FUTEBOL

Técnicos portugueses lideraram 72 de 151 rodadas do Brasileirão

Número representa quase 48% das jornadas desde a estreia de Jorge Jesus pelo Flamengo. Assim como o Mister, Abel Ferreira também faturou o título. Luís Castro busca entrar no grupo

Victor Parrini
postado em 10/06/2023 06:00
 (crédito: Cesar Greco/Ag. Palmeiras)
(crédito: Cesar Greco/Ag. Palmeiras)

Não é nada espantoso dizer que o Brasil descobriu Portugal. Calma, não estamos tratando de geografia ou política. É futebol mesmo. A escolha por treinadores da Terra de Camões parecia uma tendência a partir do sucesso de Jorge Jesus em 2019 pelo Flamengo. Aquilo que era moda, porém, criou raízes nos gramados verde-amarelos. Abel Ferreira, do Palmeiras, comprova isso, enquanto o botafoguense Luís Castro busca dar sequência ao legado lusitano no Campeonato Brasileiro.

Dos quatro clubes presentes no G-4 da elite nacional, dois são comandados por portugueses: o líder Botafogo e o segundo colocado Palmeiras. Apenas dois pontos separam a dupla. E a disputa pode viver tempo de mudança. No topo desde a terceira rodada, os cariocas podem ser ultrapassados pelo Palmeiras caso não vençam o Fortaleza, neste sábado (10/6), às 21h. A trupe paulista torce pelo tropeço alvinegro e busca a vitória no clássico contra o São Paulo, no domingo (11/6), às 16h.

Um novo líder pode pintar no Brasileirão. A liderança, porém, não será tão nova assim. Independentemente do desfecho da jornada, um português estará no topo. Desde a estreia de Jorge Jesus há quase quatro anos, os lusos comandaram equipes nacionais em 151 rodadas. Número expressivo. Mas eles não se contentaram em ser meros coadjuvantes. Lideraram a principal disputa do país em 72 datas e chegarão à 73ª com a ponta para Luís Castro ou para Abel Ferreira.

A quantidade significa quase 48% rodadas do Campeonato Brasileiro sendo lideradas por times treinados por portugueses de 2019 para cá. O recorte, porém, não favorece a todos. Além de Jorge Jesus e Abel Ferreira, 11 profissionais estiveram à beira dos gramados do Brasil nos últimos quatro anos. Somente o ex-comandante do Fla e o atual guru do Palmeiras brindaram as torcidas com títulos. E apenas outros dois tiveram, pelo menos uma vez, a vista do topo: Vítor Pereira — em seis rodadas pelo Corinthians na versão do ano passado — e António Oliveira — na 5ª jornada da disputa de 2021, pelo Athletico-PR.

Na edição de 15 de abril, o jornal português A Bola chamou o Brasileirão de "Portugalão". A brincadeira fazia alusão ao torneio que começou com sete treinadores formados do lado de lá do Oceano Atlântico. Nove rodadas e quase dois meses depois, o número segue o mesmo. Mas há mudanças. Ontem, o Goiás acertou a contratação de Armando Evangelista. Ele não comandará a equipe contra o Fluminense no domingo, às 18h, em Goiânia, mas está em contato com o interino Emerson Ávila para possíveis mudanças.

O Cuiabá também tentou colocar a casa em ordem com a demissão de Ivo Vieira. Para o cargo, colocou outro português: António Oliveira, treinador do clube no ano passado. Aos 40 anos, António é um dos lusitanos mais rodados no futebol brasileiro. Além do Athletico-PR e do Dourado, também colocou o boné do Coritiba no início desta temporada. Não resistiu à má fase e foi dispensado. Além dele, apenas Vítor Pereira soube o que era comandar dois times brasileiros. VP é, inclusive, malquisto pelas duas maiores torcidas do país: Corinthians e Flamengo.

A presença dos portugueses por aqui causa descontentamento de algumas figuras. O polêmico Renato Portaluppi, do Grêmio, colocou a boca no trombone em maio. "Muitos outros portugueses estão no Brasil, mas só deram certo o Abel e o Jorge Jesus. Com alguns outros, a cobrança é grande, mas os clubes brasileiros estão tendo mais paciência, algo que não têm com os próprios brasileiros. Queria ver lá fora, se os clubes de Portugal teriam a mesma paciência que os brasileiros têm com técnicos portugueses no Brasil", questionou ao jornal Estado de S. Paulo.

Luís Castro analisa o cenário de outra maneira. "Precisamos de globalização. Somos treinadores do mundo, e percorremos ele. Distinguir treinadores de outros países, para mim, é algo que me violenta. Respeito todos os treinadores e quando alguém diz 'o português, o brasileiro', acho totalmente ultrapassado. Somos treinadores do mundo, todos nós com nossas virtudes, mas acima de tudo, treinadores", disse em entrevista ao programa Boleiragem, do SporTV.

No Brasil há um ano e dois meses, Luís Castro também pede mais carinho ao futebol brasileiro, como em questões de calendário e cobranças. "Como gostamos tanto das equipes e insultamos quem anda dentro das equipes? Por que jogamos de dois em dois dias? Como é que isso é possível? Nós que gostamos de futebol temos que tratar bem o futebol. Se eu gosto do futebol, tenho que respeitar os profissionais da imprensa", discursou.

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