo Feminina
- Esportes 'Brasil não é mais só Marta': as perspectivas da seleção de futebol sem sua maior jogadora
- Esportes Pai de Lauren ganha novo carro após vender o seu para ver a filha na Copa
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.