Rei dos reis desde que alcançou a incrível marca de 23 títulos de Grand Slams, ontem, ao vencer o norueguês Casper Ruud por 3 sets a 0 na final de Roland Garros com parciais de 7-6 (7/1), 6-3 e 7-5, em três horas e 13 minutos, Novak Djokovic não recebeu o mesmo carinho de Roger Federer e por Rafael Nadal, seus ilustres companheiros de viagem. Mas em duas décadas de carreira o sérvio mostrou que tem uma personalidade multifacetada.
Djokovic, de 36 anos, tem tudo para ser um ídolo: afável, respeitoso, disponível, engraçado, patriota, bom pai de família, inteligente, educado, poliglota... Mas acima de tudo, é uma pessoa de convicções firmes. Isso gerou algumas controvérsias.
Durante Roland Garros, qualquer gesto de desacordo do sérvio era castigado com ruidosas vaias, exceto na chegada para a disputa da final, quando foi recebido com uma ovação à altura do seu desafio que até surpreendeu o tenista. A animosidade dos espectadores pode estar ligada aos exageros do sérvio e a uma suposta arrogância. E a simpatia do público pelo já aposentado Roger Federer e Rafael Nadal, seus dois principais rivais, não o ajuda.
Djokovic ainda está na melhor forma, apesar da idade. O segredo? Uma dieta sem glúten por 10 anos, algo paradoxal para o filho de um pizzaiolo, uma câmara de oxigênio para a recuperação, um guru para os aspectos mentais e visitas a uma misteriosa "pirâmide" na Bósnia, que na verdade é uma colina natural.
Em Roland Garros, ele também revelou um dispositivo inusitado preso ao peito, um aparelho de nanotecnologia para medir as variações do corpo e gerenciar seu desempenho. "Quando eu era criança gostava do Homem de Ferro, então tento imitá-lo", brincou na sala de imprensa.
A má fama cresceu durante a pandemia, quando se mostrou cético em relação à doença e às vacinas, o que lhe rendeu o apelido de "NoVax". Organizou um torneio nos Bálcãs em meados de 2020 que se tornou foco de infeções por covid-19 e foi deportado da Austrália em 2022 por tentar entrar no país sem estar vacinado, o que lhe custou a não participação no major favorito.
No regresso triunfante este ano voltou a ser alvo de polêmicas, principalmente devido a uma lesão que qualificou de importante mas, não o impediu de vencer os adversários com grande autoridade. "É interessante que só a minha lesão seja colocada em dúvida. Quando outra pessoa se machuca, ela é uma vítima", desabafou Djokovic no que poderia ser uma alusão a Nadal, elogiado por sua vitória em 2022 após quase meio ano sem jogar devido a uma lesão no pé.
Paralelamente às polêmicas, Djokovic tem mostrado grandes gestos e investe tempo e esforço em sua campanha de sedução: brinca com os espectadores, dá muitos autógrafos, não se cansa de posar para fotos ao lado de crianças...
Ele também fala inglês, alemão, italiano e com um francês e um espanhol cada vez melhores. No primeiro título em Roland Garros, desenhou um grande coração com a raquete no saibro e em 2020 deu sua raquete para um menino.
Nascido em Belgrado, em 1987, o jovem Djokovic ficou muito marcado pela experiência da guerra do Kosovo, quando tinha apenas 12 anos. Para escapar dos bombardeios da Otan, passou dois meses e meio à noite em abrigos antiaéreos. Durante o dia, ficava em uma quadra de tênis, já que a escola normal estava fechada.
Muito patriota, embora prefira ter residência em Mônaco, Djokovic costuma defender a imagem da Sérvia e se preocupa em estreitar os laços com os países da ex-Iugoslávia.
Em Roland Garros, ele causou sensação ao escrever para uma câmera: "Kosovo é o coração da Sérvia. Pare a violência", em referência aos confrontos nesta região, independente desde 2008, mas não reconhecida pela Sérvia.
"Isso é o que eu penso. Eu poderia repetir, mas não vou. Muita gente não concorda, mas para mim é o que eu penso", disse ele depois. Djokovic em seu estado bruto, é um campeão ilimitado e de convicções firmes.