Referência do esporte brasileiro e um dos principais nomes da maratona aquática, a campeã olímpica nos Jogos Tóquio-2020, Ana Marcela Cunha, está recuperada de uma cirurgia no ombro esquerdo. Cinco meses após a intervenção, a baiana de Salvador tem data confirmada para voltar a mergulhar em busca de novos pódios.
Ana Marcela Cunha voltará a competir na próxima segunda-feira (8/5), na etapa do Egito da Copa do Mundo de Águas Abertas. Embora tenha lidado com o desafio da primeira grande cirurgia da carreira, a multicampeã foi resiliente. “Desde o primeiro dia pós-cirurgia, sempre me foi passada muita tranquilidade por toda a equipe. O tempo é recorde, sim, mas para quem está acostumada a competir todos os meses e tantos treinos que vínhamos fazendo, é um tempo longo”, comentou.
“Para o atleta de alto rendimento, sempre vai gerar um pouco de dúvidas, mas o mais importante de tudo, de todos os retornos que tive, é estar sem dor para voltar a rodar o que estava acostumada, treinar com intensidade e volume”, ressaltou Ana Marcela.
Para ela, o regresso sem a necessidade de adaptações aumenta o otimismo. “Retornar aos treinos sem adaptações faz a gente ter muita convicção do trabalho nessa reta final para voltar a competir”, afirmou.
Em 2022, Ana Marcela subiu ao pódio das 12 provas que disputou. Ela chegou a reclamar de fortes dores que incomodavam apara levantar os braços. Mesmo assim, controlou os esforços e foi campeã Circuito Mundial.
O tratamento de uma das principais atletas do país foi um trabalho meticuloso. Na semana após a conquista mundial, a baiana estava na mesa de cirurgia para tratar da lesão. O técnico dela, Fernando Possenti, foi uma das cabeças de todo o processo. A recuperação tão rápida e o retorno confiante de Ana surpreenderam ele a equipe do COB.
“O planejamento foi feito à várias mãos, em conjunto. Analisando o calendário 2023, vimos que cabia realizar a cirurgia naquele momento, sem prejuízos para a atleta. O que a gente não esperava era uma recuperação tão boa. E a dela foi melhor do que o esperado em todos os sentidos. A Ana Marcela está zero quilometro do ombro operado e rendendo nos treinos”, avaliou.
Na análise do supervisor-medico da entidade olímpica, Dr. Rodrigo Sasson, a evolução de Ana Marcela é surpreendente. “Na fase mais dolorosa, quando tivemos que imobilizar o ombro, ela se comportou de forma exemplar, respeitou os limites, se conservou, não atropelou etapas. Assim, conseguimos ganhar o arco de movimento até mais precocemente do que o normal”, explicou.
“Depois, trabalhamos na progressão de força, para equilibrar com o outro ombro não operado. Outro fator diferencial é que o treinador estava o tempo todo envolvido, participando de todas as decisões”, detalhou o supervisor-médico do COB.
O trabalho com a nadadora foi liderado pelo especialista em ombros Breno Schor e contou com o auxílio dos fisioterapeutas Álvaro Margutti e Bruno Cooperman, do massoterapeuta Júlio Bransford e da preparadora física Juliana Melhem. A dedicação deles e do treinador nas 12 semanas desde a cirurgia até a primeira atividade na piscina reduziram a previsão de retorno de Ana Marcela de 16 para 14 semanas.
O cronograma pareceu apertado, mas foi possível encaixar até um casamento entre as atividades. Em 2 de abril, Ana Marcela Cunha se casou com Juliana Melhem. A esposa, inclusive, foi parte importante do processo. “Estive com a Ana mais vulnerável, com mais dor, menos dor. Acho que esse foi um dos momentos mais difíceis da carreira dela”, compartilhou Melhem.
“Ela só tinha dúvidas e eu procurava passar segurança. E hoje ela está numa fase de muita tranquilidade, porque ela sentiu que o trabalho deu certo, foi muito além do esperado”, complementou.
Em ano pré-olímpico, Ana Marcela Cunha tem plano traçado para fazer bonito nas águas Brasil afora. O foco no retorno é o título inédito nos 10km do Mundial. A disputa acontecerá no Japão, de 14 a 19 de julho, justamente onde a baiana se consagrou nas Olimpíadas.
A brasileira está confiante para os próximos desafios. “Os médicos disseram que pós-cirurgia eu estaria melhor do que estava, e de fato é verdade. Não sinto dor, treino bem e consigo melhorar a minha técnica. Foi um processo longo e não vejo a hora de poder voltar e estar competindo de novo, representando o Brasil e dando o meu melhor lá”, discursou.