ARTE E TALENTO

Arquiteto que projetou medalha das Olimpíadas de Inverno se inspirou em Brasília

Amante dos esportes e das artes, Dante Akira é o vencedor do concurso que escolheu as medalhas das Olimpíadas de Inverno da Juventude Gangwon-2024. Ao Correio, o arquiteto revela como Brasília influencia na carreira

Victor Parrini
Pedro Ibarra
postado em 24/04/2023 06:00
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Longe de ter um inverno rigoroso e de ser potência dos esportes de inverno, Brasília se orgulha de ter uma das primeiras vitórias da versão gelada das Olimpíadas da Juventude Gangwon-2024, na Coreia do Sul. A disputa na Coreia do Sul começará apenas em 19 de janeiro do próximo ano, mas um brasiliense de coração ostenta uma glória antes da abertura. Morador do Sudoeste, Dante Akira Uwai venceu o concurso para projetar as medalhas da edição. Ao Correio, o arquiteto revelou o "segredo" do triunfo, pediu investimentos públicos na arte e compartilhou a inspiração na capital federal para o projeto de sucesso.

Dante é um paulista de 27 anos, mas que se mudou para Brasília aos cinco. São 22 anos sob influência da capital do país. Por aqui, iniciou a trajetória acadêmica e profissional. É graduado em arquitetura pela Universidade de Brasília (UnB) e sempre teve um pezinho nos esportes e, sobretudo, nas artes. Amante da natação, ele precisou deixar a modalidade de lado para mergulhar nos livros. A arte, porém, seguiu caminhando com Dante.

"Quando chegou a época do vestibular, tive de deixar um pouco a natação de lado para estudar. Sempre gostei de desenhar, e essa é a minha grande paixão até hoje. Dizem que o que diferencia um artista das outras pessoas não é talento, mas uma ardente necessidade de criar, e eu sinto que esse espírito de artista é muito forte em mim", compartilha.

Apesar necessidade de criar, Dante se deparou com incertezas quando precisou escolher o curso. "Fiquei em dúvida entre alguns cursos, mas todos eram na área de artes. Acabei decidindo pela arquitetura, pensando no mercado de trabalho, mas uma vez dentro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo descobri que arte era algo muito além do desenho. Lá, aprendi sobre pintura e escultura, tive um contato muito legal com arte contemporânea e também com design", explica.

Durante a graduação, Dante amadureceu o conhecimento e o amor pela arte. Quando o edital do concurso para o design das medalhas dos Jogos de Inverno da Juventude foi publicado, ele enxergou uma chance preciosa. "Vi ali uma oportunidade de juntar essas duas paixões que eu tenho em uma proposta que fosse coerente com o que eu acreditava: que esporte e arte são transformadores", diz.

Embora não tenha titubeado no momento de fundir as duas paixões da vida, Dante manteve as esperanças baixas para evitar eventual frustração com o resultado. "Os concursos de arte são muito subjetivos e envolvem uma dose de sorte dos jurados entenderem a proposta e se conectarem com ela. Conforme fui passando das fases, criei mais expectativas até sair o resultado", revela. "É uma realização muito grande e saber que foi uma disputa tão acirrada, com tantos concorrentes, deixa tudo com um sabor especial. Me lembra aquela frase: 'É justo que muito custe o que muito vale'", discursa.

O brasiliense foi soberano entre 3 mil concorrentes. Para convencer a alta cúpula do Comitê Olímpico Internacional (COI), resolveu fugir do convencional. "Usei alguns ensinamentos do livro Universos da Arte, da artista plástica Fayga Ostrower. Ela ensina princípios de linguagem visual para operários de uma fábrica, leigos em arte. Ela consegue, com exemplos práticos, demonstrar como as linhas influenciam o nosso olhar e como é possível criar narrativas por meio de elementos visuais. Eu tinha uma história para contar com essa medalha e a geometria foi a linguagem", ressalta.

Dante faz parte de uma minoria brasileira com acesso à arte e conhecimento aprofundado na área. A vitória dele é um recado às autoridades. Investimentos públicos são necessários e precisam acontecer desde a base. "Essa mudança deve ser principalmente cultural. O processo para entender o valor de uma obra de arte vem desde a educação infantil e passa por como as pessoas respeitam um patrimônio público, a memória de um artista, as nossas raízes. É um esforço coletivo de várias áreas, reforçado com essa sensação de identidade: essa obra é brasileira, como eu", endossa.

Influenciado por Brasília

Morador da capital do país há 22 anos, Dante revela a inspiração na arquitetura da capital do país. "Dizem que Vinícius de Moraes, se estivesse compondo um poema em um bar, colocaria como coautor o garçom e todas as pessoas do bar se pudesse. As pessoas e o contexto que rodeiam o artista sempre o influenciam e em Brasília isso é ainda mais forte", comenta. "Brasília é uma das Cidades Criativas do Design pela Unesco e é um polo de economia criativa. Nós respiramos arte e temos que lutar para que essa identidade continue sempre forte", defende.

Questionado se serviu de inspiração para outros artistas brasileiros, Dante foi direto: "Essa porta esteve sempre aberta, mas é preciso lembretes constantes para que as pessoas entendam que podem ser protagonistas de feitos grandes. É importante lembrar também que a segunda colocada é colombiana e o terceiro colocado, mexicano, em um concurso em que tivemos muitos participantes europeus, americanos e, obviamente, sul-coreanos. Temos potencial para conquistar feitos mundiais, basta acreditarmos", discursa o brasiliense de coração.

*Colaborou Davi Cruz

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