Adeus ao rei

"Pelé simboliza tudo aquilo que é a ascensão da espécie humana", diz Lula

Santos parou para acompanhar o sepultamento do maior jogador de futebol de todos os tempos. O presidente da República se uniu à família e aos amigos de Pelé para prestar a última homenagem ao brasileiro que fez o mundo se curvar a sua arte

Raphael Felice
postado em 04/01/2023 03:55
 (crédito:  CAIO GUATELLI/AFP)
(crédito: CAIO GUATELLI/AFP)

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi ao velório de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, na casa do Santos Futebol Clube, o Estádio Urbano Caldeira — Vila Belmiro —, ontem, em Santos (SP). Ao lado da esposa, Rosângela Silva, a Janja, e do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), Lula assistiu à missa celebrada em memória do Rei do Futebol em área próxima ao caixão, reservada à família de Pelé e autoridades.

Lula cumprimentou parentes e amigos de Pelé presentes e deixou o clube alvinegro às 9h34. Ele não acompanhou o cortejo e o sepultamento do Rei, à tarde, no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, também na cidade do litoral paulista.

Assim como fez nas redes sociais no dia da morte do atleta, em 29 de dezembro, o presidente da República afirmou em entrevista à Santos TV, que Pelé fez muito pelo Brasil, e lembrou das inúmeras vezes em que foi a estádios de futebol, como o Pacaembu, só para ver o Rei jogar. "Todos nós devemos um pouco ao Pelé, e o Brasil deve muito", disse Lula.

Torcedor do Corinthians — um dos maiores rivais do Santos —, Lula contou que assistiu a muitos jogos do "Clássico Alvinegro", e que viu Pelé marcar muitos gols em seu clube do coração. Para o presidente, o maior craque de todos os tempos tinha "obsessão" em vencer os corintianos e, ainda assim, era uma prazer ver o "espetáculo" que proporcionava aos amantes do futebol.

"Ele obrigava a gente a ir em qualquer lugar assistir futebol porque, muitas vezes, a gente não gosta só do nosso time, a gente gosta de alguém que dá espetáculo, alguém que é brilhante. Pelé simboliza tudo aquilo que é a ascensão da espécie humana. Tudo aquilo que a gente pôde perceber da ascensão do ser humano foi o Pelé."

Pelé era conhecido e exaltado no mundo inteiro, inclusive por celebridades e autoridades. Encontrou-se com, pelo menos, 11 chefes de Estado, como presidentes dos Estados Unidos e a rainha Elizabeth — de quem recebeu título de Cavaleiro da Coroa Britânica, equivalente a um "sir". Parou uma guerra na Nigéria, em 1969, e recebeu a bênção de três papas: Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

Diante de tanto "brilhantismo", Lula afirmou que Pelé nunca se deslumbrou com a notoriedade que conquistou e nunca deixou de ter humildade.

"Era um cidadão comum. Ele não se deixava levar pelo brilhantismo dele e pelo apogeu, nos maiores momentos de glória dele, quando se encontrava com a rainha da Inglaterra, quando ganhava um prêmio, ele era o mesmo de quando dava uma entrevista ou encontrava uma criança para conversar", disse Lula. "Pelé é uma figura muito especial. A gente não pode ficar comparando Pelé a ninguém porque não tem ninguém comparável a Pelé em se tratando de jogador de futebol, de ser humano e de comportamento. Ele foi muito para o Brasil, foi muito para Santos, para a cidade de Santos, ele foi muito para São Paulo e ele foi muito para o Lula" , declarou o presidente.

O presidente da República ainda sugeriu a produção de mais um documentário sobre o ídolo, que já foi personagem de muitas produções audiovisuais — a mais conhecida, o longa-metragem Pelé Eterno (2004), de Aníbal Massaini Neto. Essa nova produção, para Lula, deveria mostrar às próximas gerações não só o jogador Pelé, mas a pessoa que ele foi.

"Além do futebol, ele vai ensinar um pouco de caráter, de humildade, de dignidade e, quem sabe, vai ensinar um pouco as pessoas a serem mais humanistas, mais solidárias, mais fraternas. Tudo isso que Pelé foi. Por isso, acho que o mundo deve ao Pelé muita coisa, sobretudo a dignidade de um homem que nasceu pobre, negro, em um país onde o preconceito é muito vivo, e o Pelé nunca se importou com isso. Ele sempre soube ser Pelé, o melhor e mais humilde."

Atração turística

O presidente Lula não foi ao cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, onde o corpo do eterno camisa 10 foi sepultado, um espaço cercado pela natureza nas áreas comuns, com pequenos lagos com carpas, patos, além de um aviário com araras e bosques com espécies nativas da Mata Atlântica. No térreo, há um museu de automóveis antigos.

Rodeado por antigas casas e situado em frente a uma acanhada igreja evangélica, o cemitério também tem serviço de cremação, cinerário, ossário, mausoléu e tributum. O bairro residencial na encosta do morro do Marapé nunca havia recebido tanta gente.

A ideia, depois do enterro de Pelé, é que o memorial se torne atração turística de Santos. O espaço será aberto ao público para visitas dias depois da cerimônia.

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