Novo Mané Garrincha completa 10 anos sem impulsionar o futebol candango

Dez anos após inauguração, arena erguida por 1,5 bilhão para a Copa com promessa de alçar o futebol local tem clientes inertes na Série D e carece dos jogos de fora. Público total do Candangão 2023 ocupa um terço da lotação

Marcos Paulo Lima

Danilo Queiroz

postado em 18/05/2023 03:55 / atualizado em 18/05/2023 16:59

(crédito: Rafael Ribeiro/CBF)

Em 18 de maio de 2013, o Mané Garrincha era inaugurado oficialmente com palavras ao vento frio do outono. Quem discursava não acreditava nas laudas do próprio texto, mas usava tom profético para driblar o alto custo da obra erguida para a Copa de 2014 por R$ 1,5 bilhão e fazer promessas apagadas pelo tempo. Um dos argumentos para a construção do estádio com capacidade de 72.788 lugares era o legado. A arena catapultaria o futebol da capital. Dez anos depois, o público total dos 51 jogos do Candangão 2023 — 26.467 — equivale a um terço do espaço.

Estamos em 18 de maio de 2023 e o cenário piorou. No dia do lançamento com presenças ilustres da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-governador Agnelo Queiroz, o Distrito Federal tinha um representante na Série C — o Brasiliense, protagonista do primeiro jogo do estádio contra o Brasília na decisão do Candangão de 2013. Dez anos depois, a cidade só tem times na Série D. Das 12 cidades-sede da Copa de 2014, Brasília é a única que só tem representantes na última divisão do Brasileirão. Palcos de elefantes brancos como o Mané Garrincha, Manaus (Arena Amazônia), Natal (Arena das Dunas) e Cuiabá (Arena Pantanal) têm pelo menos um clube na Série C, B ou A para dar utilidade ao estádio sem compra de mandos de campo.

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Um dado atual resume a escravidão do Mané Garrincha dos jogos de fora. Somente em 2023, o estádio recebeu mais jogos de clientes de fora do DF do que da cidade. Houve apenas dois jogos do Candangão na arena contra sete de mandantes do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Piauí. Bangu, Boavista, Trem, Campinense, Portuguesa e América-MG viraram "clientes preferenciais". O Gama mandou uma partida contra o Santa Maria e foi visitante em duelo com o Brasília neste ano. Até mesmo a finalíssima do Candangão deixou de ser prioridade da arena construída com dinheiro público, mas administrada desde 2020 pela iniciativa privada. Em 2013, Jonathan Bocão do Brasiliense fez o primeiro gol do novo Mané Garrincha, justamente na decisão da competição doméstica.

A corrida insana — e quase sempre nebulosa — por compras de mando de campo colocou o estádio na berlinda na Operação Episkiros (Jogo Enganoso) da Polícia Civil do DF em 2013. A bola deu lugar a algemas com uma série de prisões depois da vitória do Palmeiras sobre o Botafogo na Série A daquele ano. A apuração identificou maquiagens nos boletins financeiro de jogos na arena.

Cenas de violência também mancharam o estádio em duelos da Série A entre Vasco e Corinthians, Flamengo e Palmeiras; e até do Candangão no clássico entre Gama e Brasiliense.

Em 10 anos, Brasiliense e Flamengo são os maiores inquilinos do Mané Garrincha. Personagem da segunda partida da história do Mané ao estrear como jogador profissional no lugar de Neymar no duelo entre Santos e Flamengo, Gabigol (11) é o maior artilheiro. Entre as mulheres, Marta (6). De times candangos, Nunes (8) e Romarinho (7).

Alguns recordes estão intactos faz tempo. O maior público em jogos de seleções é o empate por 0 x 0 entre Brasil e África do Sul nos Jogos Olímpicos do Rio-2016: 69.389 pagantes. O Flamengo detém a marca entre os clubes. Vendeu 67.011 ingressos na derrota para o Coritiba, em 2015. A melhor marca do futebol feminino é 15.262 no duelo entre Brasil e Chile, em 2013.