Quem observa a classificação do Campeonato Brasileiro na abertura da quinta rodada não imagina a existência de uma realidade alternativa no campo dos números. As somas de boa parte dos protagonistas da elite nacional após quatro jornadas contradiz outro ranking: o das finanças. Segundo estudo da empresa de marketing esportivo, Sports Value, parte dos donos das maiores receitas do ano passado estão ameaçados pela degola na atual temporada. Em contrapartida, uma parcela dos mais endividados despontam nas primeiras posições da Série A.
O relatório analisa os caixas dos 20 figurões da primeira prateleira do futebol do país e de dois da Série B — Atlético-GO e Ceará. Os números não mentem, mas o esporte mais popular do planeta reforça que não é uma ciência exata, sobretudo no Brasil. Orgulhoso de ser o clube que mais arrecadou no ano passado, o Flamengo (R$ 1,177 bilhão) vive o drama da zona do rebaixamento, com a 17ª colocação e com apenas três pontos somados dos 12 disputados. Tentará, hoje, às 20h, no Maracanã, escapar com um resultado positivo contra o Goiás.
- Podcast Correio no Brasileirão projeta a 5ª rodada da Série A; assista
- Zagueiro Bauermann, do Santos, é cobrado por apostador por não cumprir acordo
- Fluminense afasta zagueiro em meio à investigação sobre manipulação
De acordo as análises da Sports Value, o time da Gávea ocupa uma 15ª colocação no relatório: a de dívidas. O clube carioca tem débitos avaliados em R$ 258,8 milhões. Entre as 12 principais camisas do cenário nacional, a rubro-negra é a mais aliviada pelos boletos. O líder do quesito é um gigante que abocanhou títulos em um passado não tão distante. Em 2021, o Atlético-MG faturou o próprio Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, além da Supercopa no início de 2022. Hoje, negocia os mais de R$ 1,5 bilhão de déficit e aparece na 16ª colocação.
Dono do terceiro elenco mais valioso da América do Sul, o Galo gasta mais do que arrecada. Na temporada passada, obteve apenas a sexta melhor receita entre os times do país, com R$ 429 milhões. Ainda que breve, a diretoria atleticana terá uma oportunidade de aprender um pouco mais com o Cuiabá. O Dourado é a instituição que menos lida com encargos: R$ 2 milhões. Pode não recolher tanto, como no ano passado (R$ 133,3 milhões) mas também não dá um passo maior que as próprias pernas.
Lição
A gestão cuiabana pode ser inspiração para o Cruzeiro. No primeiro ano como Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o clube dirigido por Ronaldo Fenômeno resolveu fazer frente negativamente com o Atlético-MG. A Raposa também rompeu a barreira do R$ 1 bilhão de dívida e colou no arquirrival. O montante adquirido a instituição celeste também foi baixo para os padrões dos grandes: R$ 155 milhões — o índice mais baixo entre os 12 mais tradicionais do Brasil. Apesar da situação, vive bom início com a terceira colocação no Brasileiro.
Adversário do Cruzeiro hoje, às 21h30, no Mineirão, o Fluminense, sexto colocado no Brasileirão, também marca presença no top-10 dos maiores arrecadadores do cenário nacional. O Flu angariou R$ 347,2 milhões no ano passado. Contudo, viu a dívida seguir alta no período (R$ 677,5 milhões). Dá para dizer que os valores estão invertidos. Líderes também são endividados e campanhas recentes bem-sucedidas nas quatro linhas pode não oferecer a realidade ao torcedor.
Atual campeão do Brasileirão e dono de dois dos últimos quatro canecos da Libertadores, o Palmeiras teve despesas acumuladas em R$ 875,8 milhões. O valor é considerado alto quando considerado os sucessos esportivos nos mandatos de Leila Pereira e Maurício Galiotte. O montante representa 338% a mais do prejuízo do Flamengo, maior concorrente dos paulistas nos últimos anos. Em compensação, o alviverde viu entrar R$ 856 milhões no caixa, o que possibilitaria abater quase todos os débitos.
No G-4 das receitas, há um "invasor". O Corinthians amarga a terceira maior dívida do cenário: R$ 910 milhões. Isso, porém, não derruba a margem de crescimento. No ano passado, o clube com a segunda maior torcida do Brasil viu R$ 779,1 milhões serem creditados na conta bancária. Ficou atrás apenas dos poderosos Flamengo e Palmeiras. Atualmente, o Alvinegro do Parque São Jorge vive dias complicados dentro e fora de campo. O presidente Duílio Monteiro Alves é alvo constante de protestos da torcida, sobretudo pelo início ruim de Brasileirão, com a 15ª colocação, com quatro pontos somados.
O desafio corintiano para se distanciar do Z-4 é o líder invicto Botafogo, outra SAF brasileira, amanhã, às 19h, no Nilton Santos. Embora puxe a fila no principal torneio do país, o clube comandado pelo empresário americano John Textor fechou 2022 com a sexta maior dor de cabeça, próximo dos R$ 730 milhões.
Evolução
Juntos, os 20 clubes listados arrecadaram R$ 7,5 bilhões em 2022, um amento de 9% em comparação ao ano anterior. As maiores fontes de renda foram as bilheterias, com R$ 600 milhões — R$ 149 milhões a mais do que 2021. Direitos de transmissão, transferências de jogadores, marketing e programas sócio-torcedor complementam o faturamento. As dívidas, por outro lado, sofreram uma queda. O relatório indica R$ 10,6 bilhões de déficit total, abaixo dos valores das três temporadas anteriores: R$ 10,7 bilhões, R$ 12,1 bilhões e R$ 11 bilhões, em 2019, 2020 e 2021, respectivamente.