Em tom leve e satisfeito, a entrevista coletiva da Seleção Brasileira após a estreia na Copa do Mundo Feminina, nesta segunda-feira (24/7), nos 4 x 0 contra o Panamá, teve o pensamento direcionado para a sequência e na boa atuação no Hindmarsh Stadium, em Adelaide. A artilheira da partida com três gols, Ary Borges, e a técnica Pia Sundhage fizeram avaliações.
Pia Sundhage abriu a coletiva exaltando o poderio ofensivo da equipe diante do bloqueio defensivo panamenho. “Fizemos quatro gols hoje, estou muito feliz, orgulhosa da forma como o time jogou. É muito importante olhar esse jogo com calma. Amanhã é outro dia”, disse.
A variação nos estilos de jogo foi uma preocupação assumida pela treinadora. “Acho que é importante o trabalho que fizemos. Estivemos preparadas para os tipos de jogos diferentes e dentro da forma que gostamos de jogar. As personalidades de ataque ajudam demais esse time, então a postura geral, foi boa para o time”, analisou a sueca.
"Trabalhamos com compactação, vigilância e respeito. Jogamos um pouco defensivamente. Nós sempre falamos de posicionamento, achamos sempre soluções diferentes: o terceiro gol foi belo, mas não foi ensinado por mim, foi um gol brasileiro. Agora, vai ser um adversário totalmente diferente e as jogadoras ganharam muita confiança, assim como eu", relatou Pia sobre o desafio contra a França, no próximo sábado (29/7), às 7h.
O aspecto coletivo e a criação da equipe comprovaram o sucesso da mescla entre experientes e estreantes. “Esse time é muito competitivo, com jogadoras excelentes e que se saíram bem. Falamos dessa união com o elenco. Vejo que há positividade em todas, mesmo que se jogue um minuto. A Ary (Borges) sentiu isso”, apontou Pia para a atacante presente na coletiva.
“Trabalhamos com a variação tática (dependendo do momento do jogo), por isso queríamos que a Marta fizesse alguns minutos no jogo”, comentou sobre a camisa 10. Apesar de recuperada de incômodo na coxa esquerda, a Rainha começou a partida no banco de reservas e entrou aos 29 minutos da etapa final, no lugar de Ary Borges.
A variação na chegada ao gol foi um fator-surpresa para Pia, permissiva quanto à liberdade da criatividade ofensiva da Canarinha. “Sinceramente, eu não ensinei essa variação, esse improviso. Em algumas situações, esperei chutes e elas não chutaram. Não ensino nada (de improvisação no ataque), ensino para trás (na defesa). É uma combinação que pode ser um sucesso”, revelou a treinadora.
Para Pia, a força e a aplicação do time tranquilizaram pela atitude de seguir atacante durante todo o jogo. “Acho que em todos os jogos eu fico nervosa, mas se tem algo que me dá nos nervos, é quando não estão se esforçando, correndo e estão paradas. O pior erro é não tentar. Em um 0 x 0 acontece, mas quando se faz um gol, é muito diferente em termos táticos e de autoconfiança. Pela forma que jogamos, com uma chance no primeiro lance, sabia que seria um bom jogo. Todas fizeram um bom jogo, criando inúmeras chances”, elogiou.
Fora das quatro linhas, Sundhage crê no diferencial da equipe por meio do companheirismo e do alto astral entre as companheiras. "Estou satisfeita com o feito até agora, nos preparamos bem. Não sabia como as jogadoras mais novas atuariam hoje, mas, convivendo com elas, eu sei que é uma equipe feliz, e é um bom começo. Se se mantém essa energia, isso vai passar para o próximo jogo", pontuou.
A felicidade da artilheira
Ary Borges não escondeu a emoção na entrevista coletiva. “É um dos dias mais felizes da minha vida, nem nos meus melhores sonhos eu esperava isso. Vou comemorar descansando porque daqui a pouco temos um jogo muito importante. Estou feliz por ser meu primeiro jogo, por ser importante. Chorei, fiquei nervosa, ansiosa. Se alguém me dissesse que eu faria três gols na estreia, eu riria da cara dessa pessoa. Você se lembra de toda a trajetória até esse momento”, contou,
Entre o memorável dia na vida pessoal e o compromisso da estreia, a jogadora destaca a tranquilidade após romper a retranca adversária. "A gente sabe que tinha que se impor, ter mais posse de bola e acho que fui muito feliz, em jogadas bem trabalhadas, fui a felizarda de ser a última a tocar para o gol. Estou feliz pelo jogo coletivo que a gente fez. Você pode fazer um gol, mas pode dar à companheira. Não temos vaidade, o mais importante é fazer mais gols e sermos melhores", ressaltou.
A meio-campista também conta como viveu os minutos de atuação, com a vida inteira passando à mente a cada bola na rede. “Antes de entrar no jogo, eu me lembrei da Ariane, antes da Ary. Me lembrei da minha família, das pessoas que viveram tudo comigo. Eu queria dar um orgulho para elas e consegui. Todo o sacrifício que fizeram, a Ary Borges está realizando. Sobre os três gols, ainda não caiu a ficha. É uma honra muito grande e estou mais feliz pelos três pontos. Era importante começar essa caminhada assim, em um caminho longo para, quem sabe, ser campeão”, discursou.
Ary Borges saiu para a entrada de Marta na segunda metade da etapa final. E claro que a Rainha entrou na pauta da entrevista. “Jogar com a Marta era um sonho que eu tinha e consegui realizar. Depois que você conhece a pessoa, você sabe porque ela é tratada como Rainha do Futebol. Talvez ela não tenha noção do quanto a gente admira ela nesse momento tão especial. Ela nos motiva, viveu muita coisa pra a gente colher muitos frutos. Viver isso é muito especial, dentro e fora de campo”, descreveu.
*Estagiário sob supervisão de Victor Parrini
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