Quem observa a repercussão dos reiterados casos de racismo contra Vinicius Junior na Espanha pode não lembrar que nos gramados da principal competição da América do Sul a intolerância também rouba a cena. De uns anos para cá, a Libertadores tornou-se epicentro da intolerância, com injúrias raciais e xenofóbicas. Na atual disputa, infelizmente, a realidade não é diferente.
Três casos de racismo foram registrados contra jogadores ou clubes brasileiros. Mas nem todos foram punidos. A exceção fica por conta do Carabobo, da Venezuela. Em 22 de fevereiro, o Atlético-MG desembarcou no país para o duelo de ida da segunda fase da Pré-libertadores e foi recebido com xingamentos racistas.
O Comitê Disciplinar da Conmebol aplicou multa de US$ 100 mil (cerca de R$ 523 mil). A entidade garantiu que punições contra o racismo se tornariam regra na competição. Dependendo do caso ou de situações de reincidência, pode haver interdição parcial do estádio do clube mandante. Também não está descartada a possibilidade de perda de pontos.
Alguns casos, no entanto, seguem em pendência com a Conmebol. Em 3 de maio, na partida entre Internacional e Nacional-URU, no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, torcedores visitantes mostraram banana e imitaram macacos para os colorados.
A maior torcida do Brasil também foi alvo de preconceito dos "hermanos". No dia seguinte às injúrias no Beira-Rio, flamenguistas sofreram, e não foi pelo 1 x 1 com a bola rolando contra o Racing em Avellaneda. Um argentino foi flagrado imitando um macaco em direção aos rubro-negros. Mesmo com o expediente disciplinar aberto pela Conmebol, os criminosos não foram identificados e punidos.
A "justiça" da entidade que rege o futebol na América do Sul costuma ser tardia. Em março o Boca Juniors e dois torcedores foram punidos por gestos racistas e nazistas disparados contra a torcida do Corinthians, nas oitavas de final da edição passada da Libertadores, em São Paulo. Os argentinos foram presos e liberados mediante pagamento de fiança de R$ 20 mil cada. O clube foi impedido de contar os xeneizes na estreia deste ano, contra o Monagas, na Venezuela.
"O racismo e a violência prejudicam tudo o que nosso esporte representa em favor da autossuperação, do respeito ao adversário e da competição saudável. No entanto, todos nós aqui compartilhamos uma convicção: o futebol é muito mais forte do que esses anti-valores", discursou o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, durante o Seminário de Combate ao Racismo e Violência no Futebol, organizado pela CBF em agosto do ano passado.
"É por isso que deve ser dito muito claramente: o racismo e a violência vão muito além do futebol e a Conmebol, como a principal instituição do futebol continental, assume plenamente a responsabilidade. Estamos determinados a perseguir incansavelmente essas repudiáveis práticas", enfatizou Domínguez.
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Regulamento
O código da Conmebol prevê punições a jogadores e dirigentes que insultem ou atentem contra a dignidade humana de um indivíduo ou grupo de pessoas, seja por cor da pele, sexo, etnia, idioma, crença ou origem. A suspensão mínima é de cinco jogos ou cinco meses.
As diretrizes também estabelecem a diminuição da multa mínima de US$ 100 mil, se o clube penalizado colaborar com a identificação dos culpados, e puni-los. Para apresentar defesas diante das acusações, os times envolvidos enfrentarão prazos pré-estabelecidos, como o proferimento da sentença. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, concordou com as mudanças, mas pediu punições esportivas, como a perda de pontos dos acusados. No entanto, a alternativa ainda não foi adotada.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini
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