Depois da Copa do Mundo de 2022, encerrada no domingo com o título da Argentina, o Catar quer se reforçar como "líder mundial no esporte" e pretende sediar os Jogos Olímpicos de 2036, embora o caminho para isso ainda pareça longo e cheio de obstáculos.
O emirado recebeu várias críticas nos últimos anos durante os preparativos para o Mundial, desde questões relacionadas aos direitos humanos até outras ligadas ao meio ambiente. Do outro lado da balança, o país pode comemorar o sucesso de organização do evento - com um custo estimado de US$ 300 bilhões - e as infraestruturas construídas.
Doha apresentou candidaturas aos Jogos Olímpicos de 2016, 2020 e 2032, sem ser eleita. O Catar planeja diversificar sua economia para além da energia e, para isso, conta com o esporte e o turismo, o que seria o motivo para uma nova campanha para 2036.
"O Comitê Olímpico Internacional (COI) não quis e creio que depois da Copa do Mundo vai ser exatamente igual", adverte Jean-Loup Chappelet, especialista do movimento olímpico da Universidade de Lausanne (Suíça).
"Contra qualquer outra candidatura, o Catar não tem nenhuma chance", estima Chappelet, ressaltando que agora "o COI busca evitar os investimentos que façam os orçamentos dispararem" e demarcar o respeito aos direitos humanos com a cidade anfitriã.
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"Gol contra"
A mudança de data do jogo de abertura da Copa do Mundo a três meses da competição foi para muitos uma mostra de "falta de profissionalismo". Também a mudança de postura sobre a venda de cerveja nos arredores dos estádios a apenas dois dias do início do evento. Para Chappelet, esses são "erros" que podem pesar na hora de avaliar uma candidatura olímpica.
O Catar e a Fifa "marcaram vários gols contra", disse à AFP Michael Payne, diretor de marketing do COI entre 1983 e 2004, embora tenha admitido que a questão do álcool "foi rapidamente esquecida" e "a maioria das pessoas, vendo o que o Catar fez, destaca que não foi ruim.
Como no caso da Copa do Mundo, realizada no final do ano para escapar das altas temperaturas do verão no Catar, os Jogos Olímpicos em Doha precisariam de uma mudança nas datas em relação aos habituais meses de julho e agosto. Existem precedentes na história, como por exemplo nos Jogos de Tóquio-1964 (10-24 de outubro) e os de Seul-1988 (17 de setembro-2 de outubro).
Sete dos oito estádios do Mundial de futebol eram climatizados e o responsável por seu sistema de ar condicionado considera "viável e possível em termos de engenharia" climatizar, por exemplo, o percurso da maratona.
Saud Abdulaziz Abdul Ghana, apelidado de "Dr. Frio", afirmou que ainda não foi contactado em relação a um projeto olímpico.
"Candidaturas conjuntas"
O Catar não é o único país na região que sonha em ser sede olímpica. A Turquia já tentou cinco vezes e a Arábia Saudita estuda uma dupla candidatura para a Copa de 2030 e os Jogos Olímpicos de 2036, que não teriam seus anfitriões escolhidos até antes de 2025, segundo diversas fontes.
Danyel Reiche, professor da Universidade Georgetown de Doha, afirmou à AFP que o Mundial de 2022 "revitalizou a união árabe e o pan-arabismo", depois do bloqueio diplomático imposto ao Catar por parte de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito entre 2017 e 2021. "Mas por quanto tempo?", se perguntou.
Reiche defende "candidaturas conjuntas para os eventos esportivos continentais e mundiais (...) que poderiam ter como dividendo uma paz duradoura".
A primeira incursão de destaque do emirado nos grandes eventos esportivos se remonta aos Jogos Asiáticos de 2006. Será sede da próxima Copa da Ásia de futebol em 2023, do Mundial de natação em 2024, do Mundial de tênis de mesa em 2025 e os Jogos Asiáticos em 2030. Em 2015, recebeu o Mundial de handebol e em 2019 o de atletismo.
O Catar também é sede de uma etapa do Mundial de motociclismo desde 2004 e vai receber a Fórmula 1 a partir de 2023. O país também estabeleceu como meta ser "o número 1 no automobilismo", segundo Akbar Al Baker, diretor da Qatar Tourism.
O fundo de investimentos esportivos catari QSI, proprietário do Paris Saint-Germain e acionista do Braga de Portugal, lançou este ano um novo circuito profissional de pádel, o Padel Premier.
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