Apostas esportivas

Brasil lidera no ranking da máfia de apostas esportivas

Relatório de uma multinacional especializada em monitorar o crime revela que o país lidera ranking das tentativas de fraude no mundo. Vulnerabilidade aumentou 72,7% de 2021 para 2022. Ataque vai além do futebol e já afeta outras modalidades

Marcos Paulo Lima
postado em 14/05/2023 03:55
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

A janela de transferências do futebol brasileiro ainda não abriu, porém o esporte mais popular do país ganhou um reforço de peso na luta contra a corrupção. A entrada em campo da Polícia Federal para ajudar o Ministério Público de Goiás a erradicar a sujeira que foi empurrada por muito tempo para debaixo dos gramados tem motivo: o mercado nacional de apostas on-line virou um teatro de marionetes.

Relatório publicado anualmente pela empresa Sportradar, uma multinacional líder global no monitoramento de movimentações suspeitas mostra um aumento de 72,7% na quantidade de eventos esportivos alvos de arranjos. Reportagem do Correio mostrou que eram 88 episódios em 2021. O número subiu para 152 no ano passado — 139 deles somente no futebol nacional.

Epicentro dos casos de manipulação há pelo menos três anos, o Brasil supera de longe a Rússia, República Tcheca, o Cazaquistão e a China. A segunda colocação na América do Sul é da Argentina com 39, quase quatro vezes menos do que no vizinho Brasil.

O levantamento foi apresentado, em Brasília, na última quinta-feira, pelo presidente do Comitê de Defesa do Jogo Limpo do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê da Integridade da Federação Paulista de Futebol, Paulo Schmitt, durante a realização da 2ª Cúpula de Integridade Esportiva Brasileira realizada no Tribunal Superior Trabalho. Enquanto especialistas do mundo inteiro debatiam a crise na capital, clubes das principais divisões do país iniciavam uma caça aos bruxos afastando jogadores contestados do elenco.

"A coisa foi para o ventilador e não conseguimos desligar o ventilador sem tomar um choque tremendo de realidade. Isso que está acontecendo agora é um conjunto de omissões das autoridades do país. Agora está todo mundo correndo para oferecer denúncia, mas isso já devia estar acontecendo há muito tempo", criticou Schmitt na palestra.

Há pelo menos quatro razões para a vulnerabilidade do Brasil. A primeira delas é a realização de mais de cinco mil partidas por ano organizadas pela CBF, muitas delas invisíveis não somente no que diz respeito ao monitoramento, mas à produção de provas. Outro tópico são os salários: 87% dos atletas ganham de um a dois salários mínimos por mês. O baixo suporte em programas de integridade e a falta de regulamentação do mercado de apostas tornam o país um banquete para os criminosos.

"A gente precisa dizer de uma vez por todas neste país que é proibido o atleta apostar. Ele e todo o seu entorno. Isso não quer dizer que precisamos excluir as casas de apostas. Temos que criar estruturas mais especializadas para enfrentar este problema, que não é novo, e que é uma crônica da morte anunciada do esporte no mundo. Daqui a pouco, o torcedor, por mais apaixonado que seja, vai perder a crença na imprevisibilidade do esporte", discursou Schmitt em Brasília.

Dos 1.212 casos suspeitos escaneados pela Sportradar no mundo, 775 são no futebol, mas basquete, tênis, tênis de mesa, jogos eletrônicos, críquete, hóquei no gelo, handebol, vôlei, tiro com arco, futsal e golfe estão contaminados. A entrada da PF na Operação Penalidade Máxima e o encaminhamento da Medida Provisória à Casa Civil para regulamentação das casas de apostas não sensibilizam o diretor jurídico do São Paulo, Roberto Armelin. "Sancionar e punir me parece enxugar gelo. É isso que levo ao meu clube. É preciso educar. O que falo aqui é de uma mudança de mindset", adverte.

 


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