Magalhães Barata, cidade com 8,3 mil habitantes a 156km de Belém do Pará, é famosa pela farinha, açaí, castanha, o som do carimbó e por ser a terra de Ronielson da Silva Barbosa — o Rony, 28, camisa 10 do Palmeiras. Localizada a 430km de João Pessoa, Sousa, na Paraíba, abriga 70 mil moradores, vive da produção de algodão herbáceo, laticínios, coco, das festas populares e religiosas, do turismo paleontológico voltado para as primeiras pegadas de dinossauros no país e se gaba de ter fabricado Francisco das Chagas Soares dos Santos, o Tiquinho, 32, proprietário do algarismo 9 do Botafogo e artilheiro disparado do Campeonato Brasileiro com nove gols.
Dois municípios entre 5.568 do país curtem um domingo de ostentação. Rony e Tiquinho são os caras do principal jogo da 12ª rodada da Série A. O líder, Botafogom, defenderá cinco pontos de vantagem contra o vice, Palmeiras, às 16h, no Allianz Parque. Como diz a letra da canção A Estrada, do Cidade Negra, talvez você não saiba o quanto eles caminharam pra chegar até aqui.
Rony percorreu milhas e milhas antes de cair nas graças da torcida do Palmeiras. Criado em Vila Quadros, na zona rural de Magalhães Barata, teve a carreira catapultada pelo ex-volante Agnaldo de Jesus. Ele foi um anjo na vida de Rony. Promoveu o jovem de 19 anos ao elenco profissional do Remo. "Vi o Rony na base. Eu era técnico interino. Tinha explosão, força e inteligência", conta o profissional em entrevista ao Correio Braziliense. Movido a desafios, Rony bateu meta em 2015. "Olha só como foi a estreia do menino", testemunha Agnaldo. "Em 2015, no meu primeiro jogo como técnico interino, convoquei o Rony para o banco de reservas. O presidente Zeca Pirão falou assim no hotel, nunca vou me esquecer: 'Ei, moleque, se por acaso tu entrares no jogo e fizer um gol, eu te dou R$ 1.000'. A estrela brilhou. Ele entrou no segundo tempo contra o São Francisco, de Santarém, fez o gol do empate e, pela primeira vez na vida, viu R$ 1.000 nas mãos. Ali, nasceu o Rony", emociona-se Agnaldo. Referência do Palmeiras, o jogador tem nove gols na temporada e foi convocado duas vezes pela Seleção depois da Copa.
Tiquinho rodou o Brasil e o mundo antes de virar "estrela solitária" do Botafogo. Perambulou por times do país até fazer as malas rumo à Ilha da Madeira. Em Portugal, usou o Nacional e o Vitória de Guimarães como trampolins para chegar ao Porto. Jogou na China, na Grécia e retornou ao Brasil para assumir o papel de ídolo alvinegro. A essa altura do campeonato, Túlio Maravilha tinha 10 gols em 11 rodadas na conquista do Brasileirão de 1995, a última do Glorioso. Tiquinho ostenta nove.
A origem do atacante é simples. Foi descoberto no Centro Recreativo Angelim, projeto social de Nildo Lima, em Sousa. Em nome do filho, os pais Nilton e Socorro se mudaram para Natal. Tiquinho assinou o primeiro contrato no América-RN e começou a mudar de vida. A chance na Seleção é questão de tempo.