Vinicius Junior sofreu diversos casos de racismo na Espanha. As ocorrências explodiram, principalmente, a partir de 2021. Nenhum deles, porém, registrou tantas ações (algumas delas de evolução no combate contra a inaceitável injúria no futebol) como o de domingo, no Estádio Mestalla, no jogo entre Real Madrid e Valência. Na ocasião, o brasileiro foi chamado de "macaco" pela torcida do time local. Se notabilizando como um nome histórico no combate contra o preconceito no esporte, o camisa 20 fortaleceu a causa com ações e posicionamentos ativistas.
Nas horas seguintes, a luta ecoou pelo planeta em cobranças e posicionamentos. Na Espanha, epicentro dos, pelo menos, 11 casos flagrantes sofridos pelo atacante, provocou as primeiras ações concretas em um país onde a própria lei reluta em punir responsáveis por crimes de injúria. Ontem, sete foram algemados e presos para responderem por dois casos: o de domingo, em Valência, e um de janeiro, onde torcedores do Atlético de Madrid penduraram um boneco com a camisa 20 do jogador simulando um enforcamento.
As forças de segurança divulgaram diversos vídeos das prisões. Os três detidos em Valência, entretanto, foram liberados após prestarem depoimento por três horas. A identidade de nenhum dos envolvidos foi divulgada. Multado em 45 mil euros (aproximadamente R$ 240 mil), o clube garantiu movimentações para identificar mais torcedores e "eliminar o racismo no Mestalla". A La Liga afirmou a necessidade de ter mais poderes para ser "mais ágil e eficiente na luta contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte".
As poucas ações concretas e não midiáticas ainda geram questionamentos e um padrão contraditório na Espanha. Em Valência, o jornal Super Desporte tratou como "surreal" o cancelamento da expulsão de Vinicius — o técnico Xavi, do Barcelona, também questionou — e uma "vergonha sem precedentes" o fechamento da arquibancada Mario Kempes. "Mestalla não é racista", reclamou o periódico, mesmo condenando os atos contra o brasileiro. O jornalista Andrés García, responsável por criticar o gesto de "segunda divisão" do atacante, subiu o tom. "Boa parte do futebol espanhol não gosta de você."
Ontem, Vini Junior agradeceu o apoio de atletas, principalmente brasileiros (o zagueiro do Valencia, Mouctar Diakhaby, também saiu em defesa do camisa 20) e resgatou um vídeo de um caso envolvendo o ex-lateral Roberto Carlos, em 1997. "O racismo nos estádios espanhóis existe antes mesmo de eu ter nascido. O que mudou até hoje?" O questionamento é válido. Pouco mudou e os tímidos avanços atuais ainda enfrentam resistência.
A batalha de Vini
1. Arquibancada interditada
O Comitê de Competições da Espanha definiu pela interdição da arquibancada do Estádio Mestalla de onde vieram os insultos direcionados a Vinicius Junior na derrota do Real Madrid para o Valencia, por 1 x 0. A Federação Espanhola de Futebol também informou que a arquibancada, chamada de Mario Alberto Kempes, ficará interditada por cinco partidas.
2. Vermelho cancelado
Apesar de ter sido expulso contra o Valencia por agredir um adversário, Vini não será suspenso. O anúncio é da Federação Espanhola. O Comitê de Competição aceitou as alegações do Real sobre o cartão vermelho recebido por Vinicius Junior por dar um tapa em Hugo Duro após rever as imagens de vídeo, o que levou ao pedido de anulação da expulsão.
3. Prisões
A polícia deteve quatro pessoas como parte da investigação sobre o boneco com o uniforme de Vinícius pendurado em uma ponte da capital espanhola no fim de janeiro. Eles seriam responsáveis por um “crime de ódio”. O boneco foi pendurado para simular um enforcamento ao lado de uma faixa com a frase: “Madri odeia o Real”.
4. Caçada aos ultras
A polícia espanhola prendeu três jovens em Valência suspeitos de “comportamentos racistas ocorridos no domingo passado no jogo entre Valencia e Real Madrid”, no estádio Mestalla, onde o atacante foi vítima de insultos como “macaco”. Os jovens, entre 18 e 21 anos, foram interrogados e deixados em liberdade durante o andamento do processo.
5. Ministério Público da Espanha
Na segunda-feira, o Real Madrid apresentou denúncia na Procuradoria-Geral da Espanha por delitos de ódio e discriminação contra Vinicius Junior. O clube considerou “ato lamentável e repugnante de racismo, xenofobia e ódio”, e afirmou que espera a apuração “de todas as responsabilidades daqueles que participaram em um ato tão desprezível”.
6. Patrocinadores
Parceiros do Campeonato Espanhol se manifestaram contra os atos racistas direcionados a Vinicius Junior no último domingo. Grifes como Puma, banco Santander, socios.com, grupo Sleeping Giants Brasil. Outros parceiros como Microsoft, EA Sports, cervejaria Mahou e outras marcas vinculadas à elite da competição nacional ainda não se manifestaram.
7. CBF e RFEF
A Confederação Brasileira de Futebol pretende usar o amistoso de 17 de junho contra Guiné, em Barcelona, como ação contra o racismo. A Real Federação Espanhol ade Futebol deve se unir à CBF na campanha contra o preconceito. Vinicius Junior foi consultado sobre a vontade de entrar em campo e disse que faz questão de atuar.
8. Redes sociais
Meia do Valencia, Yunus Musah publicou mensagem em defesa de Vinicius Junior e afirmou: “Meu apoio a Vini Jr. e a todas as pessoas que passaram e estão passando por isso em suas vidas. Se você é racista contra ele, você é racista contra mim”, escreveu. Vinicius Junior bateu recorde de pesquisas no Brasil em um único dia na história do Google.
9. VAR
A Real Federação Espanhola de Futebol e o Comitê Técnico de Árbitros (CTA) anunciaram a demissão de seis árbitros de La Liga. A decisão é motivada pela falha de Iglesias Villanueva, árbitro de vídeo da vitória do Valencia contra o Real Madrid, por 1 x 0, no último domingo, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol.
10. Conselhos
O Conselho Superior dos Esportes (CSD) pretende apresentar proposta, tanto à Federação Espanhola de Futebol como para La Liga, para o desenvolvimento de uma campanha de conscientização direcionada aos torcedores, assim como ‘ações pontuais para lutar contra o flagelo do racismo e combater os discursos de ódio no esporte”.