Entre as dezenas de armários dos vestiários da Vila Belmiro — o icônico estádio do Santos, onde o corpo de Edson Arantes do Nascimento está sendo velado desde ontem para os torcedores e autoridades prestarem as últimas homenagens (leia mais na página 20) —, um se destaca pela mística de ter abrigado os pertences do maior esportista do mundo e por ser o centro de um mistério. Por muitos anos, o espaço em questão pertenceu a Pelé. E, na última vez em que foi utilizado pelo Rei do Futebol, no longínquo ano de 1974, foi lacrado pelo astro com um enigma que perdura até os dias atuais.
Em 2 de outubro daquele ano, Pelé jogou a última das 1.116 partidas com a camisa do Santos — e a de número 210 na Vila Belmiro — e encerrou uma história de 18 anos, seis meses e 28 dias atuando exclusivamente pelo clube paulista. Em campo, o alvinegro praiano venceu a Ponte Preta, por 2 x 0, com gols de Cláudio Adão e Geraldo (contra), pelo Campeonato Paulista. Mais de 20 mil torcedores estiveram no estádio para acompanhar a partida.
Ao lembrar do jogo, o imaginário popular visualiza o Rei do Futebol ajoelhado no centro do gramado da Vila Belmiro de braços abertos e a bola no chão após ser substituído no primeiro tempo. Entretanto, a magia da história está nos bastidores da partida. No vestiário, bastante emocionado, Pelé se ajoelhou em frente ao seu armário. Por lá, ficou por alguns minutos, depositou algum objeto, o trancou e agradeceu aos céus pela passagem.
Ao deixar a Vila Belmiro pela última vez como profissional do Peixe, em uma viatura da Polícia Militar que o aguardava na porta do estádio, levou a chave no bolso. Desde então, passados mais de 48 anos, ninguém ousou abrir o gabinete do armário e revelar o segredo místico. Nem mesmo durante a reforma dos vestiários, realizada em 2013, o cofre foi destrancado. O espaço apenas ganhou uma roupagem especial. A mística da história conta que Pelé deixou algo para dar sorte ao Santos enquanto permanecesse lacrado na casa do alvinegro praiano.
Com a morte do Rei do Futebol na última quinta-feira por falência múltipla de órgãos provocada por um câncer no cólon, a história voltou à tona com uma dúvida: o Santos deve, ou não, revelar o segredo deixado por Pelé na Vila Belmiro. Amigo e ex-companheiro de time, Clodoaldo crê que sim. "Não sabemos o que tem. Toda vez que se perguntou para o próprio Pelé, ele falou não ser nada. Não sei como vai ser, mas tem que acabar com esse suspense para sabermos o que ele deixou de lembrança para nós, torcedores", pediu, em conversa com jornalistas no velório.
O atual presidente do Santos, Andrés Rueda, garantiu que o clube não tem uma cópia da chave do gabinete utilizado pelo camisa 10 ao longo da carreira na Vila Belmiro. A decisão de abri-lo, segundo o dirigente, será tomada com familiares do Rei. "O armário está lá desde 1974, quando Pelé jogou contra a Ponte Preta. Ele guardou um objeto e levou a chave. Reza a lenda que é para dar sorte ao time do Santos. Vamos conversar nos próximos dias com a família para ver qual é o desejo deles, se continua com o mistério ou se o desejo é abrir e ver o que tem dentro", comentou à Gazeta Esportiva.
A mística popular em torno da história diz que, atualmente, os objetos deixados por Pelé no gabinete teriam valor suficiente para resolver todos os problemas financeiros do Santos. Conhecedores da história, os santistas mais saudosistas tratam o espaço utilizado pelo Rei do Futebol no vestiário como templo para cultuar o talento dele com a bola nos pés. Na Vila Belmiro, inclusive, o armário é um dos pontos altos durante as visitações dos torcedores dos mais diversos times e locais do mundo ao estádio do alvinegro praiano. Em cada temporada, cerca de 50 mil pessoas fazem o passeio nas dependências da praça esportiva.
Se depender da vontade do Rei do Futebol expressada em vida, o segredo deve durar mais tempo. Tanto é que, em 48 anos, o armário nunca teve o conteúdo revelado por vontade dele. "Ele se aposenta no Santos, e a diretoria da época guarda esse objeto dentro de uma caixa trancada. As palavras do Pelé foram bem simples: enquanto o Santos manter esse objeto, o clube sempre estaria com sorte ao seu redor", disse o curador do acervo do alvinegro, Rogério Zilli, à TV Globo.
A mística do armário no vestiário da Vila Belmiro é apenas mais uma deixada pelo maior jogador de futebol de todos os tempos. Assim como seus grandes títulos, dribles e gols marcados com as camisas do Santos e da Seleção Brasileira, os efeitos da história ainda prometem mexer bastante com as emoções e o imaginário dos torcedores apaixonados pelo esporte. Um enigma capaz de, assim como a história do Rei do Futebol, se perpetuar ao passar dos anos.
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