Lá se vão 583 dias desde o encerramento das Olimpíadas de Tóquio e da consolidação da melhor campanha brasileira no principal evento do esporte mundial. As 21 medalhas conquistadas na Terra do Sol Nascente — sete ouros, seis pratas e oito bronzes — fazem parte da glória do esporte nacional, mas ficam apenas na história. Agora, o olhar é para o futuro, mais precisamente para daqui a 500 dias, quando os Jogos Paris-2024 serão oficialmente abertos. Tudo parece muito distante, mas, para o Comitê Olímpico do Brasil (COB), a largada foi dada antes de 26 de julho do próximo ano. Em entrevista exclusiva ao Correio, o presidente da entidade, Paulo Wanderley, comenta a evolução do país nas disputas internacionais, projeta trajetória com novos brilhos na Cidade Luz e fala sobre a importância de Brasília para modalidades como o judô, que ele conhece tão bem.
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No bate-papo a seguir, o dono da caneta do Comitê ainda revela qual o legado gostaria de deixar após o fim do mandato em 2024 e não esconde o otimismo após a recriação do Ministério do Esporte no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os primeiros diálogos com a chefe da pasta, a ex-jogadora e medalhista olímpica com a Seleção de vôlei nos Jogos Atlanta-1996, Ana Moser, são positivos e indicam boa relação entre a entidade e o poder executivo.
O esporte brasileiro vem em uma crescente. É momento de manter ou aumentar o ritmo?
O ano passado foi bastante produtivo, com resultados bons e número de medalhas maior do que nas Olimpíadas, mas isso não garante nada. Ganhou, passou, virou história. Esse ano ainda teremos os Jogos Sul-Americanos e Mundiais de Praia, Jogos Pan-Americanos, além dos mundiais de cada modalidade. Estamos em uma crescente desde 2018. Isso nos dá certa segurança para fazermos uma previsão próxima à realidade. Estamos fazendo o que tem que ser feito.
Não é novidade que oferecemos o melhor serviço possível aos nossos atletas, pois a missão de conquistar medalha é deles. O nosso objetivo é oferecer um serviço de excelência para terem tranquilidade e podem desempenhar da melhor maneira. Em relação às medalhas, me cobro muito. Cobro muito do pessoal da diretoria e não fazer por menos. É, no mínimo, de 21 conquistas para frente. Trabalhamos com a meta de superação.
O que seria melhor: superar as 21 medalhas no geral ou os sete ouros de Tóquio?
Essa narrativa que vai depender (risos). Na verdade, o que fica é o quantitativo de medalhas. E se forem oito, nove ouros, menos medalhas? Também está bom. E se conquistarmos menos ouros, mas mais medalhas no geral? Ok, houve evolução. Temos outras metas, como o número de modalidade que chegam a disputar medalhas. Em Tóquio, foram 13. Se chegarmos a 14 ou 15, mostra que crescemos. Número de atletas que disputaram pódio também é um parâmetro.
Como está a relação com Brasília?
Brasília é candidata a sediar os Jogos da Juventude em 2025. Trabalhamos com muita antecedência e entregamos os encargos para o governo. Temos mais de uma cidade no páreo, mas Brasília é um ótimo local para se fazer evento. É central, econômica. Vejo com bons olhos a realização de eventos em Brasília.
Você foi treinador de judô e presidente da Confederação da modalidade. O que falar de Bianca Reis, a brasiliense destaque dos tatames?
Ela é um sucesso e bastante promissora. Teve excelentes resultados nos Jogos Olímpicos da Juventude e recebeu o troféu de melhor atleta da competição no Prêmio Brasil Olímpico. Brasília é um celeiro de atletas do judô. Temos o Luciano Corrêa, hoje técnico na Europa, a Érika Miranda, Ketleyn Quadros.
Como enxerga o Time do Brasil no judô? Dá para surpreender na casa da segunda maior potência do esporte desse esporte?
Dá para fazer bonito, sim. Eles (judocas) ótima performance no último Mundial. Foram quatro medalhas: duas de ouro e duas de bronze. Essa é uma referência muito boa. O judô brasileiro tem uma marca de bons resultados. É um esporte que desde 1984 garante pódios, é uma regularidade. Isso é importante. Não adianta ter explosão e desaparecer. O nosso judô está sempre no pódio. Tenho boas expectativas para Paris.
Em qual estágio está o trabalho de logística e apoio aos atletas, comissões e profissionais envolvidos?
Há alguns dias, a equipe técnica do COB chegou em Paris para fazer o mapeamento e vistoria do que está contratado. Temos uma sede para nossos atletas ficarem antes e durante as Olimpíadas. Vamos dar um suporte maior, além do que eles receberão na Vila Olímpica. Teremos nossos profissionais, acostumados a estar com os atletas, o que é um grande facilitador. Caso algum competidor venha ter problema, não precisará entrar na fila do atendimento médico, nutricional, fisioterapêutico, psicológico. Vão andar um pouquinho, mas a 1km estará nossa base, em Saint-Ouen. Objetivo é desenvolver um serviço de qualidade para nossos atletas. Queremos dar tranquilidade para eles: dormir, comer, treinar, competir e ganhar medalha. O resto é com a gente.
O contexto pandêmico mais controlado é um facilitador para organização em Paris?
Sem dúvida. A pandemia foi uma situação bastante difícil, mas para todos. Tivemos, sim, algumas ideias inovadoras, algumas consideradas case do esporte mundial. Com o controle maior do vírus, tudo fica bem mais fácil, em termos de locomoção dos nossos atletas, idas e vindas. Apesar do cenário, estamos sempre atentos (contra a covid-19) e não podemos relaxar.
Fechar com a base de Saint-Ouen foi um bom negócio?
O ponto básico foi o custo. Primeiro que ter acesso aos clubes estava extremamente concorrido. Fechamos o convênio com a prefeitura de Saint-Ouen com muita antecedência, no final do primeiro semestre do ano passado. Lá, teremos todas as instalações que necessitamos. Está praticamente tudo pronto. Faremos poucas coisas, como uma quadra para o vôlei de praia. A cidade abraçou nossa causa. Queremos ter interação com a comunidade.
As campanhas em competições prévias às Olimpíadas podem indicar um caminho para a trajetória na França?
Ninguém abre o paraquedas e cai em Jogos Olímpicos. Não existe a possibilidade um atleta conquistar uma medalha olímpica "do nada". O COB trata do atleta no exterior. Tudo é uma crescente. Quando o atleta chega para nós, fazemos um planejamento para termos a escadinha: Jogos e Campeonatos Sul-Americanos e Pan-Americanos, Mundiais até chegar às Olimpíadas. Não é uma caminhada simples, são muitos degraus, deslizes. Não tem como ser de outra forma. Precisa haver intercâmbio, senão não cresce, evolui e se afirma no cenário.
Estamos em ano de Jogos Pan-Americanos. A meta para Santiago é repetir o segundo lugar da edição de 2019 ou é possível superar os Estados Unidos?
Vamos ser realistas: não (risos). Não será na nossa gestão que isso acontecerá. Mas, historicamente, o Brasil tem ficado entre segundo e quarto no quadro geral de medalhas no cenário Pan-Americano. Na América do Sul, somos imbatíveis. No ciclo atual, fomos muito superiores nos Jogos de Juniors e nos Sul-Americanos. No Pan de 2019, o resultado foi histórico, um vice-campeonato. O objetivo é manter a posição e dar espaço para que sentem na nossa cadeira. É difícil chegar, mas é ainda mais difícil manter. Não somos só nós que treinamos, que fazemos intercâmbio.
O ciclo de três anos realmente dificulta o trabalho?
É mais difícil, sim. Porém, o tempo é igual para todos. Fica na mão dos cientistas esportivos fazerem a reprogramação dos períodos de treinamentos. O desafio para nós, da direção, é oferecer as mesmas condições de quatro anos em um período de três anos. Posso garantir que tem sido bem-feito, não existem queixas e está indo conforme o planejado.
Qual balanço faz da sua gestão até aqui e qual legado gostaria de deixar?
Em 11 de outubro de 2023, farei seis anos à frente do COB. Me cobro muito, mas a minha equipe é muito forte. Dei muita sorte. Trabalho muito, mas tenho ainda mais sorte. Tenho uma equipe de primeira linha, em todas as áreas. Posso dizer o seguinte: as diretorias são de altíssima competência. O sucesso do COB é o sucesso da equipe. Existe a participação maior dos atletas nas decisões do Comitê. Quando cheguei, somente um atleta fazia da Assembleia Geral. Hoje, 19 fazem parte. É uma gestão de co-participação. Trabalhos em cima de austeridade, meritocracia e transparência. Meu legado será esse: gestão.
Como enxerga a recriação do Ministério do Esporte?
Havia uma expectativa do mundo esportivo para a recriação do Ministério do Esporte. Isso aconteceu. Aconteceu de ser, também, uma ministra, mulher e esportista, que vai entender melhor as razões do esporte. Estive com a Ana Moser, fez uma visita, mostramos nosso trabalho. Foi uma conversa muito boa e tenho a expectativa que possamos ter bons resultados e melhor interação entre o COB e o Ministério do Esporte. Somos parceiros, andamos no mesmo patamar e somos aliados. Nossa intenção é colaborar, sempre que formos demandados, estaremos às ordens.
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