Quatro minutos podem mudar a vida de uma pessoa. Sobretudo, em casos de tomada de decisões que podem impactar outros milhões de corações, como em uma Copa do Mundo. O fator psicológico foi uma das pautas da eliminação brasileira para a Croácia no mundial do Catar e ganhou espaço nas redes sociais e nos noticiários. Preocupada com a saúde mental dos atletas, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) promete rever protocolos para melhor atender jogadores de todas as categorias.
No início do mês, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, se reuniu com o médico Jorge Pagura, chefe da Comissão Nacional de Médicos do Futebol (CNMF) e abriu caminho para a padronização no atendimento psicológico aos atletas, de todas as categorias, sobretudo, da equipe principal masculina. O intuito é que a pauta saia da subjetividade e se torne objetiva, rotina e até conste nos balanços financeiros como investimento e serviços prestados aos jogadores.
A entidade máxima do futebol nacional busca ampliar o auxílio aos boleiros da categoria principal, a exemplo do que já é realizado nas divisões de base e também nas equipes femininas, com o suporte da CNMF. É um assunto importante, pois, a última vez que a CBF ofereceu suporte mental aos atletas do time principal foi na Copa do Mundo de 2014, quando Luiz Felipe Scolari era o comandante. A gestão dos trabalhos há nove anos foi feita pela psicóloga Regina Brandão.
Para a psicanalista esportiva Amanda Ciaramicoli, os problemas em um elenco, sejam pessoais ou gerais, são mais facilmente identificados com a ajuda de um atendente em comum. "Quando um profissional atende um time de maneira coletiva, ele consegue identificar alguns pontos extremamente importantes no perfil de cada atleta e o que isso pode acarretar no grupo. Até mesmo em momentos mais descontraídos conseguimos identificar muito desses atletas. Trabalhos em grupo ajudam nessa identificação", explica
O bem-estar da mente dos boleiros faz a diferença à medida que os patamares de competição são maiores e em que cada atleta domina esse fator. "O esporte começa no cérebro. Se pensarmos sobre a maneira que um atleta atua em campo, entende-se que a maior parte dessa atividade tem início na mente. O atleta, sabendo trabalhar com sua mente de maneira favorável, se conhecendo e sabendo quais são suas ferramentas internas, além de melhor performance, consegue suportar melhor o peso de momentos, como uma Copa do Mundo", relata a especialista.
A interferência nesse aspecto, a partir dos comandantes das equipes, também pode ser determinante para os resultados em campo, segundo Ciaramicoli. "O técnico tem o elenco nas mãos e a maneira que ele conduz seus treinos faz toda a diferença no engajamento do atleta. No caso da mente e do comportamento, se aplica da mesma forma. O treinador entender o perfil de cada um, o ajudará a extrair o melhor. E não necessariamente o perfil acolhedor vai bem para todos", avalia.
O controle da mente é quesito direto para a capacidade de cada atleta em momentos decisivos, com a gestão da pressão sendo uma questão individual. "O treino mental deve ser voltado desde a formação do atleta para, primeiro, que ele entenda o seu perfil e, em segundo, consiga lidar com a pressão que o futebol impõe. De forma geral, a pressão quando não controlada vai gerar no atleta impactos físicos negativos como o aumento de sudorese, batimentos cardíacos acelerados e enrijecimento muscular, por exemplo, retardando a desidratação, gerando cansaço e dificultando os movimentos", destaca a psicanalista.
Assunto já divergiu
Tanto na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, e na disputa do Catar, no ano passado, o Brasil não levou psicólogos. Isso porque o protocolo interno da CBF oferece autonomia para as comissões técnicas avaliarem a necessidade ou não de um profissional da área.
A explicação nos bastidores era que o então técnico Tite direcionava atenção aos assuntos emocionais no dia a dia de treinamentos. As preleções antes das partidas também tinham orientações para a parte mental, focada em encorajar e apoiar os jogadores. O ex-comandante da Seleção acreditava que a presença de um psicólogo em uma disputa curta, como foi a Copa do Mundo, não surtiria efeito, pois o tempo para que os atletas criassem vínculos de confiança com um profissional seria limitado.
Embora Tite percebesse que o tempo era escasso, os próprios jogadores da Seleção Brasileira avaliaram que o acompanhamento psicológico às vésperas ou durante os compromissos na Copa do Mundo seriam importantes. Não à toa, boa parte dos jogadores realizavam preparação mental com profissionais particulares, como o lateral-esquerdo Alex Telles, o meia Everton Ribeiro e o atacante Rodrygo.
*Estagiário sob a supervisão de Victor Parrini
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