Seleção Brasileira

Como Vini Jr. e Rosamaria se empoderaram nas seleções de futebol e vôlei

Empatia de Vinicius Junior e Rosamaria turbina relação dos fãs com a amarelinha. Combate do atacante ao racismo transforma amistoso contra Guiné em ação da Fifa. Ponteira ataca homofobia e o machismo

Centro de Treinamento do Espanyol, em Barcelona. Alunos das divisões de base do clube catalão aguardam pela passagem de Vinicius Junior. O atacante não os ignora. Ouve gritos, posa para selfies e distribui abraços por cinco minutos. Da Espanha para Brasília. Ginásio Nilson Nelson. O técnico José Roberto Guimarães coloca a versátil Rosamaria Montebeller em quadra no terceiro set da vitória de quarta-feira contra a Coreia do Sul. Ovacionada, a campeã de seguidores nas redes sociais entre as jogadoras convocadas para a Liga das Nações de vôlei retribui o carinho com atenção ao fã-clube até no hotel.

A relação com os ídolos das seleções de futebol e de vôlei não é aleatória. Vinicius Junior e Rosamaria estão sintonizados com um público cada vez mais identificado com personagens de posicionamentos firmes.

Vítima de injúria racial no Campeonato Espanhol na derrota do Real Madrid para o Valencia, em 21 de maio, Vinicius Junior virou oficialmente símbolo da campanha da Fifa contra o preconceito. Ontem, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, esteve na concentração da Seleção, em Barcelona. O jogador de 22 anos capitaneará um comitê antirracismo criado pela entidade máxima.

"Pedi ao Vinicius para liderar esse grupo de jogadores, que apresentará punições mais rígidas contra o racismo. As leis serão posteriormente implementadas por todas as autoridades do futebol ao redor do mundo. Precisamos ouvir os jogadores e o que eles precisam para trabalhar em um ambiente mais seguro. Levamos isso muito a sério", discursou Infantino, durante a visita ao elenco.

O dirigente mandou recado aos 211 países filiados. "Não haverá mais futebol com racismo. Os jogos devem ser interrompidos imediatamente. Já chega. Precisamos de punições mais duras. Não podemos tolerar mais racismo no futebol. Sinto que precisava conversar pessoalmente com o Vinicius sobre isso", encerrou o dirigente.

O Brasil disputará amistoso contra Guiné, amanhã, às 16h30 (de Brasília), com uma camisa preta no RCDE Stadium, casa do Espanyol. Em março, um duelo contra a Espanha, no Santiago Bernabéu, em Madri, reforçará o ato. "Eu quero seguir isso por todos aqueles jovens, por todas aquelas pessoas que sofrem, que não têm a voz que eu tenho. Eu tenho a cabeça muito tranquila. Minha família me ajudou, o Flamengo me ajudou quando eu comecei no clube, com 16 anos, e já sofria com racismo e com toda a pressão que havia em cima de mim como jogador de futebol", disse Vinicius Junior depois do encontro com Infantino. Sem Neymar neste início de ciclo para a Copa de 2026, Vini é a a referência na troca de bastão. Entre os convocados para o amistoso contra Guiné, lidera em número de seguidores em todas as plataformas.

Do racismo à homofobia

Rosamaria encantou nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, disputados em 2021 por causa da pandemia, devido à raça, a entrega em quadra e ao posicionamento firme, por exemplo, no episódio envolvendo o levantador Maurício Souza. "Caso tenha restado alguma dúvida ainda: homofóbicos não passarão", escreveu nas redes sociais em contra-ataque ao ex-jogador do Minas Tênis Clube. À época, ele havia postado comentários sobre um desenho do Super-Homem bissexual e teve o contrato com o clube rescindido.

Enquanto o carioca Vinicius Junior enfrentava o preconceito contra a cor da pele, Rosamaria tentava driblar o bullying. Era discriminada devido à altura. Tem 1,85m. "Nasci um bebê bem grande, mas eu lembro bem de odiar ter a altura que eu tinha. Eu odiava ser a mais alta da turma, todo mundo me zoava, era sempre a última. Além disso, era difícil para arrumar roupa, sapato", contou, no ano passado, em entrevista à revista Marie Claire.

Ela fez testes para modelo, porém preferiu desfilar na passarela do vôlei. "Se eu não tivesse entrado para o mundo do esporte, teria sentido ainda mais dificuldade em me ver bonita", argumenta. Criativa fora da quadra, chama a atenção nos papéis de Master Chef e de empresária. Ao lançar marca própria de skincare e de beachwear, discursou contra o machismo. "O meu maior desafio como mulher é travar batalhas dentro e fora de quadra. Mas eu nunca fugi dos obstáculos que a vida me trouxe! Para muitas, essa luta pode estar apenas ligada à força, mas a verdade é que vai muito além. Não é apenas sobre lutar. É sobre a liberdade para escolher lutar! Por isso, lançar a minha marca pessoal também é me impor como mulher e lembrar a todas que somos livres para ser tudo o que quisermos!