Nem sempre a trajetória rumo ao futebol europeu segue um roteiro curto em direção ao estrelato. Enquanto alguns pegam atalhos, outros dependem de um GPS para desbravar o mundo da bola. Aos 20 anos, Yan Victor, brasiliense do Recanto das Emas, escolheu para si um script um tanto distinto na profissão seguida com paixão.
Depois se mudar para São Paulo, a fim de tentar a sorte nas categorias de base do Rio Claro e de somar boas performances, o garoto recebeu a oportunidade do técnico da equipe de mudar-se para a pequena cidade de Gouveia, no leste de Portugal, longe dos holofotes de milionárias agremiações como Benfica, Porto e Sporting, para tentar a sorte na quinta divisão nacional. Ao Correio, o candango contou como está sendo a aventura na Europa, além das perspectivas.
O começo
Guiado pelo pai, seu Josimar Oliveira, 49, Yan decidiu se mudar aos 13 anos para Campinas (SP), onde jogaria pela Ponte Preta. Sem oportunidades, foi dispensado e voltou para Brasília antes de ganhar a chance de jogar pelo Rio Claro. Lá, no entanto, apesar de ter consciência dos sacrifícios necessários, enfrentou expressivas dificuldades. "Só recebia do clube duas refeições por dia, e mal podia usar o celular". Ele recorreu ao bom futebol para agarrar a oportunidade de se mudar para o exterior e viver um divisor de águas.
"Cheguei a jogar com Robert Renan (joia do Corinthians vendida ao Zenit São Petersburgo), por exemplo, e mesmo sem ainda ter chegado a um patamar tão alto, enxerguei ali uma oportunidade". Em Gouveia, o brasiliense de 18 anos impressionou ao marcar dois gols na estreia e chamou a atenção do Tirsense — clube da quarta divisão. Após um ano e meio no primeiro destino, Yan mora nos arredores da cidade do Porto e experimenta diferentes sensações.
"Já sofri xenofobia, preconceito. Me chamavam de 'zuka' (abreviação de brazuca) e me mandavam voltar para casa". Apesar disso, o garoto relata ter conseguido desempenhar um bom futebol, além de conhecer pessoas maravilhosas pelo caminho.
O brasiliense é o mais novo entre os outros sete brasileiros do elenco. Yan revela saber a fórmula para conquistar de vez a titularidade na equipe. "Penso sempre no vestiário, na minha família distante e nas minhas orações. Sem Deus, não teria chegado onde estou, muito menos sem os conselhos e o apoio do meu pai".
Futuro
Yan se diz longe do principal objetivo. Para ele, o dia do aniversário de 23 anos é a data limite estabelecida para insistir na tentativa de voar alto no exterior. Caso não consiga alcançar um destino expressivo, voltará ao Brasil para estudar. "Querendo ou não, é difícil. Preciso estar com a mente blindada, pois passo o ano quase todo fora e longe da minha família. Mas vou chegar lá, tenho certeza".
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima