Morreu nesta quinta-feira o surfista brasileiro Márcio Freire, de 47 anos. O baiano surfava na praia do Norte, em Nazaré, Portugal, quando sofreu uma queda na água. Segundo a Polícia Marítima, ele foi resgatado por um jet ski e chegou à areia com um quadro de parada cardiorrespiratória. Houve tentativa de reanimação, mas ele não resistiu e morreu ainda na praia.
Márcio era especializado em ondas gigantes e uma das referências do surfe brasileiro. Ao lado de outros dois amigos baianos, Danilo Couto e Yuri Soledade, formava o trio "Mad Dogs" ("Cachorros Loucos", em tradução livre). A alcunha surgiu nas praias do Havaí e se deu pelo fato de eles encararem as ondas gigantes sem coletes salva vidas ou auxílio de jet skis.
Ao lado dos dois amigos, Márcio foi um dos pioneiros no surfe de ondas gigantes, encarando especialmente a temida Jaws, na ilha havaiana de Maui. O trio inspirou futuras gerações de surfistas que também se notabilizaram por encarar o mesmo desafio, como Maya Gabeira e Pedro Scooby.
"Era pura coragem guiada pela vontade de descer uma onda enorme", disse Márcio, em entrevista de 2017 ao site da Red Bull. "Nada nos forçou a fazer o que fizemos. Era tudo para nós mesmos, para nossa satisfação pessoal. Eu por exemplo, nunca tive patrocínio ou dinheiro envolvido na minha jornada."
A trajetória de Márcio, Yuri e Danilo virou tema do documentário Mad Dogs, do diretor Roberto Studart. A obra fala sobre o pioneirismo do trio em ondas gigantes e o surfe na Jaws.
Homenagens
O mundo do surfe homenageou, nesta sexta-feira (6), o lendário surfista brasileiro Márcio Freire. No Instagram, o também surfista brasileiro Thiago Jacaré prestou uma homenagem ao amigo, descrevendo-o como "mais que um ídolo" e um "verdadeiro herói".
"Perdemos um dos nossos", escreveu o português Nic von Rupp na mesma rede social.
"Hoje eu o vi surfando todo o dia em Nazaré com um sorriso enorme. Esse sorriso enorme é como me vou lembrar dele", acrescentou.
A cada inverno, a Praia do Norte é invadida por surfistas. Esta praia oferece condições excepcionais para surfar ondas gigantes, em razão do fenômeno geológico chamado "canyon de Nazaré": uma falha submarina de 170 km de extensão por 5 km de profundidade, na qual a ondulação do oceano Atlântico se precipita antes de ser empurrada para a superfície até chegar à costa.
Foi ali que o alemão Sebastian Steudtner bateu o recorde da maior onda já surfada, ao descer um paredão de 26,2 metros em 29 de outubro de 2020.
Vários acidentes foram registrados no local, desde que o americano Garett McNamara revelou-o para a comunidade de surfistas de ondas gigantes, no começo dos anos 2010, mas nenhum tinha sido fatal até ontem.