Uma pitada de segurança ao apostar em velhos conhecidos e outra de ousadia ao iniciar com um esquema criticado durante a passagem do antecessor Vítor Pereira, embora com variação no final. Assim, Jorge Sampaoli viveu os primeiros 90 minutos na área técnica do Flamengo. Na vitória diante do Ñublense, por 2 x 0, no Maracanã, pela Libertadores, o rubro-negro teve um futebol melhor baseado em princípios do argentino, além da fidelidade a Gerson, Vidal e Marinho. O trio, top-10 de minutagem com o comandante nas passagens por Marselha, Chile e Santos, começou o jogo como titular.
As apostas se apoiaram em pouco tempo de trabalho. Contratado na sexta-feira (14/4), Sampaoli assinou contrato no domingo (16/4). Na segunda-feira, bateu papo com todo o elenco, mas trabalhou apenas com os reservas. Os titulares da vitória contra o Coritiba fizeram trabalhos regenerativos. Na terça-feira, teve o grupo à disposição e realizou testes. Em atividade leve promovida no dia do jogo, o argentino cravou o 11 inicial. Nos primeiros contatos, deixou clara a filosofia: toques forte na bola e intensidade no gramado, conforme revelado pelo lateral-direito Wesley. Nesta quarta-feira (19/4), pôs em prática.
A vitória rubro-negra no início da era Sampaoli foi baseada em um mantra antigo do treinador: amor pelo balón. Contra o Ñublense, os cariocas finalizaram o jogo com 60% de posse de bola, boa parte na etapa inicial. Antes do resultado, porém, o argentino teve a primeira "crise" com a torcida do Flamengo. Quando a escalação inicial foi revelada, os rubro-negros colocaram a tag #ForaSampaoli entre os assuntos mais comentados na internet. Nada que uma atuação com certa evolução não amenizasse.
Nos poucos momentos onde foi exigido defensivamente, o Flamengo se posicionou em uma linha de quatro, com Fabrício Bruno povoando o lado direito. A saída era apoiada por Thiago Maia e Vidal. Quando atacou o Ñublense, variou entre 3-1-6 e 3-2-5, sempre com Marinho e Ayrton Lucas abertos pelas pontas. Centralizado, Gabi voltava bastante para atuar como construtor e elemento de infiltração. A postura ofensiva foi recompensada aos 13 minutos. Marinho cobrou falta na área e Pedro antecipou o goleiro: 1 x 0.
A atuação do Flamengo de Sampaoli, mesmo com as fragilidades do Ñublense, não foi engessada. Vidal e Gerson eram quem mais alternavam faixas no campo, inclusive a grande área. Em vias gerais, no primeiro tempo, o rubro-negro entregou intensidade, embora, às vezes, faltasse passe refinado no meio-campo. A compactação dos setores foi outra marca apresentada, assim como a marcação alta. Desta forma, aos 39, Thiago Maia deu combate, Marinho ficou com a bola e passou para Pedro ampliar.
No segundo tempo, o Flamengo caiu de produção. O Ñublense se assanhou e fez o rubro-negro baixar o ritmo e as linhas. A intensidade dos 45 minutos iniciais também deixou o time mais lento e desconexo. Sampaoli identificou o problema e acionou Cebolinha, Wesley e Everton Ribeiro, desmanchando a linha de três zagueiros. No 4-3-3, mas sem movimentos 100% padronizados, a equipe errou passes teoricamente simples, inclusive em um contra-ataque, onde Cebolinha tocou atrás da linha de avanço de Gabi.
A parte final deixou Sampaoli ver in loco as limitações enfrentadas pelo Flamengo em jogos recentes e os problemas que carecem de resolução em um futuro próximo. O rubro-negro até marcou o terceiro em trama de Everton Ribeiro, Gabi e Pedro, mas o lance foi anulado por falta na origem da jogada. Embora não tenha sido constante por 90 minutos, o time carioca apresentou um cenário de evolução com o argentino.
Jorge Jesus
Jorge Sampaoli estreou, mas o Flamengo ainda guarda mágoas do xará Jesus. Em áudio de reunião do Conselho Deliberativo obtido pelo ge.globo, o presidente Rodolfo Landim teceu ironias ao português. "Eu até conversei para sondar a possibilidade dele vir. Afinal, quando quis sair, saiu. Ele poderia também querer sair de lá (Fenerbahce) e vir para cá se tivesse essa vontade e esse amor todo pelo Flamengo", alfinetou.
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