Seis anos, um título conquistado e duas participações em Copas do Mundo. A queda inesperada para a Croácia no Mundial do Catar, nos pênaltis após empate na prorrogação, esta sexta-feira (9/12), deu fim ao período do técnico Tite à frente da Seleção Brasileira. O encerramento do ciclo não está diretamente ligado ao resultado da partida diante dos europeus. Antes mesmo do início do torneio internacional, o treinador havia anunciado a despedida do cargo.
A expectativa, porém, era sair de cena com o hexacampeonato mundial. Tite foi contratado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em junho de 2016 na gestão Marco Polo Del Nero para ocupar o cargo de Dunga. Naquele período, o time tupiniquim vinha de um longo projeto de baixa. Na Copa de 2014, em casa, foi eliminado com a acachapante derrota por 7 x 1 para a Alemanha. Nas edições de 2011, 2015 e 2016 da Copa América, os brasileiros passaram longe de qualquer expectativa de título.
Nas Eliminatórias, a Seleção estava cambaleante. Porém, sob o comando de Tite, que havia sido campeão do Campeonato Brasileiro pelo Corinthians em 2015, o time foi reencontrando o bom futebol. O time verde e amarelo engatou uma sequência de 12 partidas de invencibilidade (10 vitórias e dois empates) e carimbou o passaporte para jogar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, sem nenhuma dificuldade. O desempenho encheu o país de expectativa para o Mundial.
A esperança nacional era justificada pelos números. Nos dois anos antes da estreia na Copa de 2018, o Brasil havia sido derrotado apenas uma vez: 1 x 0 para a Argentina, em um amistoso, em junho de 2017. No Mundial, a Seleção avançou com certa tranquilidade em um grupo com Suíça, Sérvia e Costa Rica. Nas oitavas de finais, bateu o México. Porém, nas quartas de final, a equipe não manteve o desempenho, perdeu para a Bélgica e acabou eliminada de forma precoce.
O resultado diante dos europeus na Rússia, porém, não abalou a confiança da alta cúpula da CBF no trabalho realizado por Tite. Com o desempenho bem avaliado internamente na entidade máxima do futebol e externamente entre os torcedores, o treinador ganhou um ciclo inteiro para chamar de seu. Nele, teve a missão de preparar o time verde e amarelo para a nova caça ao hexacampeonato, desta vez no Catar, em 2022. No período, vieram alegrias e algumas crises.
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Título da Copa América
Na temporada após a queda na Copa do Mundo, Tite reformulou o direcionamento do trabalho e faturou o seu único título no comando da Seleção Brasileira: a Copa América de 2019, disputada no Brasil. Mesmo sem Neymar, lesionado ainda na preparação para o torneio internacional, o técnico organizou o time canarinho e conquistou o título invicto na final contra o Peru. O ápice na competição, porém, foi na semifinal, quando a equipe eliminou a Argentina.
No período à frente da Seleção, Tite precisou trabalhar em meio a uma crise interna na CBF. A entidade teve quatro presidentes nesse tempo: Marco Polo del Nero, banido do futebol por corrupção, Coronel Nunes, Rogério Caboclo, afastado sob acusações de assédio sexual contra uma funcionários e, atualmente, Ednaldo Rodrigues. Em meio a essa turbulência, o treinador tentou blindar a equipe dos problemas, visando apenas conseguir bons resultados em campo.
Em 2021, porém, houve um ruído com a realização à toque de caixa da Copa América no Brasil em meio à crise da pandemia de covid-19. Insatisfeitos com a forma como a CBF conduziu o acolhimento ao torneio, rejeitado pela Argentina, os jogadores chegaram a cogitar um boicote à competição. A Seleção, contudo, entrou em campo normalmente. Porém, amargou um vice-campeonato no Maracanã, quando perdeu a final para a Argentina, por 1 x 0.
Caminhada até a Copa de 2022
No período de preparação para a Copa do Mundo, Tite teve a desvantagem de não conseguir testar o seu elenco contra os europeus, principais pedras no sapato nas eliminações de 2006, 2010, 2014, 2018 e, agora, em 2022. Além dos impactos da pandemia, os torneios de seleções realizados no Velho Continente nas Datas Fifa fecharam a bolha e deixaram o Brasil restrito a jogar contra países da América do Sul, do Norte, da África e da Ásia.
Mesmo assim, a Seleção chegou em alta no Mundial do Catar. Na primeira fase, garantiu a vaga no mata-mata de forma antecipada ao vencer as retrancas de Sérvia e Suíça. A derrota para Camarões causou uma leve turbulência pela decisão de utilizar reservas. Porém, a goleada sobre a Coreia do Sul, nas oitavas de final, reacendeu a esperança. A chama, porém, foi apagada de vez com a queda inesperada para a Croácia, nos pênaltis, novamente nas quartas de final do torneio.
Além de adiar, mais uma vez, o sonho do hexacampeonato, o tropeço deu fim melancólico à era Tite. “Derrota dolorida. Porém, em paz comigo mesmo. Fim de ciclo. Eu já havia colocado há mais de um ano e meio, não sou um cara de duas palavras. Não estava jogando para ganhar e, depois, fazer drama para ficar, quem me conhece sabe. Existem outros grandes profissionais”, ressaltou o treinador na última entrevista coletiva à frente da Seleção, após a eliminação no Catar.
Números
Em seis anos e meio, Tite disputou 81 partidas no comando da Seleção Brasileira e acumulou um aproveitamento total de 80,2% com 60 vitórias, 15 empates e apenas seis derrotas. A queda nos pênaltis para a Croácia, na frieza dos números, é contabilizada como uma igualdade. Eficiente, o ataque tupiniquim balançou as redes 174 vezes, enquanto o sistema de defesa do treinador foi vazado em outras 30 oportunidades. Agora sem técnico, o Brasil muda o foco para encontrar um substituto.