O futebol de Brasília via-se acostumado a ter equipes do entorno disputando seu principal título. Porém, com todos os representantes do Candangão 2023 sendo de dentro dos limites territoriais do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais ficaram pela primeira vez em 22 anos sem um representante no futebol brasiliense.
A tradição criada no torneio distrital abre uma lacuna para a rara ausência de representantes goianos e mineiros. O Luziânia, por exemplo, vive uma situação curiosa: tem jogos em seu estádio na corrente edição da primeira divisão, mas está ausente. O clube ao sul do Quadradinho caiu como lanterna em 2022 e tem, no Estádio Serra do Lago, um refúgio para as formações da capital atuarem com poucos campos disponíveis.
Na edição corrente da elite, o Santa Maria tem mando de campo na cidade goiana e o Gama fará o mesmo pela primeira vez neste sábado (4/3), diante do Ceilândia. De acordo com a gestão do time, a instituição não recebe dinheiro dos duelos no campo local. A Secretaria de Esportes do município foi procurada, mas não respondeu sobre o uso do estádio. O espaço segue aberto para manifestações.
Recomeçando do zero, a prioridade do Luziânia será os atletas das localidades próximas para buscar subir de volta à elite, confirmando participação na Segundinha deste ano. “Segundo a presidência, usaremos jogadores da região e a intenção é subir. Na verdade, o clube não tem nada no que diz respeito à estrutura. O último presidente (Armelindo Felício) deixou várias dívidas trabalhistas, em torno de um milhão de reais”, aponta José Egídio Lima, presidente do conselho.
O gestor descreve como o trabalho anterior impactou nos resultados negativos e no descenso, complicando o novo início e a tradição futebolística da única equipe de fora da capital a ser campeã do Candango, em 2014 e 2016. “Foi uma decepção grande pela administração desastrosa do presidente. Montou um time frágil, com estrutura de time amador, sem nada para os jogadores, em um estado precário, onde nem os funcionários eram pagos. A consequência foi o rebaixamento: o desastre foi iminente e aconteceu. E depois ele (ex-presidente) largou o barco”, dispara.
Integrante mineiro frequente na primeira divisão, o Unaí busca superar os desafios de sempre para retomar a representatividade após a queda na rodada final da edição passada, como explica o presidente, Major Elias Andrade de Oliveira. “O Unaí sempre sofreu com o campeonato brasiliense. Todos os anos procuramos errar o mínimo para continuar na elite do Candangão. Porém, em 2022, falhamos na contratação da comissão técnica e ao tentarmos corrigir não foi o bastante para nos livrar do rebaixamento. A torcida sofreu e não assimilou esta pancada”, diz o executivo.
Voltar a disputar a Segundinha apenas será possível, para a diretoria, com aporte local: “Precisamos voltar com muita vontade e organização para voltarmos à primeira divisão.
Sabemos que não poderemos errar novamente e procuraremos apoio com os nossos torcedores e empresários da cidade de Unaí. Sabemos que se tivermos um bom planejamento e um pouco de recursos financeiros e humanos conseguiremos o acesso”, destaca. O oficial ainda informou que o Estádio Urbano Adjuto está com o gramado em boas condições, sendo mantido pela prefeitura e pela Secretaria de Esportes.
Quem vivia situação mais precária entre os tradicionais clubes do entorno era o Formosa. Devido a uma grave situação financeira e institucional, o alviverde não participou sequer da segunda categoria em 2022, após um rebaixamento sem pontos em 2021 no Candangão. O presidente, Rodrigo Ferreira Barreto, esclarece a situação: “O Formosa está passando por uma reestruturação administrativa e financeira onde estamos pagando algumas pendências e, administrativamente, montamos um conselho com várias pessoas que possam ter conhecimento técnico em cada função”.
Apesar das dificuldades enfrentadas para reajustar as boas condições, a ideia é concorrer na Segundinha 2023. “Pretendemos disputar a segundinha, mas com a estruturação que estamos fazendo, precisamos de um tempo para fazer tudo certo. Não adianta fazer algo na correria, é um custo alto e a gente está correndo atrás disso: de corrigir dívidas, de parcerias para que a gente consiga montar um time competitivo e assim fazer com que o Formosa volte ao lugar em que deveria estar”, diz o representante, explicando os passos a seguir.
Um auxílio para a equipe da fronteira nordeste do DF seria a concessão do Estádio Diogo Francisco Gomes. Entretanto, a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) não buscou este campo para partidas deste Candangão. “Não tivemos contato da federação para ter jogos aqui. O Diogão é um estádio que, hoje, precisa de algumas pequenas reformas, mas o campo está bom, e é um local agradável, no centro da cidade e que pode ser, sim, utilizado por times que precisem”, diz Rodrigo.
O grande impacto da queda de um time de apelo regional é na sua população, desamparada pela ausência em um certame de caráter maior. “Para a cidade é muito importante, porque trazia ao formosense a alegria do futebol, como uma das coisas mais importantes que nós temos. O povo enchia o nosso estádio. Com essa ausência, há um impacto muito grande porque há apenas o futebol amador. A gente vai fazer um trabalho ‘de formiguinha’, mas consciente, honesto e competente, para conseguir montar um time forte para a segunda divisão e assim subir e fazer o mesmo na primeira divisão”, almeja o presidente.
*Estagiário sob supervisão de Marcos Paulo Lima