Futebol Espanhol

Cinco polêmicas: conheça Javier Tebas, controverso presidente de La Liga

Adepto de partido de extrema-direita, apoio a atleta neonazista, dividas com Barça e Real, atritos com Vini e parceria com presidente poilítico aliado do clã Bolsonaro: as facetas de Javier Tebas

Apontado como o epicentro dos últimos casos racistas no cenário do futebol mundial, o Campeonato Espanhol se coloca, cada vez mais, sob situação alarmante aos olhos do planeta bola. Por conta dos persistentes fracassos nas tentativas de proteger uma das maiores estrelas do futebol, o brasileiro Vinicius Junior, a gestão de La Liga tem, há tempos, colecionado críticas e insucessos.

Muitos desses casos, porém, envolvem um personagem em específico. Javier Tebas, 60, presidente da Liga Nacional de Fútbol Profesional — entidade que administra a primeira e a segunda divisões espanholas — desde 2013, está no terceiro mandato e acumula declarações e atitudes polêmicas diante de casos delicados, assim como aconteceu no episódio do último domingo (21/5), no forte movimento de ódio contra Vini, no qual Tebas, segundo o craque madridista, mais uma vez não agiu com veemência.

No entanto, essa não foi a primeira vez que a imagem e as atitudes do presidente de La Liga repercutiram de forma negativa diante do mundo do futebol. A seguir, saiba quem é o presidente da liga espanhola, de onde veio e o porquê é tão criticado.

1. Passado nebuloso

Nascido na Costa Rica, Tebas se mudou para a Espanha ainda criança para, anos depois, dar início a trajetória como advogado e administrador. Formado na Universidad Pontificia Comillas ICADE de Madri, deu entrada no mundo do futebol como presidente do Huesca, ainda na década de 1990. A partir daí, rodou por mais 11 clubes até chegar ao cargo ocupado hoje, em 2013.

O presidente, no entanto, não se envolveu apenas com o futebol. Apoiador declarado de um grupo de extrema-direita, Vox, e ex-integrante do Fuerza Nova, uma agremiação partidária fascista que existiu entre 1976 e 1982, criada com o objetivo de preservar o franquismo na Espanha durante a transição para a democracia. Ele chegou a afirmar, publicamente, que ainda pensa da mesma de quando fazia parte do grupo fascista.

"Se a extrema-direita significa defender a unidade da Espanha, a vida e o modo de vida católico, eu estou nesse grupo e continuo pensando o mesmo de quando estava em Fuerza Nueva", afirmou, ainda em 2016.

Além disso, manifestou apoio a integrantes do grupo Vox durante as eleições regionais, em 2019. "Eles me parecem bons. Se continuarem assim, eu votarei no Vox", enfatizou, à época. De acordo com ele, a Espanha "precisava de algo como o Vox". O partido, vale destacar, tinha como propostas o fim da imigração à Espanha e o fim das leis que proibiam a violência doméstica.

2. Polêmicas com Real e Barça

Os episódios com os clubes, ademais, também não são recentes. Em 2015, ainda durante o primeiro mandato, Tebas, em entrevista ao portal madrilenho AS, confessou torcer para o Real Madrid "desde criança", embora "isso não afete em nada nas decisões de La Liga", reiterou.

Em relação ao rival, porém, os contextos apresentaram outro tom. Constantemente preocupado em vir a público para falar sobre a situação do Barcelona — este envolvido no Caso Negreira (escândalo por manipulação de resultados) e em dificuldades com o Fair Play financeiro — Tebas protagonizou uma batalha junto ao presidente Culé, Joan Laporta. "Acredito que ele (Laporta) deveria renunciar se não explicar o que estavam pagando (sobre o caso Negreira)", afirmou, em abril deste ano.

Como resposta, Laporta não escondeu a insatisfação com os comentários frequentes do presidente da liga. Durante coletiva de imprensa realizada para dar explicações sobre a acusação de manipulação de resultados, o chefe do Barcelona respondeu: "Já tinham nos avisado que Tebas colocaria uma campanha em andamento contra o Barcelona e contra mim. Agora, sua máscara caiu. Continua obcecado com o Barcelona e tem medo do nosso clube”.

Em 2022, também entraram em atrito. Tebas, em maio, foi a público para afirmar que o Barcelona, mesmo se quisesse, precisaria “dar muitos passos” para contratar um craque. Ainda na perseguição de Lewandowski, o Barcelona, segundo Javier, não teria capacidade de concretizar a negociação.

"Peço-lhe que se abstenha de fazer declarações sobre se o Barça pode contratar um jogador ou não", pediu Laporta, como resposta. "Permitam-me lembrar que o seu papel é zelar pelos interesses de La Liga e dos clubes. Ele está claramente prejudicando os interesses do Barcelona e, além disso, não sei se ele faz essas declarações voluntariamente ou não", completou o presidente azul-grená.

3. Apoio a atleta nazista

Em 2017, Roman Zozulya, atacante ucraniano do Rayo Vallecano, foi chamado de nazista pela bancada do clube. Ligado a um grupo ucraniano composto por neonazistas, a contratação do atacante causou um certo alvoroço naquela época, quando a torcida teve acesso aos ideais políticos do jogador. Revoltada, a torcida do clube madrilenho realizou um protesto na sede e o convenceu a abrir mão da contratação do ucraniano, após apenas um dia do anúncio oficial.

Tebas, em seguida, partiu em defesa do jogador. Além de pedir por tolerância e respeito, o presidente da LNFP fez questão de afirmar o eventual desejo de entrar com queixa criminal contra os torcedores do Rayo, caso reunisse evidências criminais por coação. "É inadmissível termos esse problema na Espanha. Não se pode rotular uma pessoa por uma ideologia", afirmou, em entrevista ao jornal catalão Sport.

4. Atritos com Vini

O episódio do último domingo (21/05) não foi o primeiro a envolver o nome de Vinícius Júnior em atitudes racistas. Depois de ver o jogador sofrer preconceito por todo o território nacional, Tebas havia chegado a reforçar total apoio por parte da Liga, com a promoção de campanhas nas redes sociais por meio de hashtags e encontros marcados entre os dois para que estratégias fossem demarcadas para combater o problema.

Vinícius, por outro lado, não comprou a ideia. Convencido de que as alternativas propostas pelo presidente não surtiam efeito, foi às redes sociais para protestar contra a gestão do campeonato ao sofrer, mais uma vez, forte retaliação por conta da cor de sua pele. "Mais uma vez, em vez de criticar racistas, o presidente da La Liga aparece nas redes sociais para me atacar. Omitir-se só faz com que você se iguale aos racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo. Quero ações e punições. Hashtag não me comove", protestou o atacante.

Como contragolpe, Javier Tebas, após já ter respondido uma postagem de insatisfação feita por Vini Jr., na qual colocava a Espanha como um país "que aceitou exportar para o mundo a imagem de um país racista", fez questão de colocar as reclamações do brasileiro como "injustas", pois os casos de racismo em território espanhol são "poucos". "Como La Liga, denunciamos e combatemos o racismo com toda rigidez dentro das nossas competências", finalizou Tebas.

5. Partido próximo do clã Bolsonaro

Apoiador das causas do partido de ultradireita Vox, o presidente de La Liga viu o líder da legenda, Santiago Abascal, viajar até o Brasil, em 2021, para um evento promovido por Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em Várzea Grande, houve debate sobre importar o ultra direitismo espanhol para a América Latina. 

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima