Jornal Correio Braziliense

VISITA A PORTUGAL

Brasil lançará programa de combate ao racismo nos esportes na Europa

Ministra da Igualdade Racial afirma que o estopim para que esse projeto avançasse foi o violento ataque ao jogador Vinícius JR., do Real Madri e da Seleção brasileira. Portugueses e espanhóis serão alvos preferenciais nessa luta

Lisboa — Os ministérios da Igualdade Racial e dos Esportes estão na reta final para lançar um programa de combate ao racismo em todas as modalidades esportivas. A iniciativa será voltada, principalmente, para o exterior, onde atletas brasileiros têm sido vítimas constantes de discriminação, em especial, na Europa. O objetivo é começar por Portugal e Espanha, países visitados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e onde há um grupo grande de jogadores de futebol. Segundo a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, o estopim para que o programa saísse do papel foi o violento ataque sofrido por Vinícius Jr., do Real Madri e da Seleção brasileira. “Casos como esse são inadmissíveis”, disse, lembrando que o projeto tem parceria com autoridades portuguesas.

Jogadora de vôlei por muito tempo, Anielle ressaltou que o racismo e a xenofobia sempre existiram no esporte. “Quando menina, com 10, 11 anos, jogando por clubes brasileiros, recebia bombril de presente. Também fui vítima de preconceito nos Estados Unidos. Era xingada por ser brasileira”, relatou. Ela lembrou que, no mesmo período em que Vinícius Jr. foi vítima de preconceito, um garoto, jogador de basquete, sofreu o mesmo crime na Espanha. Portanto, acrescentou, o momento é de unir forças para enfrentar esses problemas.

Segundo a ministra, a cooperação entre os governos do Brasil e de Portugal no combate ao racismo e à xenofobia ganhou contornos importantes com a realização da 13ª Cimeira Luso-Brasileira, realizada no sábado (22-04). Ela contou que, na reunião bilateral com a ministra-adjunta de Assuntos Parlamentares de Portugal, Ana Catarina Mendes, foi apresentada uma proposta “essencial” para que sejam atendidas as demandas de brasileiros que vivem em território luso, principalmente de mulheres negras, as maiores vítimas de discriminação. A ideia é envolver a Universidade de Lisboa, que tem um observatório sobre racismo, e universidades brasileiras no sentido de atuarem em conjunto em torno desse tema.

Para Anielle, muito do crescimento dos ataques racistas e xenófobos está associado ao discurso de ódio que prevaleceu nos últimos seis anos, de forma mais intensa no governo de Jair Bolsonaro, com o avanço da extrema-direita e das fake news. Ela reconheceu que não será uma tarefa fácil reverter o comportamento de grupos radicais. Mas, no entender dela, a cooperação com o governo de Portugal será um passo importante para que o combate à discriminação seja efetivo em ambos os países.