Jornal Correio Braziliense

BRASILEIRÃO

Times da Série A dão voto raro de confiança e ainda não demitiram em 2023

Na contramão de outras temporadas, equipes da elite nacional ainda não mandaram nenhum treinador embora. Pezzolano foi o único a sair, mas por vontade própria

O fim da linha para Paulo Pezzolano no Cruzeiro, confirmado na segunda-feira, marcou a primeira saída de um técnico da elite do futebol brasileiro na nova temporada. Após nova derrota para o América-MG e eliminação na semifinal do Campeonato Mineiro, o uruguaio pediu as contas no clube celeste e abriu espaço para o português Pedro Miguel Marques da Costa Felipe, o Pepa. Entretanto, ao observar o andamento da temporada, é possível perceber uma drástica mudança na relação entre os donos da prancheta e os dirigentes dos clubes da primeira prateleira do futebol nacional.

Nos primeiros meses de 2023, os cartolas têm sido mais pacientes com os técnicos. Como a saída de Pezzolano foi unilateral, nenhum clube da elite realizou demissões no cargo mais instável do país. Para efeito de comparação, no mesmo período da temporada passada, nove técnicos tinham perdido empregos. As demissões seguiram a tendência no Brasileirão. Após o fim da primeira rodada do torneio nacional, Alberto Valentim, no Athletico-PR, e Marquinhos Santos, no América-MG, puxaram a fila dos dispensados.

Das nove saídas de 2022, cinco foram em meio às fases iniciais dos estaduais e em um espaço de nove dias, entre 3 e 11 de fevereiro. Corinthians, Avaí, Atlético-GO, Botafogo e Juventude demitiram Sylvinho, Claudinei Oliveira, Marcelo Cabo, Enderson Moreira e Jair Ventura, respectivamente. Coincidência ou não, catarinenses, goianos e gaúchos fizeram parte dos rebaixados à Série B. Mesmo com alguns trabalhos capengando, como no Flamengo e no próprio Cruzeiro, a medida drástica de demissão no foi adotada.

A mudança abre espaço para uma discussão recorrentemente solicitada entre os acompanhantes de futebol: a permanência e a continuidade dos treinadores nos cargos. Vários nomes têm passado por percalços em clubes neste início de temporada e, ainda assim, seguem bancados pelas gestões.

Os campeonatos estaduais escancararam crises em alguns dos times da elite. Odair Hellmann segue no Santos, apesar de mais uma queda na fase de grupos. Ele foi mantido no cargo, assim como Fernando Lázaro e Rogério Ceni, alvos de reclamações pelos desempenhos inconstantes apresentados por Corinthians e São Paulo. "O São Paulo hoje, ao lado do Palmeiras (Abel Ferreira) e do Fortaleza (Juan Pablo Vojvoda), são clubes com longevidade para o técnico. Achamos que tem que ser esse o caminho. Não podemos ficar trocando de técnico como quem troca de camisa", disse o presidente Júlio Casares, em recente entrevista ao Uol.

Calma aos lusos

Entre os portugueses, a paciência tende a ser ainda maior. Eliminados precocemente nos estaduais, António Oliveira e Luís Castro sofrem pressão, mas são mantidos no Coritiba e no Botafogo. Mais um exemplo é o de Renato Paiva, que, além de desclassificado nas semis do Campeonato Baiano, é uma das peças da campanha desastrosa do Bahia na Copa do Nordeste.

O caso mais conhecido entre esses é o de Vítor Pereira. Após trocar de forma polêmica o Corinthians pelo Flamengo, o comandante aceitou o desafio de levantar taças pela equipe carioca, fracassando no Mundial de Clubes, na Supercopa do Brasil, na Recopa Sul-Americana e na Taça Guanabara. Apesar de ser constantemente xingado e vaiado pela torcida rubro-negra, VP é mantido sob a esperança de levantar o primeiro título, caso leve a melhor no Fla-Flu que decidirá o Cariocão.

"O Flamengo trouxe uma comissão técnica para a temporada e incluía a Supercopa e o Mundial. Não é porque perdeu que vai falar que precisa de tempo. Logo no primeiro jogo que perdemos, conversamos bastante. Acreditamos no trabalho do Vítor. Isso é importante ratificar. Agora, é vida que segue", cravou o vice-presidente de futebol Marcos Braz, em fevereiro. Por enquanto, o voto de confiança está de pé, assim como em outros clubes brasileiros.

*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima