CAPOEIRA

Conheça Erick Maia, o candango que é protagonista da arte marcial no país

Aos 25 anos, o talento forjado no DF desponta como um dos destaques da capoeira nacional, detém o cinturão da primeira edição do torneio Volta do Mundo — Bambas e serve de inspiração para atletas da tradicional modalidade

Victor Parrini
postado em 18/03/2023 07:00 / atualizado em 18/03/2023 10:07
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Pode o gingado candango conquistar o Brasil? Erick Maia mostra que sim. Aos 25 anos, o talento forjado no Distrito Federal desponta como um dos destaques da capoeira nacional, detém o cinturão de campeão da primeira edição do torneio Volta do Mundo — Bambas e serve de inspiração para atletas praticantes da tradicional modalidade, ainda que pouco explorada em alto rendimento.

Erick Maia é um dos principais expoentes da capoeira no Brasil. Embora seja um esporte enraizado na sociedade brasileira, ainda carece de grandes competições, investimentos e, claro, visibilidade. O atleta da capital federal faz parte de um movimento em busca de colocar o esporte em evidência e no mapa dos grandes torneios.

Em agosto do ano passado, o candango foi campeão da primeira edição do Volta do Mundo - Bambas. O evento reuniu os oito melhores capoeiristas do país. Além do reconhecimento, a conquista rendeu a Erick o prêmio de R$ 5 mil além do cinturão inédito, entregue pelo lutador de UFC Thiago Marreta. Para faturar o título, Maia superou, na final, o mestre Maurício Japão, campeão mundial nagô. Antes, ele havia vencido Arthur Fiu e Felipe Cica.

"Eu almejava muito que tivesse uma competição muito grande na capoeira, que oferecesse oportunidade aos atletas. Nunca imaginei que poderia me tornar uma referência, parecia um sonho muito distante. Eu conhecia vários dos atletas participantes, admirava todos. Eu fui o mais jovem, todos eram bem mais experientes. Fui agraciado de ser o campeão da primeira edição. Fico grato demais por isso", compartilha Erick.

Embora seja dono de uma técnica apurada, chegar ao topo não representou um desafio fácil para Erick. Tudo começou na infância. Filho de mestre de capoeira, morou em uma academia na qual o pai ministrava cursos. "Tive o primeiro contato com a capoeira aos dois anos. Eu ficava o dia todo nas aulas e, desde então, nunca mais parei. Fiquei na capoeira a vida toda e conheci outros esportes", lembra Erick.

O esporte mudou a vida do candango. Formado em educação física, Erick Miranda é um dos proprietários e professores do Macaw Crossfit, próximo ao Taguaparque, em Taguatinga. Polivalente, se aventura em outros esportes. "Sou atleta profissional de MMA e tento praticar outras modalidades. Tive contato com o karatê, sou praticante de jiu-jitsu. Aluno do sensei Rani Yahya, que está há mais de 15 anos no UFC. É ele quem coordena minha carreira no MMA", explica.

Para Erick, viver do esporte é gratificante, mas cobra responsabilidade. O campeão relata que concilia os treinamentos com o trabalho. "Dou cerca de oito aulas por dia e consigo treinar de duas a três vezes por dia. Dependendo, divido as atividades entre capoeira, jiu-jitsu e sempre faço a preparação física no crossfit", comenta.

O campeão do DF participou de diversos torneios de crossfit e profissionais do MMA. Dono de três vitórias no cartel profissional na categoria, ele tem o sonho de alcançar as principais ligas das artes marciais mistas. Porém, um desafio particular está no radar de Erick. No meio do ano, retornará ao Volta do Mundo - Bambas para defender o cinturão e faturar os R$ 10 mil em premiação. O adversário será Arthur Fiu, campeão da segunda edição da competição.

A disputa ainda não tem data e arena confirmadas, mas é certo que acontecerá no Rio de Janeiro, em junho ou julho. Os organizadores do evento se esforçam para promover um show, em uma praça emblemática da Cidade Maravilhosa.

"Estou desde o começo do ano treinando bem e firme, sem lesões. As expectativas são as melhores. Quero chegar lá e concluir a missão de manter o cinturão em Brasília. Conto com o apoio de todos os amigos e mestres para deixarmos o cinturão em casa", convoca.

Engajamento

Apesar da popularidade no Brasil, a capoeira ainda não tem o mesmo prestígio esportivo de outras modalidades. Não é uma disputa olímpica. Muito menos premia ou oferece tantas oportunidades. O intuito é resgatar o orgulho da capoeira e diminuir a migração e a desistência de atletas para outros esportes.

"O meu sonho sempre foi ser atleta profissional. Eu queria viver do esporte. Temos várias histórias de pessoas que começaram na capoeira e, por falta do estímulo de competição e poder vislumbrar um futuro na categoria, migraram para outras modalidades", esclarece Erick Maia.

Pensando no desenvolvimento da capoeira dos atletas do cenário, em agosto do ano passado, surgiu o Volta do Mundo. A proposta é o torneio se tornar um divisor de águas e atrair fãs e praticantes de outras lutas, como o MMA e o jiu-jitsu. O maior produto do projeto é o Bambas, que reúne os principais atletas do cenário, além das seletivas, responsável por classificar capoeiristas para a grande disputa.

Além de trabalhar com competidores mais experientes, o Volta do Mundo também é responsável por incentivar futuros capoeiristas com a categoria juvenil masculino e feminino para atletas de 15 a 17 anos.

"Vejo a capoeira no Brasil com um potencial gigantesco de crescimento. Muitas pessoas não conhecem direito, não valorizam tanto a nossa cultura, então, não têm noção do quanto a capoeira pode ser benéfica. Ela contribui para qualquer modalidade, com força, agilidade. Acredito que a capoeira vai estourar", projeta Erick.

Para o idealizador do projeto, Saverio Scarpati, notar a evolução do Volta do Mundo e ajudar no desenvolvimento de atletas e da modalidade é um privilégio. "Quando fizemos o primeiro, não sabíamos como a coisa seria. Evoluiu muito mais rápido que pensamos, pois a comunidade abraçou e nos fez continuar. Nesse ciclo virtuoso, sentimos que estamos deixando uma contribuição para o mundo da capoeira, evolução dos atletas e abertura do mercado de trabalho em diversas direções. A ideia é defender o caminho, o legado e construir o futuro", discursa.

Diretor técnico do Volta do Mundo, Luis Felipe Tropeço fala sobre a importância de ajudar pessoas de diferentes formas a partir do projeto. "É acreditar que esse processo possa dar certo. Estamos na terceira edição e não pretendemos parar. Temos muito prazer de fazer isso pela nossa capoeira. Não estamos resgatando, estamos dando mais orgulho para o capoeirista se sentir beneficiado no nosso esporte", ressalta.

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