Adeus ao rei

Correio relembra homenagem de Coutinho a Pelé em entrevista exclusiva

Em 2010, Coutinho contou ao Correio por que foi o melhor parceiro de ataque do Rei e admitiu uma crise de relacionamento entre os dois. A dupla "Cosme" e "Damião" do futebol aprendeu a dividir espaço na área compartilhando quarto em pensão

Marcos Paulo Lima
postado em 07/01/2023 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Antônio Wilson Honório estava na posição errada no dia certo. Em 1955, Coutinho foi escalado como zagueiro do Palmeirinhas de Piracicaba na preliminar contra o XV, adversário do Santos na partida principal pelo Campeonato Paulista. O menino de 12 anos fez o gol da vitória em meio aos gigantes. Foi a senha para a sua contratação imediata pelo então técnico do alvinegro praiano, Luís Alonso Péres, o Lula.

"Cotinho", apelido de família, ganhou no Santos a letra "u". Virou Coutinho. Cresceu, madureceu, comeu a bola e ganhou vaga no banco do Santos. De lá, aprendeu a enxergar o jogo e evoluiu muito invejando uma dupla que ele mesmo se encarregaria de destruir. "O Pelé jogava com o Pagão, de quem eu fui um fã incondicional. Eu prestava atenção no jeito de jogar do Pagão, mas eu sentia que o Pelé ficava fixo na área e o Pagão saía muito para jogar", lembrou Coutinho (1943-2019) numa entrevista Especial Pelé 70 Anos do Correio em 2010.

A partir dali, Coutinho passou a cavar o seu lugar no time. E não ao lado de qualquer um. A meta era atuar com um menino que se tornaria rei. "Quando eu entrava, o Pelé crescia porque ele vinha de trás, ganhava espaço para jogar. Por outro lado, eu tinha problema com a balança, então era mais fácil para mim jogar dentro da área, paradinho ali, e deixar o Pelé solto para se movimentar fora da área, como ele gostava. Então, o que aconteceu é que a minha entrada na equipe favoreceu o estilo dele. Sem falsa modéstia, éramos dois jogadores inteligentes: um completava o outro", orgulhava-se.

Modéstia era palavra proibida no vocabulário do marrento Coutinho. Sincerão, o craque não deu meia volta ao exaltar o dueto com Pelé: "Tínhamos raciocínio rápido. Não foi uma dupla que funcionou em um ou dois jogos. Deu certo nos 16 anos em que jogamos juntos no Santos e nas oportunidades em que formamos o ataque da Seleção Brasileira. A gente se dedicava, treinava, não tinha pra ninguém", gabava-se Coutinho. "O Santos costumava treinar de noite, até 21h. O Pelé fazia hora extra até 23h. Impressionante como era compenetrado."

Gol de Placa

A maior lembrança de Coutinho ao lado de Pelé é o gol de placa marcado na Rua Javari. O cineasta Aníbal Massaini tentou reproduzir a obra-prima não documentada do Rei no filme Pelé Eterno. Mas segundo quem deu o último toque para o camisa 10 antes do início da sequência de chapéus, não conseguiu. "Não adianta tentar simular como foi. O que eu sempre digo é o seguinte: o gol só foi lindo ao vivo, real, da maneira como aconteceu", sorriu Coutinho.

O bom humor de Coutinho só se alterou ao falar de um possível estremecimento no relacionamento dele com Pelé. Ele assume que realmente houve um problema, só não quis revelar qual. "Inventaram coisas sobre nós, mas nos encontramos para desfazer o mal-entendido. Nos perdoamos, é passado", ponderou na entrevista ao Correio.

À época, Coutinho provou que a amizade estava intacta. "Quando a gente se encontra é uma alegria. Um dias desses fui à casa dele gravar um vídeo. Os sarros, os sorrisos, o carinho, tudo continua como antes." A dupla está refeita. Lá no céu.

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