Ginástica rítmica

Paris-2024: ginástica rítmica vira mapa da mina de medalhas do Brasil

Campanha do conjunto brasileiro já conta com um ouro, uma prata e quatro bronzes em provas de grupo e individuais no Campeonato Mundial da modalidade. Atletas e técnicos explicam processo de evolução

Arthur Ribeiro*
postado em 21/07/2023 15:34 / atualizado em 21/07/2023 15:34
A pouco mais de um ano da abertura dos Jogos Olímpicos, o Brasil empilha bons resultados e empolga rumo a Paris-2024 -  (crédito: CBG/Divulgação)
A pouco mais de um ano da abertura dos Jogos Olímpicos, o Brasil empilha bons resultados e empolga rumo a Paris-2024 - (crédito: CBG/Divulgação)

A temporada 2023 da Seleção Brasileira de ginástica rítmica feminina tem sido marcado por pódios e feitos inusitados. A campanha na Copa do Mundo da modalidade começou promissora após o bronze inédito na prova geral na etapa de Atenas, na Grécia, em março. O bom momento seguiu na etapa de Sofia, na Bulgária, quando Bárbara Domingos ganhou a primeira medalha do país em um evento individual: bronze na disputa da fita. Em Portimão, Portugal, o sucesso persistiu na conquista do ouro na prova de cinco aros, a estreia no topo do pódio.

Na etapa mais recente, finalizada no domingo (16/7), em Cluj-Napoca, na Romênia, o Brasil deixou de ser apenas surpresa e se firmou como realidade. Foram quatro medalhas no fim de semana passado: um ouro, uma prata e dois bronzes. A dourada veio no conjunto misto de três fitas e duas bolas, em atuação quase perfeita de nota 31.700. O país também ficou com o segundo lugar na prova de cinco aros; terceiro no conjunto e garimpou outro bronze para Bárbara Domingos na disputa da fita.

O resultado é histórico tanto para o Brasil quanto para o restante do mundo da ginástica rítmica. O país conquistou quatro medalhas em uma etapa da Copa do Mundo pela primeira vez. A performance também é inédita levando em conta uma nação de fora da Europa e da Ásia. Para a técnica Camila Ferezin, ainda é difícil se acostumar com a evolução no desempenho, mas ver o trabalho refletir em resultado é recompensador.

"A sensação é bem difícil de descrever, às vezes sinto como se a ficha ainda não tivesse caído. Todas as pessoas que acompanham a modalidade sabem que até bem pouco tempo existia um abismo separando as nações mais fortes de nós. Não que não fôssemos bons, porque há bastante tempo a gente vem progredindo, mas a modalidade era assim. Então, a sensação é de realização e de muita gratidão a Deus e a todos que contribuíram para isso acontecer. Chegamos, agora é de igual para igual e não há preço maior", comemora a comandante.

Conquistas inéditas merecem roupa nova

A Seleção também passou por uma mudança no visual. O conjunto começou a usar collants mais trabalhados, com partes de pintura à mão e detalhes em pedrarias, incluindo cristais Swarovski, espelhos e pérolas. Principal nome no individual, Babi Domingos desfila com a roupa ao som de uma versão de Bad Romance, música da cantora Lady Gaga. A performance resultou em um ouro no Grand Prix de Thiais e dois bronzes na Copa do Mundo para a ginasta, todas medalhas inéditas.

A paranaense tem no currículo prata na fita dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 e o melhor resultado da história do Brasil no individual geral de um Mundial, quando ficou na 17ª posição. Nas redes sociais, Babi agradeceu pelo apoio e ressaltou a felicidade com os resultados.

"Estou extremamente feliz em ver o meu crescimento, desenvolvimento e trabalho, juntamente com a minha técnica (Márcia Naves), sendo reconhecido. Sonhei em estar neste lugar, em meio às melhores ginastas do mundo. Porém, chegar aqui me traz um misto de sensações e sentimentos. O principal deles é a gratidão. Sou imensamente grata por tudo e a todos que me auxiliaram de alguma forma para tudo isso ser possível”, publicou a atleta.

Apoio e incentivo como parte das conquistas

Além do trabalho da equipe, o qual Ferezin define como incansável e disciplinado, a treinadora atribui parte do sucesso ao apoio da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). A entidade disponibiliza um grupo multidisciplinar para apoiar a Seleção, com participação de técnicos, ginastas, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, preparadores, árbitros, analistas de desempenho e outros colaboradores. Segundo Camila, o time forma "uma verdadeira família".

Enfrentar grandes equipes de outros países é um desafio por si só, mas a treinadora sempre acreditou no potencial das brasileiras para alcançar as concorrentes. "Quando algo assim acontece, a gente se dá conta da força que tem e isso termina gerando uma carga ainda maior de autoconfiança e fé nas nossas possibilidades. É muito ruim quando a gente faz, entrega um bom trabalho e mesmo assim o resultado não vem. Agora, sentimos como se o mundo tivesse aberto os olhos de vez para nos enxergar em todo nosso potencial, e superar essa barreira é um marco na ginástica rítmica mundial", acrescenta Ferezin.

Apesar das medalhas conquistadas, a técnica não deixa o time se distrair do objetivo principal, de ir bem no Mundial de Valência, em agosto, para conquistar a vaga nas Olimpíadas de Paris-2024. Até lá, a Seleção disputará a etapa de Milão da Copa do Mundo, entre 21 e 23 de julho.

 
 
 
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"Todas as equipes estão muito próximas e não podemos vacilar. A gente tem que manter o foco, porque a ginástica se define na hora, ela é o momento. Vamos pela vaga e queremos o que for possível alcançar. O trabalho que estamos desempenhando comprova que temos chances, sim, de sonhar com uma medalha em Mundial e vamos fazer o nosso máximo para chegar ao topo. Nosso estilo de fazer ginástica rítmica é o de apresentar um espetáculo para o público e árbitros. Estamos provando para o mundo que vale a pena ver e vibrar com nosso jeito", finaliza Ferezin.

O Brasil terminou os Jogos de Tóquio-2020 em 12º lugar e com a equipe mais jovem da competição. A Seleção agora almeja superar os melhores resultados do conjunto em Olimpíadas, quando ficaram em oitavo em Sydney-2000 e Atenas-2004.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima

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